Outro Natal… A mesma guerra (por Felipe Sampaio)

Não foi por acaso que o Papa Francisco, em seu discurso de Natal, alfinetou “E como se pode falar de paz, se cresce a produção, a venda e o comércio das armas?”. Afinal, a guerra é um bom negócio.

Durante a pandemia de COVID19, por exemplo, a receita anual dos 100 maiores grupos do setor de defesa manteve-se acima de meio trilhão de dólares, concentrados em 15 países, enquanto a economia mundial diminuía mais de 3% (fonte: SIPRI, Estocolmo).

Antes da revolução industrial, as guerras tinham como propósito o acesso a recursos naturais, rotas comerciais e o expansionismo geopolítico. A partir do século XIX, a guerra firmou-se como um negócio em si. O boom da produção industrial possibilitou uma disparada da oferta (e eficácia) de produtos de defesa.

Esse progresso bélico destoa da realidade em um planeta onde, segundo Jeffrey Sachs, “Todos os anos mais de 8 milhões de pessoas morrem por causa da miséria” (O Fim da Pobreza, 2005).

Não é exagero imaginar que a desigualdade social financie as aventuras belicosas, por meio dos fluxos de concentração de riqueza nas mãos de investidores, inclusive do business da guerra.

A pensadora Hannah Arendt (Sobre a Violência, 1969) já havia abordado a questão das guerras sob o ponto de vista do exercício do poder. Para ela, quando o poder perde legitimidade recorre-se à violência.

O argumento converge com novas análises sobre os conflitos em Gaza, nos quais a extensão desproporcional da devastação não encontra justificativa aceitável em nenhum objetivo claro apresentado pelos atacantes.

Ou seja, a falência da correlação de forças histórica nessas regiões estaria levando a demonstrações de poderio bélico que garantam, por meio da violência, a supremacia das principais potências mundiais.

Segundo a autora, o desenvolvimento tecnológico exponencial dos “instrumentos da violência”, decorre exatamente do interesse econômico de alguns e da competição entre as capacidades destrutivas de outros (às vezes, dos mesmos…).

Nesse sentido, Hannah questiona inclusive a lógica dissuasória atribuída ao investimento massivo na área de defesa, presente em máximas como “Se queres a paz, prepara-te para a guerra”, ao considerar que o negócio da guerra se move por propósitos e mecanismos que se justificam por si, e não por um espírito pacifista.

Considerando-se que, dois mil anos depois, os anjos da guerra ainda não poupam nem mesmo a terra onde nasceu o menino Jesus (sequer durante o Natal), resta esperar que as orações do Papa sejam atendidas.

 

Felipe Sampaio: chefiou as assessorias dos ministros da Defesa (2016-2017) e da Segurança Pública (2018); cofundador do Centro Soberania e Clima; foi secretário-executivo de Segurança Urbana do Recife; atual diretor do SINESP no Ministério da Justiça e Segurança Pública.

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