Topógrafo e despachante: em delação, Ronnie Lessa ‘ensina’ como milícias agem para ‘legalizar’ terrenos invadidos

Modo de atuação foi descrito pelo assassino confesso de Marielle e Anderson em depoimento à PF. Exclusivo: Fantástico tem acesso à delação em vídeo de Ronnie Lessa
Após invadir ou tomar a tiros uma comunidade no Rio de Janeiro, as milícias se utilizam de uma série de serviços para “legalizar” terrenos a fim de evitar problemas com moradores e proprietários.
Na delação homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, “ensinou” como paramilitares agem quando ampliam o território.
O Fantástico deste domingo (26) trouxe com exclusividade detalhes da delação de Ronnie Lessa. Foi a 1ª vez que Lessa admitiu ter praticado o crime que resultou na morte de Marielle e Gomes. Em 2 horas de depoimento gravado, Lessa fala quem são os mandantes, o que receberia pelo crime e o destino da arma usada em 14 de março de 2018.
Topografia
Lessa contou que um topógrafo realiza serviços para qualquer grupo de milicianos. Cabe a esse profissional checar se o terreno é estável, se passa água embaixo e se há risco de deslizamento. Também indica onde cavar as estacas de um imóvel, providencia nivelamentos e calcula muros de contenção.
De acordo com Ronnie, o homem a quem chama apenas de Belém no depoimento tem uma empresa legal de topografia e que, entre os clientes, estão criminosos.
“Ele trabalha para todas as milícias. Gardênia é área de milícias ali de Jacarepaguá. Ele pode fazer um trabalho para mim lá em Angra, como pode fazer para uma empresa”, contou Lessa em um dos pontos da delação.
Nas investigações, a Polícia Federal (PF) conseguiu identificar Anderson Pereira Belém como o topógrafo que realizou os serviços praticados para Lessa. Belém não foi indiciado pela PF nem denunciado pelo Ministério Público.
“Ele sempre trabalhou para a milícia. Todos os milicianos ali que queriam fazer um loteamento, era com o Belém. Porque, na verdade, ele era um profissional, ele vai trabalhar para todo … pra qualquer um. Qualquer pessoa que chamar ele vai fazer, ele vai dar a planta lá, ele vai … faz aquele … aquele, as plantas que são. O projeto em si né? E entrega. A empresa dele é legal. Ele é um profissional liberal. Então ele faz rindo … por quê? Porque ele tá ganhando o dinheiro dele e não quer saber pra quem tá fazendo. Ele quer fazer”, contou.
No relatório, encaminhado ao STF, os investigadores descobriram que Lessa soube por Belém que o deputado federal Chiquinho Brazão estava convocando pessoas para uma audiência pública sobre regularização de condomínios irregulares e loteamentos no Rio de Janeiro.
O g1 tenta contato com Belém para que ele possa esclarecer sobre esse serviço para Lessa.
Ronnie Lessa (D) durante delação
Reprodução/TV Globo
Registro
Na delação de Ronnie Lessa, ele fala ainda de um despachante conhecido como Geleia. O nome dele ainda não tinha sido divulgado até a última atualização desta reportagem.
“Ele é uma espécie de despachante. É um dos caras que faz a ‘legalização’ da grilagem. O que eu quero dizer com a legalização entre aspas? O Geleia simplesmente fala assim: tá pronto, já tem o projeto topográfico, o projeto do loteamento tá aqui pronto. Pronto que eu digo é a nível de papel, os documentos ainda, tá? Antes de botar qualquer máquina. Então, para botar a máquina, já vamos fazer um documento? Vamos. Quanto vai ser isso? Aí ele vai cobrar o preço dele: R$ 50 mil, R$ 100 mil. É de acordo com o tamanho do terreno que ele vai te cobrar, vai te fazer o preço, tá? Ele tem os acessos, ele levanta tudo o que o senhor imaginar”, disse.
De acordo com Lessa, Geleia tem acesso a cartórios e é o responsável por cuidar de toda a regularização dos terrenos ou áreas invadidas por milicianos. Segundo ele, em 15 dias é capaz de iniciar a regularização de uma região.
Lessa detalha todo o passo a passo.
“Então, se eu cismar de entrar numa terra hoje, e não houver resistência, em 15 dias eu já mando fazer um documento. Não tem resistência, ninguém apareceu. Primeira coisa, limpa o terreno; quando limpar o terreno, se existe um dono e ele não mandou limpar, esse dono vai mandar alguém ver: ‘Quem é que tá mexendo no meu terreno?’ Isso é óbvio. Então, quando você limpa, o primeiro passo da grilagem: limpou o terreno. Ninguém mexeu, ninguém botou a cara? Tu continua. Aí tu começa a botar cerca de arame farpado. Ninguém se manifestou? Tu já pode chamar o Geleia ou o Panaro. A atuação deles é muito maior ali, Muzema, Tijuquinha e Rio das Pedras.”
Quando a vereadora Marielle Franco foi morta, essas áreas eram das milícias. Atualmente, apenas Rio das Pedras está sob domínio de milicianos. As outras estão sendo disputadas em violentos confrontos entre milícias e traficantes do Comando Vermelho.
O g1 apurou que a força tarefa se concentrou na apuração das mortes de Marielle e Anderson. Os eventuais crimes que surgirem durante a investigação serão apurados de acordo com o entendimento da Procuradoria-Geral da República e do STF.

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