Bancária aprovada em 4 concursos estudava enquanto trabalhava e cuidava do filho: ‘obstáculos são muitos pra uma mãe’

Iara Sanny recorda a ajuda que recebeu, conta como enfrentou as dificuldades e como se livrou da culpa para proporcionar uma vida mais confortável ao filho. Iara Sanny no banco onde ela trabalha
Iara Sanny / Arquivo pessoal
“Acreditar e tentar encontrar saídas pra os obstáculos que são muitos pra uma mulher mãe”. Foi assim que Iara Sanny enfrentou anos de estudos e busca incentivar outras mulheres que sonham em consolidar uma carreira no serviço público, assim como ela sonhou há mais de duas décadas. Dos 56 anos vividos, quase metade foram dedicados ao trabalho em um banco, onde já ingressou depois de ser mãe. O tempo para a maternidade foi sacrificado durante o período em que precisou ser dividido com os livros. Hoje, 22 anos depois, ela celebra a persistência que lhe proporcionou oferecer ao filho uma vida mais confortável graças ao cargo público que ocupa.
Esta é a segunda parte da série de reportagens, feita pelo g1, Jornal da Paraíba e TVs Cabo Branco e Paraíba, que mostra os desafios e a realidade de quem estudou, se dedicou e conquistou uma vaga no serviço público.
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Essa mesma mentalidade fez com que a paraibana, que mora em João Pessoa, fosse aprovada no Concurso da Caixa Econômica Federal e também no do Banco do Brasil. Além disso, também passou para o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). Ao todo, foram quatro aprovações em oito tentativas.
O coração de quem acumula a felicidade de tantas sucessos também abriga a gratidão pelas reprovações. Afinal, foram todas em seleções com as quais ela não se identificava.
E foram exatamente as tentativas frustradas que, no início, fizeram a bancária desacreditar que ter uma carreira no serviço público seria possível para ela.
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“Eu tinha essa crença que só quem consegue é quem tem as condições ideais. Não é verdade. Quem consegue é quem insiste, quem acredita, quem se planeja”.
Bem além da força de vontade, a necessidade foi o que fez Iara ansiar por uma vaga na esfera pública.
“Eu tinha um filho pequeno e queria proporcionar a mim e a ele coisas boas. E eu via que o mercado de trabalho fora do serviço público era um mercado difícil. O índice de desemprego era altíssimo e a média salarial era muito baixa. Eu vi no concurso público uma oportunidade de alcançar uma condição financeira melhor pra proporcionar ao meu filho coisas melhores. Então isso me moveu”.
Foi então que a paraibana começou a tentar escolher os concursos que faria. No início, ela tentou de tudo em cada edital que aparecia. Mas a medida em que amadureceu como pessoa e como concurseira, percebeu que era necessário escolher uma carreira e focar até conseguir alcançá-la.
“Não era só dinheiro, passou a ser algo que tinha a ver com os meus valores também”.
Na época, Iara havia abandonado o curso de Direito e também resolveu retomá-lo. Por isso, até tentou concursos na área jurídica, o que só fez reforçar que essa não era a praia dela.
Em um momento durante a preparação, ela trabalhava, estudava direito na universidade, estudava para concursos, enquanto também acumulava a maternidade com as tarefas domésticas. Um período, como ela mesma definiu, “muito louco”.
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Mesmo sem ter uma consciência clara disso, o banco já era um lugar onde ela se encontrava e também um espaço de familiaridade para Iara, que tinha parentes trabalhando em diferentes instituições.
“Pude enxergar como era esse trabalho e me identificar com ele. O mercado financeiro era algo que vi que ia me deixar realizada e podia ascender dentro da instituição. A medida que tempo fosse passando, ia crescendo ali. Por isso, escolhi a carreira bancária”.
A cada dia que passa Iara tem mais certeza de como foi acertada a escolha que fez.
“A decisão de escolher a carreira é muito importante. São anos da minha vida profissional fazendo isso. Por mais necessidade que a pessoa tenha, não dá pra transformar a vida numa tortura fazendo algo que não goste. No banco as atividades tinham a ver comigo. Deu match, um match muito massa. E tive uma carreira dentro do banco maravilhosa. Fui e sou muito feliz no banco”.
Iara Sanny com o filho Gabilo, quando ele ainda era criança
Iara Sanny / Arquivo pessoal
‘Tempo de qualidade com o meu filho era o meu maior desafio’
Quando decidiu estudar para concursos, Iara era casada. Mas quem a ajudava a cuidar do filho era a mãe dela.
“Ela ia pra minha casa e ficava com ele pra eu estudar. Eu também estudava quando ele tava dormindo, né?”.
No início, ela não trabalhava fora de casa. Mas depois foi necessário.
“Mas eu não parei de estudar. Pelo contrário, quando eu comecei a trabalhar, passei a valorizar mais aquele tempinho que tinha, então eu passei a estudar mais ainda. Era muito difícil, meu filho era pequeno e eu comecei a valorizar mais o tempo”.
