“Corredor Caipira” inicia sua segunda edição, após plantar 65 hectares na primeira. Entenda como funciona a ação, seus benefícios e obstáculos enfrentados no trabalho de campo. Equipe do Corredor Caipira na vegetação
Jessica Lane
Com dois terços de suas áreas de preservação permanente (APPs) no entorno de nascentes e corpos d’água degradadas, cinco cidades da região de Piracicaba (SP) e entorno vão receber a segunda edição de um projeto que prevê a implantação de 50 hectares de florestas e agroflorestas.
📲 Acesse a nova comunidade do g1 Piracicaba e receba notícias no WhatsApp
A segunda etapa de ações do “Corredor Caipira: Conectando Paisagens e Pessoas” ocorrerá pelos próximos quatro anos e também inclui plantio de quase 90 mil mudas de árvores de espécies nativas e manutenção de 115 hectares de áreas. A iniciativa ocorre nas cidades de Piracicaba (SP), Águas de São Pedro (SP), São Pedro (SP), Santa Maria da Serra (SP) e Anhembi (SP).
A iniciativa inclui restauração ecológica, ações educativas voltadas às questões socioambientais e à conservação da fauna, além de iniciativas de políticas públicas locais e de comunicação. Na primeira edição, foram implantados 65 hectares de mata.
O “Corredor Caipira” é realizado pela Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq) e pelo Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão Universitária em Educação e Conservação Ambiental (Nace-Pteca) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo (Esalq/USP). O patrocínio é da Petrobras.
A seguir, a partir de informações da assessoria de imprensa e de Henrique Ferraz de Campos, coordenador técnico do projeto, entenda como ele funciona, benefícios, detalhes do diagnóstico das APPs hídricas da região e os desafios enfrentados no trabalho de campo.
Membros do Corredor Caipira em trabalho na floresta
Jessica Lane
Qual é a situação atual da degradação de APPs hídricas na região? 🚨
Segundo o coordenador técnico do projeto, nas cinco cidades de atuação, somente um terço dessas áreas estão cobertas com vegetação nativa.
O déficit total de vegetação natural em APPs hídricas nesses municípios é de 28,5 mil hectares.Além disso, a região possui apenas 13% de cobertura vegetal nativa.
Como essas áreas foram degradadas? 🪓
Segundo Campos, as ações de ocupação e uso do solo retiraram essa parcela da floresta na região há muito tempo, principalmente para cultivo de de plantas agronômicas, como cana-de-açúcar, e para pastagem.
“E aí, com esse uso da agricultura em centenas de anos em áreas deveriam estar na floresta, por exemplo nas APPs, principalmente nas margens dos rios, que são super sensíveis e que deveriam estar florestadas, uma boa parte dela não está florestada. Uma boa parte delas continua sem a vegetação natural, que é prevista por lei”, explica.
Projeto Corredor Caipira inicia segunda edição
Jessica Lane
Qual é a importância de recuperar essas áreas? 🌳
Segundo o coordenador técnico, são vários benefícios. O primeiro é que em uma área com floresta infiltra muito mais água no solo do que uma área de pastagem ou de produção agrícola.
“Essa contribuição com aumento das nascentes, do aumento de produção de água dos rios, isso é evidente. Tanto que uma das áreas mais sensíveis e de foco de atuação nos processos de restauração do projeto é realmente nas margens dos rios e nas nascentes, no entorno das nascentes, pra que a gente tenha uma melhoria nessa condição hídrica, que é um problema da maior parte dos municípios aqui da nossa região”, explica.
Outra questão é o próprio deslocamento da fauna. “Esse deslocamento hoje em dia está muito dificultado, porque tem nichos pequenos de floresta e boa parte desses animais não transitam em locais que não têm essa proteção da floresta. Isso faz com que as sementes não circulem porque os animais levam as sementes”.
Campos também cita o aumento da população de espécies ameaçadas de extinção e a função das árvores para remoção do carbono atmosférico e diminuição do aquecimento global.´
“Também tem a questão das secas severas, das queimadas. Quanto mais seco o ambiente mais propício às queimadas. Isso vai virar um círculo. Mais queimadas, mais liberação de carbono, mais aquecimento global. E esses eventos extremos de enchentes”, elenca.
