A palavra, que significa “acaso feliz”, ajuda a moldar a ciência até hoje
Nosso cotidiano é cheio de serendipidade: são os acasos felizes, como estar caminhando por uma rua completamente aleatória e encontrar um restaurante que você planejava ir há meses, mas não sabia exatamente onde ficava.
Na definição do dicionário, serendipidade é um “acontecimento favorável que se produz de maneira fortuita; acaso feliz; descoberta acidental; dom de fazer boas descobertas por acaso”. O termo foi cunhado pelo inglês Sir Horace Walpole, em 1754. Ele ficou impressionado com um conto de fadas persa chamado “Os três príncipes de Serendip”, nome antigo do país atualmente conhecido como Sri Lanka. O conto descrevia como príncipes viajantes faziam descobertas constantes e surpreendentes sobre coisas que não planejavam explorar. Ele então criou a palavra serendipity para se referir a descobertas acidentais.
Embora a ciência em geral seja associada a experimentos cuidadosos e muitos testes de hipóteses, inúmeras descobertas foram serendipidade pura: frutos de experimentos que deram resultados inesperados ou indesejados, ou mesmo por puro e simples acaso. Veja alguns exemplos mais famosos:
1. Penicilina
Em 1928, o biólogo escocês Sir Alexander Fleming fazia testes com a bactéria Staphylococcus quando percebeu que um dos pratos foi contaminado por mofo. Em vez de recomeçar do zero, ele decidiu ver o que aconteceria. E percebeu que a bactéria não crescia onde o mofo, identificado como Penicillium, havia se desenvolvido. A substância produzida por ele deu origem a penicilina, até hoje um antibiótico utilizado para tratar diversas doenças infecciosas.
2. Viagra
Nos anos 1990, laboratório farmacêutico Pfizer testava um medicamento para a angina, uma doença cardíaca que estreita as veias e artérias que levam o sangue ao coração. A droga em questão até ajudava a relaxar as artérias, mas não dava o resultado esperado. Até que os pacientes que participaram do teste relataram um efeito colateral incomum: ereções. Até 1998, não havia nenhum medicamento via oral para a disfunção erétil, que em geral era tratada por injeções ou com prótese.
3. Sacarina
O químico russo Constantin Fahlberg trabalhava junto a Ira Remsen, um dos químicos norte-americanos mais famosos do século 19, no laboratório da Universidade Johns Hopkins. Após um dia intenso de trabalho mexendo com derivados de alcatrão da hulha, fósforo e amônia, Fahlberg se esqueceu de lavar as mãos. Após a refeição, percebeu que seus dedos possuíam um sabor doce. O ano era 1878 e estava descoberto o primeiro adoçante químico.
4. Forno de microondas
O engenheiro norte-americano Percy Spencer trabalhava em um conjunto de radares para a empresa Raytheon, em 1945, quando percebeu que uma barra de chocolate em seu bolso havia derretido. Intrigado, expôs grãos de milho às bondes, que rapidamente se transformaram em pipoca. Ele então criou um campo de alta densidade, injetando as microondas de um magnetron em uma caixa metálica, para que não pudessem escapar. Cinco anos depois, a primeira versão do forno foi colocada à venda.
5. Raios-X
Quando o físico alemão Wilhelm Conrad Rontgen estudava o fenômeno da luminescência produzida por tubos catódicos, em 1895, ele percebeu que, se cobrisse o tubo com papel grosso, uma folha de papel tratada com platinocianeto de bário emitia luz. Ele chamou essa “luz invisível” de “raios-X”, pois os considerava muito enigmáticos . Ao fazer testes colocando corpos opacos à luz visível entre o tubo e um papel fotográfico, descobriu que os raios-X passavam pelos tecidos moles, deixando os ossos como sombras visíveis, criando as primeiras radiografias.
Fonte: Revista Galileu 2018