Dias antes de Lula receber reitores de universidades federais, uma comitiva de dirigentes da greve de docentes se reuniu com a Comissão Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT). É uma tentativa do partido de intermediar as negociações pelo fim da greve, que já dura mais de 50 dias.
Estavam presente a presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann, o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) e 13 presidentes de associações de docentes (seções do Andes-SN), além de militantes filiados ao partido e representantes do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN).
Segundo relatos da reunião, Gleisi buscou esclarecer o impasse que levou à greve e seu prolongamento, na tentativa de facilitar a retomada de negociações entre o governo e os comandos nacionais de greves.
Os professores disseram que o movimento surgiu de uma “genuína insatisfação da base docente, frustrada e cansada de ver salários corroídos e universidades sucateadas (mesmo após mais de um ano de novo governo que ela em peso ajudou a eleger)”.
Eles ainda salientaram que a greve não se trata de uma “provocação” de algum grupo político ultra esquerdista nem tampouco é uma greve contra o governo Lula. Foi reforçada a demanda pela recomposição do orçamento das universidades e institutos federais.
Acordo com outra entidade
No último dia 27 de maio, o Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI) fechou um acordo com a Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico (Proifes), sem assinatura do Andes. O acordo foi suspenso na justiça e a greve segue em várias instituições.
Na reunião com a executiva do Partido dos Trabalhadores, foi lida uma declaração da ministra da Gestão, Esther Dweck, alegando que fechou acordo com a Proifes porque o Andes não fechou acordos anteriores. A Proifes foi a responsável pela assinatura dos últimos acordos firmados com o governo federal, em 2012 e em 2015, os quais o Andes não assinou.
Os docentes disseram considerar “um enorme erro” que o governo tenha “forçado” a assinatura de um acordo com aquela entidade, que acusam de representar apenas 10% da categoria docente.
Proifes x Andes: entenda rixa sindical de professores universitários
Gleisi ficou de reforçar a conversa com o presidente Lula, enfatizando a urgência na recomposição orçamentária.
O deputado Lindbergh Farias propôs a criação de uma comissão de deputados e membros da Executiva do PT para conversar com autoridades do governo, a começar pelo próprio presidente Lula, passando pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Esther Dweck (MGI) e por lideranças do governo no Congresso (incluindo responsáveis pelo Orçamento).
Entre as possibilidades colocadas, está a realocação de verbas do Ministério da Educação (MEC) ou de outros ministérios ao reajuste salarial ainda em 2024 até articular um acordo no Congresso para uma pequena suplementação. A ideia seria obter alguma resposta já nesta semana.
Participantes da reunião disseram ter saído da reunião mais otimistas que entraram, mas reforçaram a importância da pressão da greve nos próximos dias.
Após PT, reunião com Lula
Reitores das universidades federais e institutos federais (IFs) se reunirão com o presidente Lula na próxima segunda-feira (10/6).
A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) procura ajudar a pôr fim à greve nas instituições de ensino superior, que segue há mais de 50 dias, e à paralisação dos técnicos-administrativos que dura quase 90 dias.
As principais pautas da reunião serão a recomposição do orçamento das universidades e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das instituições.
A presidente da Andifes e reitora da Universidade de Brasília, Márcia Abrahão, disse esperar também que seja abordado o tema da greve. “Mas gostaríamos que até lá já estivesse estabelecido um acordo entre governo e sindicatos”, disse ela.
O governo Lula sofre pressão da área da educação superior, que constantemente reclama da falta de ações, projetos e repasses para as instituições públicas de ensino superior.
Além do reajuste e da reestruturação da carreira, eles pedem que haja mais investimento nas universidades e nos IFs — sob o argumento da falta de recursos para desenvolver pesquisas e até manter os locais de ensino abertos.