Ele ainda lembra das contribuições turísticas, culturais e que é possível realizar restauração das floresta mantendo produção de alimentos. “É uma produção mais sustentável, associando essas espécies florestais com a produção de alimento”.
Produção de mudas para o Banco Ativo de Germoplasma
Grégory Antony
Quais são as etapas do projeto? 📝
Existem diferentes frentes dentro do projeto. O coordenador técnico descreve quais são elas:
Prospecção de áreas: Localizar áreas que o proprietário disponibilize para que seja feita esse processo de restauração.
Diagnóstico: Depois da disponibilização da área, é iniciado um diagnóstico local, para identificar a melhor estratégia para se fazer o processo de restauração, com plantio ou semeadura.
Manutenção: Após o plantio ou semeadura, o grupo segue monitorando o desenvolvimento da floresta, realizando a manutenção dessas áreas.
Conservação da fauna: instalação de placas de sinalização e de armadilhas fotográficas – para monitoramento de espécies.
Educação ambiental e políticas públicas: Campos destaca que o projeto prioriza a integração da frente de restauração com a educação ambiental.
“A gente acredita muito que não adianta a gente pôr a muda no chão sem conectar as pessoas sobre a importância disso. Tem que fazer educação ambiental, fazer políticas públicas que sustentem essas florestas que a gente está plantando e que amplie. Porque a necessidade é muito maior do que é o que a gente vai plantar de fato”.
A etapa de educação ambiental inclui ações como cursos de formação, oficinas, mutirões, implantação de área demonstrativa e evento temático. Já a de políticas públicas, plano emergencial de restauração ecológica, além de reuniões de articulação e fóruns.
Existe resistência dos proprietários das áreas? 🔒
Segundo Campos, existe muita resistência de maneira geral.
“Ainda se tem o entendimento que com a restauração você perda a área. Você tá fazendo uma coisa que vai perder a área da sua propriedade, porque não se enxerga mecanismos de retorno financeiro após o processo de restaurante”.
No entanto, ele explica que existem, sim, mecanismos de retorno financeiro. “Em Piracicaba, tem os pagamentos por serviços ambientais que está estabelecido e que tem conversas para ser ampliado. Existe a questão iniciando, ainda incipiente, no Estado de São Paulo, um processo e conversa para os créditos [de carbono] e também há muita possibilidade de se fazer uma restauração que tenha algum viés econômico”.
Henrique Ferraz de Campos é coordenador técnico do Corredor Caipira
Rafael Bitencourt
Ele também lembra que é possível associar o plantio de árvores nativas com plantas alimentícias. “O que a gente chama de sistema agroflorestal, que é uma possibilidade de ter a restauração ambiental, do serviço ecossistêmico, e ainda assim conciliar a parte econômica”.
Segundo o coordenador, um fator que vem levando o grupo a convencer agricultores a disponibilizar áreas para restauração é a questão da escassez de água. “Quase a totalidade das propriedades percebem uma diminuição no volume das nascentes. Inclusive, algumas delas relatam que inviabilizou a moradia, que não tem mais como ficar na sede porque a propriedade não tem mais água”.
Desta forma, segundo ele, o produtor começa a mudar sua percepção e perceber vantagens no procedimento de restauração.
“Não tô perdendo mais área. Tô ganhando muito plantando floresta. Tô ganhando água, tô ganhando bem-estar, tô ganhando clima melhor e essa cultura vai se ajustando. Mas ainda tem muita resistência. Com certeza é um dos maiores desafios do projeto”.
Produção de sementes
Jessica Lane
De onde vêm as árvores implantadas? 🌱
Do total de implantações já realizadas, 15 hectares são de um Banco Ativo de Germoplasma (BAG) criado no território.
“O BAG é semelhante a um pomar, em que as árvores são manejadas visando a produção de sementes, às quais serão destinadas à produção de mudas ou à restauração florestal, via semeadura direta. É uma ação que aumenta a oferta de sementes qualificadas para realizar o reflorestamento”, explica afirma Edson Vidal, professor da Esalq/USP e coordenador geral do projeto Corredor Caipira.
VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e Região
Veja mais notícias da região no g1 Piracicaba