Tempo. Talvez fosse ele tenha sido o maior antagonista nesse período da vida da paraibana.
“Tempo de qualidade com o meu filho era o meu maior desafio. Delegar isso mesmo sendo à minha mãe, foi um sofrimento. Não cuidar 100% das coisas dele era difícil, mas era necessário. Quando ele ia pra escolinha, eu me aliviava um pouco dessa culpa. Mãe sente culpa demais. E eu naturalmente também sentia culpa, por ter que abrir mão”.
Foi assim durante os dois anos de estudos de Iara. Além de lidar com excesso de funções, como trabalhar, cuidar da casa e estudar, ela ainda se sentia culpada. Hoje, porém, ela sabe que esse esforço valeu a pena.
“Eu também sabia que era em prol dele. Foi ter êxito nesse concurso que me fez assumir uma posição financeira na vida que proporcionou coisas que pude dar a ele. Pude colocar ele em boas escolas, consegui proporcionar muita coisa legal pra ele por causa desse momento que tive de abrir mão de estar com ele 100%. Eu sofri, ele também deve ter sofrido minha ausência”.
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Agora, a leveza que veio junto com a estabilidade dá consciência de que todas as dificuldades foram necessárias, mas também temporárias.
“Foi uma necessidade imperiosa que eu me dedicasse aos estudos. Eu não me arrependo e penso que eu fiz as escolhas que eram possíveis naquele momento. Eu fiz o que dava pra eu fazer e o resultado foi positivo. Pra que eu tivesse sucesso naquele objetivo por mim, por ele”.
Iara Sanny com colegas de trabalho no banco
Iara Sanny / Arquivo pessoal
‘Vai ter gente que vai ter tudo e não vai ter a coragem, a disciplina, a resiliência, a fé que o outro tem e vai conseguir’
Para outras mães que estão passando pela mesma maratona de estudos em busca de uma vida melhor para os filhos ou para quem quer dar o primeiro passo nesse caminho, Iara tem alguns conselhos. O primeiro é, se possível, contar com uma rede de apoio.
“Se livrem da culpa. Contem com a ajuda das pessoas que amam vocês, que apoiam vocês, como mãe, irmã, amigas, vizinhas. Sozinha fica mais difícil. As mulheres devem contar com as mulheres e com os seus companheiros também. Se vocês insistirem, vão ter sim sucesso. Peçam ajuda”.
No geral, Iara considera o planejamento um fator importante. No início, para ela, o importante é começar. Mas depois não dá para estudar de qualquer jeito.
“É preciso esquecer o mundo ao redor e se concentrar no seu objetivo. Você não precisa ter o melhor computador, um ambiente perfeito, o curso perfeito. Vai ter gente que vai ter tudo isso e não vai ter a coragem, a disciplina, a resiliência, a fé que o outro tem e vai conseguir. Você precisa realmente ter a crença de que é capaz e insistir. Insistir e não desistir é a principal coisa”.
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‘Eu queria encurtar o tempo, queria que chegasse logo esse momento’
Para conseguir estudar todos os dias, Iara lembra que era necessário acordar bem cedo. Com a mente limpa e descansada, ela se dedicava cerca de duas horas seguidas com foco total no objetivo de passar em um concurso público.
“Meu filho Gabilo (apelido para Gabriel) acordava muito bem humorado, não chorava muito de manhã. Então eu deixava ele brincando, assistindo um filminho pra me dedicar mais aos estudos”.
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Depois disso, o dia inteiro se passava sem que os olhos dela encontrassem as páginas dos livros. Só conseguia retomar quando já no começo da noite a mãe dela chegava para tomar conta do neto. Com o filho em boas mãos, ela partia da função mãe para a estudante até quase o dia seguinte chegar.
“Eu utilizava todo o meu tempo livre e fazia acontecer. Esse tempo não surge principalmente se você tem uma criança pequena e uma casa para cuidar. Se você não se organizar, não vai ter tempo para estudar. A rotina vai consumir todo o seu tempo”.
Já o sábado e o domingo eram os dias de empenho quase total.
“Eu deixava muitas coisas de lado. Eu não participava das coisas familiares, infelizmente. Eu abria mão de algumas saídas com amigos”.
Mas também havia tempo para se divertir. Porém, nesse caso, ele era cronometrado.
“Tinha um espaço na minha agenda no fim de semana para curtir um pouquinho. Mas ele era calculado. Se eu escolhesse ir à praia, eu passava uma hora e meia, duas horas. Não passava o dia todo”.
E com a evolução nos estudos, essa reserva de tempo para o lazer foi ficando cada vez menor.
“No final eu nem queria me divertir, só queria estudar. Sabia que tinha capacidade, que ia passar. Então eu queria encurtar o tempo, queria que chegasse logo esse momento. Isso não é saudável, mas é meio que involuntário quando você adquire a pegada mesmo dos estudos”.
