Diferenças registradas entre eles em Cabo Horn, no extremo sul do Chile, geram curiosidade nas redes sociais. Fenômeno está relacionado à diferença de densidades. Os oceanos Atlântico e Pacífico se conectam e formam uma massa contínua de água salgada que cobre mais de 71% da superfície da Terra
Getty Images/Via BBC
Entre os grandes corpos de água do planeta, o Oceano Pacífico e o Oceano Atlântico se destacam pela sua vastidão e importância climática. Uma pergunta que intriga muitas pessoas nas redes sociais é se esses dois gigantes deixam de se misturar em Cabo Horn, no Chile, como mostra a imagem acima.
Para a Organização Hidrográfica Internacional, o limite de ambos os oceanos ao sul é o meridiano que passa pelo Cabo Horn, o ponto mais ao sul da América do Sul. Nesta região, uma forte corrente oceânica transporta água de Oeste para Leste, arrastando a água do Pacífico para o Atlântico.
Segundo o diretor técnico e científico da ONG Sea Shepherd Brasil Juan Pablo Torres-Florez, os corpos d’água se misturam sim e a ideia de que as águas não se misturam é um equívoco comum.
“No entanto, a mistura não é uniforme e ocorre de forma gradual. As águas dos dois oceanos se misturam principalmente através de correntes oceânicas, que transportam a água de um oceano para o outro, por exemplo, a Corrente Circumpolar Antártica”, explica Juan Pablo.
“A diferença de densidade faz com que as águas dos dois oceanos se separem, formando uma camada de água do Pacífico sobre uma camada de água do Atlântico. Essa camada é chamada de interface oceânica”, finaliza.
Na região de encontro das águas, estas podem apresentar diferenças notáveis de temperatura, salinidade e composição química. O fator determinante, no entanto, é a diferença entre as densidades das águas dos dois oceanos.
“O Pacífico tem a maior parte das águas mais leves (com densidades abaixo de 26), enquanto o Atlântico tem águas mais densas (entre 27,5 e 28) por causa da salinidade. Vai depender de onde se faça a comparação, pois a densidade também depende da temperatura, porque a água fria é mais densa”, explica Juan Pablo.
A temperatura das águas dos oceanos Pacífico e Atlântico varia de acordo com a latitude. Nos trópicos, as águas são mais quentes, com temperaturas médias que podem chegar a 25 °C. Já nas regiões polares, as águas têm temperaturas médias de -1 °C.
Oceano Pacífico tem um dos cenários mais deslumbrantes
Toni Mendes/TG
Além da densidade, outros fatores contribuem para a diferença observada no encontro dessas águas, como a presença de cadeias montanhosas e de plataformas continentais no fundo do mar, podendo dificultar a mistura das águas dos dois oceanos e a circulação atmosférica, pois a transferência de água de um oceano para outro pelos ventos é limitada.
“Outra característica que diferencia os dois oceanos é a presença da Corrente do Golfo. A Corrente do Golfo é uma corrente quente que flui do Golfo do México para o norte da Europa. Essa corrente aquece as águas do oceano Atlântico, fazendo com que elas sejam mais quentes do que as águas do oceano Pacífico nas mesmas latitudes”, relata o pesquisador.
No passado, os oceanos Pacífico e Atlântico eram homogêneos. Essa informação é confirmada por evidências geológicas, como a presença de fósseis de animais e plantas que viviam nos dois oceanos.
O Oceano Atlântico perto da costa de Funchal, capital do arquipélago da Madeira, em Portugal.
Domínio Público
Os oceanos só deixaram de ser “um só” devido à movimentação das placas tectônicas. A colisão entre as placas da América do Sul e da África, há cerca de 160 milhões de anos, bloqueou a circulação das águas entre os dois.
“Essa separação ainda está em andamento. A placa tectônica da América do Sul continua a se mover para o Norte, afastando-se da placa tectônica da África. Com isso, a distância entre os dois oceanos está aumentando gradualmente”, completa Juan.
A divisão dos oceanos Pacífico e Atlântico teve um impacto significativo na evolução da vida na Terra. Isso porque a presença de dois oceanos separados permitiu que diferentes espécies de plantas e animais se desenvolvessem independentemente, o que contribuiu para aumentar a biodiversidade do planeta.
*Texto sob supervisão de Giovanna Adelle
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