Dono de um patrimônio milionário, o empresário Ronaldo de Oliveira voltou a entrar na mira da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e tornou-se principal alvo de uma megaoperação desencadeada nas primeiras horas desta quarta-feira (20/12). Oliveira e sua família são acusados de integrar uma organização criminosa e conduzir um esquema de lavagem de dinheiro com uso de um batalhão formado por, ao menos, 15 laranjas e testas de ferro.
A Operação Old West, deflagrada pela 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia), cumpre nove mandados de prisão temporária e sete de busca e apreensão. A PCDF também pediu à Justiça o sequestro de uma série de carros de luxo e o bloqueio de contas bancárias operadas pela quadrilha.
A coluna Na Mira apurou que, entre os alvos estão, além de Ronaldo de Oliveira, a mulher dele, Soraya Gomes da Cunha, e os filhos do casal, Paulo Victor Viegas de Oliveira e Pedro Henrique Viegas de Oliveira. Uma nora e uma cunhada do empresário também integrariam o suposto esquema.
Audacioso e articulado, o bando teria conseguido cooptar um analista do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que recebia várias transferências bancárias para “cuidar” dos processos do empresário e advogar em defesa dos interesses da organização criminosa.
O servidor, segundo as investigações, consultava processos e transmitia informações sigilosas. O analista teve a prisão pedida pela PCDF, mas o Ministério Público se posicionou contrário ao pedido. Por esse motivo, o nome do servidor não será exposto.
“Dono de Brazlândia”
A investigação apontou que, após ser investigado e preso no âmbito da Operação Trickster, — que apurou um esquema criminoso no qual R$ 1 bilhão teria sido desviado por meio de fraudes no sistema de bilhetagem eletrônica do extinto Transporte Urbano do DF (DFTrans) — o empresário desenvolveu um esquema sofisticado para lavar mais de R$ 31 milhões.
Para tanto, o homem apontado como “dono de Brazlândia”, usou um supermercado e contas poupança em nome de testas de ferro, para lavar centenas de milhares de reais. Segundo a polícia, até mesmo filhos menores de Ronaldo de Oliveira foram usados no esquema.
O empresário teria usado empreendimento para ocultar a sua propriedade e dissimular valores faturados com estelionato contra a administração pública e de corrupção de agentes públicos.
Caminho do dinheiro
Antes da Operação Trickster, o bando comandado por Ronaldo de Oliveira mantinha os recursos financeiros nas contas de empresas geridas pelo grupo. Após a ação da PCDF, o caminho do dinheiro mudou e passou a “fazer curva” para driblar as autoridades.
Segundo as apurações, o fluxo do dinheiro inicia-se com o recebimento dos pagamentos nas contas empresariais, mas os valores são imediatamente lançados nas contas-poupanças do grupo, via depósitos e transferências, muitas vezes na boca do caixa.
Em seguida, ocorrem retiradas diárias de valores das contas-poupanças abertas em nome dos filhos de Ronaldo e Soraya para repasse às contas das empresas, tudo visando evitar bloqueios judiciais. Algumas contas bancárias chegaram a receber depósitos superiores a R$ 1 milhão.
Foragido
Ronaldo de Oliveira chegou a ficar três anos foragido da Justiça do Distrito Federal e com mandado de prisão preventiva a ser cumprido, entre 2018 e 2021. Ele foi detido em 12 de abril de 2021 por policiais do Grupo de Patrulhamento Tático (GPT), na cidade goiana de Niquelândia.
Os policiais receberam informações de que o empresário circulava pelo povoado de Buriti Alto, próximo ao município de Mimoso, onde Oliveira seria dono de um posto de gasolina. O local, segundo os militares, era estratégico, pois facilitava uma possível fuga para diferentes unidades da Federação, como Bahia, Tocantins ou mesmo o DF.
Após uma série de buscas, os policiais localizaram uma caminhonete Hilux vermelha usada por Oliveira para circular pela região. Ele foi abordado pelos homens do GPT, que confirmaram o mandado de prisão em aberto por corrupção contra a administração pública e associação criminosa.
Pagamento de propina
Em abril de 2018, a prisão de Ronaldo e da companheira dele, Soraya, foi pedida pela polícia e concedida pela Justiça, após investigadores terem confirmado que o casal pagava propina para o então responsável pela unidade de controle de bilhetagem automática do DFTrans, Harumy Tomonori. Ele foi detido em 23 de março de 2018 em mais um desdobramento da Trickster.
Em depoimento, Harumy confessou que, mensalmente, recebia entre R$ 10 mil e R$ 15 mil a fim de agilizar processos, pagamentos e fazer vista grossa diante de irregularidades e fraudes cometidas pelas empresas de Ronaldo e Soraya.
Entre as falcatruas, estava o fato de as empresas descarregarem cartões estudantis de alunos do Entorno do DF como se fossem da rede pública de ensino do DF. Imagens flagraram Harumy deixando uma das empresas do casal com dinheiro pago em forma de propina. Durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, os agentes encontraram um envelope semelhante na casa de Harumy com cerca de R$ 12 mil.