Na propaganda eleitoral no rádio e na televisão, ele fala para reforçar sua imagem de político de centro. Bate duro na esquerda, mas nunca na direita, onde colhe a maioria dos seus votos.
Mas em entrevistas nas redes sociais, Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, alinha-se cada vez mais ao bolsonarismo. A quem lhe pergunta sobre isso, porém…
Nunes responde com a maior cara de pau: não é verdade, sua palavra é uma só, na TV ou nas redes sociais. Vamos conferir se é fato ou fake que ele muda de opinião quando muda de canal?
À Rádio Eldorado, antes da manifestação de 7 de setembro na Avenida Paulista, ele disse que não apoiava o afastamento de ministros do Supremo Tribunal Federal:
“Não vou defender o impeachment”.
E explicou por quê:
“Eu não tenho como avaliar. A avaliação disso é dos senadores. Se eu falar para você, eu, prefeito de São Paulo, tenho conhecimento de quais são os requisitos lá, cabe a mim avaliar? Não cabe a mim.”
Há uma semana, em entrevista ao youtuber Paulo Figueiredo Filho, investigado pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado, Nunes defendeu o impeachment de Alexandre de Moraes:
“Em se confirmando o que a matéria [da Folha] trouxe, que é gravíssima, obviamente tem que se abrir o processo [contra Moraes], indiscutivelmente”.
Reportagens da Folha mostraram que o ministro fugiu de ritos formais para abastecer os inquéritos das fake news. Foi com base nelas que Nunes passou a admitir o impeachment de Moraes.
Pressionado por Figueiredo, Nunes mudou de posição quanto à vacinação:
” Hoje, eu sou contra a obrigatoriedade da vacina”.
À época da pandemia da Covid-19, ele foi a favor – inclusive, das medidas de isolamento social. Em entrevista à Rádio Bandeirantes em 2021, ameaçou demitir funcionários sem imunização completa.
Agora, ele diz que a política foi um erro e que não demitiu ninguém por não se vacinar. Nunes ainda criticou o lockdown adotado pelo então governador João Doria (ex-PSDB).
Nunes disse a Figueiredo, um bolsonarista de raiz, que não houve tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023, mas, sim, atos de vandalismo contra o patrimônio público.
O Supremo já condenou mais de 220 pessoas por associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe. Nunes lamenta:
“Eu defendo a anistia. Porque não vejo tentativa de golpe. Onde existe golpe sem arma? Quem é que assume o poder? Como é que é dar um golpe sem arma?”
Essa acima é uma fala igual, palavra por palavra, a de Bolsonaro e dos seus cupinchas. De resto, como tem dito Nunes, é preciso vencer o “comunismo” representado por Guilherme Boulos.
O Nunes das redes sociais define-se como “um conservador capaz de vencer a extrema-esquerda” e que é contra o aborto, a descriminalização das drogas e a ideologia de gênero.
Quanto a eleição presidencial de 2026, Nunes confessa não ter a menor dúvida:
“O presidente Jair Bolsonaro se tornando elegível, eu com certeza irei apoiar”.