Com o tempo, as coisas também foram ficando mais fáceis.
“O que me deixou mais feliz é que conforme o tempo ia passando e eu ia me dedicando, eu me via mais perto o meu objetivo. No começo parecia uma coisa impossível, pensei que não ia conseguir. No momento que fui conseguindo dominar os assuntos, fui acreditando. Vai rolar, uma hora eu chego”.
Iara Sanny com o filho Gabilo atualmente
Iara Sanny / Arquivo pessoal
‘Eu não tinha grana pra fazer cursinho e não tinha tempo porque tinha um filho pequeno’
Os concurseiros de hoje possivelmente nem conseguem imaginar como seria se dedicar aos estudos sem um recurso como a internet. Mas em uma época em que ela não era um artigo comum, os livros foram os companheiros de Iara.
“Eu estudava com material gratuito. Eu não tinha grana pra fazer cursinho e não tinha tempo porque tinha um filho pequeno. Eu estudava com material que eu mesmo procurava. Eu tinha dificuldade em matemática na escola. Peguei uma coleção de livros de quinta a oitava série e fiz todos os exercícios”.
Na época, a bancária também criou a própria estratégia quando percebeu o que mais funcionava para ela.
“Fazia alguns anos que não estudava. Eu ia buscando fazer uma base boa pra adquirir conhecimento com mais facilidade. Pra ter conhecimento específico pra um concurso, você tem que ter a base e eu fui fazer bem feita essa base”.
Iara Sanny durante o For You Summit, onde participou enquanto influenciadora
Iara Sanny / Assessoria
Aprovação: ‘você fica acreditando que você é capaz daquilo e de muito mais’
Quando a aprovação aconteceu, Iara foi tomada por um misto de sensações. Uma das melhores partes é sentir a alegria das pessoas que a apoiaram.
“Você fica acreditando que você é capaz daquilo e de muito mais. É uma sensação de dever cumprido. Faz você acreditar em muitas outras coisas da sua vida também. Você recebe uma injeção de ânimo pra acreditar que as coisas são possíveis e vai viver muito mais”.
Assim que Iara passou no concurso, ela começou a trabalhar em uma agência localizada em uma cidade vizinha. Desde então, se sentiu acreditada.
“Uma coisa muito legal que eu enxerguei no banco é que as pessoas acreditam em você, que você pode crescer ali. Você não vai ficar parada. Eu cresci profissionalmente. Fui assistente, gerente”.
Quanto mais Iara se dedicava, mais recebia condições melhores de trabalho como retorno.
“E aí sua vida vai mudando. Você compra seu primeiro imóvel. Você compra seu primeiro carro. Você faz sua primeira viagem internacional. Você coloca seu filho pra estudar numa boa escola, você proporciona a ele estudar línguas, fazer um intercâmbio fora do país. Isso aconteceu comigo”.
A paraibana também acredita que o serviço público a fez evoluir enquanto ser humano.
“Aquele trabalho de conviver com as pessoas me fez crescer também como pessoa. Você lida com gente e isso é aprendizado profundo”.
Atualmente Iara não ocupa mais o cargo de gerente por opção própria. É que agora ela assumiu uma nova missão que também demanda tempo e dedicação. A carreira de influenciadora digital está prosperando e cada vez mais ela investe na nova profissão.
“Carrego toda experiência. Eu trago muito isso pra essa profissão que eu tenho. Trabalho seis horas todos os dias (no banco). Eu adoro. Tá difícil conciliar. Mas tá dando certo e espero viver coisas maravilhosas aqui também”.
Setor bancário abriu mais de 10 mil vagas em menos de dois anos
A área bancária é uma das que mais tem aberto vagas em concursos público. Em menos de dois anos mais de 10 mil vagas foram abertas em todo o país, sendo a maior parte delas para funções de nível médio. O g1 relembra algumas delas.
O certame mais recente é o da Caixa, com edital divulgado em 2024, mesmo banco onde Iara trabalha há mais de 20 anos. São mais de 4 mil vagas com salários iniciais de até R$ 14,9 mil. As provas acontecerão no fim de maio.
Pouco antes disso, o Banco do Nordeste também abriu novas oportunidades de contratação, sendo 410 no total. As provas foram aplicados no fim de abril.
O salário inicial para quem for aprovado nesse concurso é de R$ 3.788,16. Além da remuneração, os aprovados vão receber de benefícios:
Auxílio-refeição;
Auxílio Cesta Alimentação;
13ª Cesta Alimentação;
Auxílio-creche;
Seguro de vida em grupo;
Direitos previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT);
Possibilidade de participação em plano de previdência complementar, de forma contributiva;
Oportunidade de ascensão e desenvolvimento profissional.
Já no fim de 2022, o Banco do Brasil abriu mais de 6 mil vagas com salários de R$ 3.622,23. Nesse caso, as convocações já começaram.
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