O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) manteve a prisão dos quatro suspeitos de matar um vigilante que fazia a escolta armada de uma carreta com 400 kg de skunk, conhecida como “supermaconha”. Durante o ataque, o grupo feriu gravemente outro profissional de segurança.
O quarteto foi preso em flagrante após o tiroteio próximo a um posto de gasolina na BR-070, na altura de Taguatinga. Para a Justiça, o grupo agiu com “especial periculosidade e ousadia ímpar”; por isso, deve continuar atrás grades nesta etapa do processo.
Nessa quarta-feira (11/12), o juiz de direito substituto do Núcleo de Audiências de Custódia (NAC) converteu em preventiva a prisão em flagrante do motorista da carreta Cleomar Marcos da Silva, 41 anos, e dos traficantes Sidney Cardoso Passos, 37, Francisco de Assis Bispo de Jesus, 40, e José Eraldo Dutra Bezerra, 36.
O quarteto foi preso pelo crime de latrocínio – roubo seguido de morte. Cleomar ainda deverá responder pelo crime de tráfico interestadual de drogas, pois conduzia o caminhão que transportava a droga, segundo o TJDFT.
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) considerou que a prisão em flagrante ocorreu de forma regular e se manifestou favoravelmente à conversão dela em preventiva. A defesa dos presos, porém, pediu pela liberdade provisória.
Para o magistrado, a prisão cautelar seria necessária para garantir a ordem pública e prevenir o cometimento de novos crimes, pois os fatos apresentavam “gravidade concreta”. O juiz destacou, ainda, que o grupo teria usado armamentos de calibre pesado e com alto potencial destrutivo.
Além disso, na cabine do caminhão, a polícia encontrou expressiva quantidade de drogas, em torno de 483,8 kg de maconha, denotando a prática de tráfico interestadual de drogas. Na sentença, destacou o risco de “risco concreto de reiteração delitiva”. O processo foi encaminhado para a 3ª Vara de Entorpecentes do DF.
O caso
Conforme revelaram as investigações da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), os três traficantes aliciaram o caminhoneiro para transportar a droga enquanto trabalhava em um frete de eletrônicos para uma transportadora. A empresa não tem qualquer participação no esquema.
O Metrópoles procurou os endereços dos suspeitos em banco de dados e encontrou que os três são do Distrito Federal. Sidney é morador de Ceilândia, José Eraldo, do Recanto das Emas e Francisco, do Guará. Já o motorista morava em Cocalzinho de Goiás, Entorno do DF. A carga, contudo, não teria como destino o Distrito Federal.
Segundo as investigações, a tragédia aconteceu após Cleomar inventar uma trama para enganar os traficantes e a transportadora que havia o contratado. A mentira culminou em uma tragédia nesta terça-feira (10/12): um tiroteio em meio a um posto de gasolina, deixando um vigilante morto e outro gravemente ferido.
Confronto
O crime foi inicialmente investigado como uma tentativa de assalto, após traficantes entrarem em confronto com os vigilantes armados em Taguatinga, mas as investigações da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) desvendaram os desdobramentos da ação.
Cleomar saiu de Manaus (AM) com destino à Serra (ES) levando eletrônicos a serviço de uma transportadora. Ele acabou sendo aliciado por traficantes para esconder, em meio à carga, a grande quantidade de droga.
O motorista confessou ser dependente químico e, no trajeto, fez uso de cocaína. Após cheirar uma quantidade excessiva de pó, ele passou mal e buscou atendimento em um hospital no Tocantins. Depois de ser medicado e se recuperar dos efeitos da droga, seguiu viagem com o caminhão.
Para disfarçar que tinha consumido o entorpecente e o atraso no percurso, Cleomar comunicou à empresa que havia sofrido uma tentativa de assalto.
A fim de proteger os eletrônicos, então, a transportadora enviou dois vigilantes para fazer a escolta do veículo no trajeto restante. Por sua vez, os traficantes não conseguiram mais entrar em contato com Cleomar e ficaram preocupados em perder o carregamento de supermaconha.
Um deles, na tentativa de intimidar Cleomar, chegou a enviar um áudio ameaçador, dizendo que portava um fuzil. Sem receber qualquer resposta do motorista, os traficantes decidiram pegar a estrada e seguir em direção ao caminhão. Foi nesse momento, já no Distrito Federal, que bandidos e vigilantes se encontraram e iniciaram uma troca de tiros que resultou na morte de Ronivon Lima Grolo, um dos vigilantes da escolta.
Morte
O tiroteio ocorreu na BR-070, na altura da QNM 40. A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) foi acionada e encontrou Ronivon já sem vida. O outro vigilante, identificado como Paulo Neres, foi levado em estado grave para o Hospital Regional de Ceilândia (HRC). Ele perdeu um pedaço do rim e do intestino.
No local do crime, os policiais militares encontraram marcas de pneu do carro de escolta e diversas cápsulas de fuzil. A PMDF também apreendeu quatro armas de fogo dentro do veículo dos vigilantes – uma pistola .40, dois revólveres calibre .38 e uma espingarda .12.
Empresa lamenta morte de vigilante
A empresa Judá Segurança Privada, responsável pela escolta do caminhão, lamentou a morte do vigilante Ronivon Lima Grolo nas redes sociais. No texto, a Judá Segurança Privada homenageou o funcionário, a quem chamou de “nobre guerreiro”. A empresa não comentou o fato de a carga ser ilegal.
Veja a nota completa:
“Hoje perdemos um nobre guerreiro que lutou com quantas forças tinha até o seu último suspiro. Fica o amor e a admiração que por ele sentimos. Você chegou em nossa Equipe e logo se tornou especial, uma parte importante de cada um de nós. A saudade será eterna. O que nos conforta é saber que você está em um lugar de paz. Descanse nos braços de Deus, onde o sofrimento não existe. Nossos sinceros sentimentos à família e amigos que neste momento de dor, enfrentam a perda de um grande profissional e ser humano. Sua memória sempre será honrada por nós.”