São Paulo — Mariana estava com um processo na Justiça para receber R$ 38 mil reais em precatórios quando foi contactada via mensagem de WhatsApp por uma mulher que se apresentava como secretária de sua advogada.
Seu nome era Ana Kelly, e dizia, citando o número e detalhes do processo, que a advogada estava no tribunal naquele momento para resolver a questão do recebimento do valor. Para que isso fosse possível, contudo, a cliente precisava pagar R$ 1,8 mil referente a taxas de cartório para emissão de certidões e liberação do valor.
Confiando na linguagem formal da secretária e no conhecimento que ela tinha do processo, a cliente corre para fazer o depósito, sem estranhar que o pagamento deveria ser feito Pix, e não boleto emitido em seu nome.
Ao ligar para a advogada para cobrar o depósito dos precatórios, contudo, ela descobriu que havia caído em um golpe e que não receberia o dinheiro depositado, nem o valor do processo, que ainda não havia sido decidido na Justiça.
“Mariana” não é o nome real da vítima, mas o caso faz parte das inúmeras denúncias recebidas pela Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo sobre o chamado golpe do falso advogado. Desde meados de julho, quando criou um processo especial de registro desses golpes, a ordem diz ter recebido 102 denúncias de casos semelhantes em menos de um mês, que estão sendo tratados e depurados para um trabalho junto à polícia.
Sequência de mensagens do Golpe do Falso Advogado
Esses golpes, segundo alerta o vice-presidente da OAB-SP, Leonardo Sica, têm um modus operandi: “As quadrilhas pegam os dados que são públicos, como o nome, a foto, e endereço do advogado, e os dados dos processos, que também ficam disponíveis. Certamente utilizando o robô, eles entram em contato com o cliente se passando pelo advogado, e pedem um determinado valor, em geral de taxa judicial, para liberar algum dinheiro que aquela pessoa tem para receber na Justiça. Às vezes, o cliente aflito para ter o processo resolvido, cai no golpe”.
Os principais alvos são as pessoas com processos trabalhistas e precatórios para receber. Esses processos, Sica explica, normalmente envolvem o pagamento de taxas do tipo Imposto sobre Valor Agregado (IVA) ou da emissão de documentos em cartório. Além disso, muitas dessas pessoas estão há anos aguardando a decisão da Justiça, e por isso, são vítimas especialmente vulneráveis.
Para lidar com as denúncias, em ascensão desde o ano passado, a OAB tem recomendado que seus advogados não solicitem pagamento de taxas por WhatsApp e comuniquem a seus clientes sobre a existência desse tipo de abordagem. Além disso, é necessário ter cuidado na divulgação de dados pessoais, como número de celular, pela internet. “A gente precisa lembrar às pessoas que a chance de recuperação do dinheiro é quase zero, por isso, é necessário que elas fiquem mais atentas”, ressalta Sica.