São Paulo — Além das transações milionárias apontadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), outro negócio envolvendo mansões em uma das regiões com o metro quadrado mais caro de São Paulo une o empresário Maurício Camisotti, investigado pela farra dos descontos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), e o advogado Nelson Wilians.
Como mostrou o Metrópoles, um relatório de inteligência do Coaf anexado ao inquérito que investiga associações ligadas a Camisotti suspeitas de efetuarem milhares de descontos indevidos sobre aposentadorias do INSS aponta, entre uma série de transações atípicas, que Wilians repassou R$ 15,5 milhões ao empresário nos últimos anos.
Chamado ao banco para dar explicações, Camisotti disse que os valores eram empréstimos que pegou com o advogado, que ostenta uma vida de luxo nas redes sociais. A maior parte das transações foi da época em que empresas ligadas a Camisotti e a banca de advocacia de Wilians prestavam serviços ao plano de saúde dos servidores públicos federais, o Geap — ambas tiveram contratos rescindidos.
Além de se defender, o advogado também representou empresas de Camisotti na Justiça em disputas judiciais contra o Geap após a rescisão dos contratos. Depois, quando Camisotti criou entidades para efetuar descontos de mensalidade associativa de aposentados, direto na folha de pagamento, por meio de acordos com o INSS, Wilians passou a advogar para uma das associações, a Ambec, que fatura cerca de R$ 30 milhões mensais.
Para além das transações milionárias e os serviços prestados, o advogado e o empresário mantêm uma relação estreita de amizade. Camisotti já esteve na casa de Wilians (foto em destaque) para festas com políticos. Uma delas, após uma homenagem da Câmara Municipal de São Paulo à mulher do advogado. O elo é ainda mais estreito. O vasto jardim da mansão do advogado tem as digitais de Camisotti.
Em novembro de 2020, Camisotti adquiriu, por R$ 22 milhões, uma mansão na Avenida Europa, no Jardim Europa, cujo terreno tem 1,7 mil metros quadrados. O imóvel pertencia aos herdeiros de um irmão de Abílio Diniz, da família do Grupo Pão de Açúcar, e ficava colado à mansão de Nelson Wilians. Ele foi demolido no ano seguinte e foram erguidos muros altos em seu entorno.
Em 2021, segundo imagens de satélite do Google Street View, já não havia mais edificação no terreno. A placa de uma construtora nos muros anunciava que a demolição havia sido autorizada por alvará. No entanto, foi apenas em junho de 2023 que o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) autorizou a demolição da casa.
Àquela altura, ela não só já havia sido derrubada como Nelson Wilians já publicava nas redes sociais fotografias com a família no terreno como parte de seu jardim.
O imóvel nunca foi oficialmente repassado ao advogado, nem sua matrícula foi alterada. Para a Prefeitura de São Paulo, ambos os terrenos, que, somados, passam dos 5,7 mil metros quadrados, também são diferentes propriedades. Nem Wilians, nem Camisotti comentam se a posse do imóvel ocorreu mediante pagamento de aluguel e nem se providenciaram regularização dela.
Ao Metrópoles, o Condephaat afirmou que “a demolição do imóvel mencionado, que não estava tombado, foi solicitada em 2021 e autorizada em junho de 2023”. “A análise do órgão ocorreu devido ao fato do imóvel integrar um conjunto urbano monitorado, o que exige a avaliação do Condephaat para a realização de eventuais intervenções”, afirma.