Comentários criminosos foram postados nas redes sociais após a divulgação do resultado do concurso, realizado na última quarta (24). Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância apura crime de injúria racial e racismo. Milla Vieira foi eleita ‘Miss Universe São Paulo’
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A Polícia Civil investiga os ataques racistas feitos contra a modelo Milla Vieira, recém-eleita Miss Universe São Paulo.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou que a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (DECRADI) do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) está ciente dos fatos divulgados e instaurou um inquérito policial para a apuração de crime de injúria racial e racismo.”
Os comentários criminosos foram feitos nas redes sociais, após a divulgação do resultado do concurso, realizado na última quarta-feira (24).
Diversos usuários escreveram contestando a vitória de Milla, uma mulher negra. Entre as frases, estão:
— Ganhou pela cota, só pode.
— Calado eu me deito, sem processo me levanto.
— Por que agora tem cota reservada nestes concursos?
— Perderam a noção de beleza mesmo, lacração tá f… hoje em dia.
Comentários racistas em publicação sobre a Miss São Paulo
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Em entrevista à GloboNews nesta quarta-feira (31), a modelo falou sobre o sonho de vencer o concurso e a indignação ao saber dos ataques.
“Eu ganhei um concurso que era meu sonho participar. No dia seguinte, quando eu abri a minha rede social, eu já comecei a entender e ver os ataques direcionados a mim de forma gratuita”, relatou a miss.
“Eu percebi que estou em todas as redes sociais, mas não de uma forma positiva. Infelizmente, de uma maneira bem negativa, as pessoas me comparando a animais”, relatou Mila depois que começou a ler os ataques racistas.
Também há comentários desse cunho nas fotos dela publicadas pela agência de modelos para a qual trabalha e nas postagens dos organizadores do concurso.
Miss Universe SP relata ataques racistas
“Se entre as 31 candidatas, todas tinham as mesmas chances, e eu fui fazendo meu trabalho dia após dia, me dedicando muito, me preparando muito. Era aula de comunicação, oratória. Eu ganho o concurso e não sou merecedora? Conversando com os meus coordenadores, eles me contaram que a minha vitória foi unanimidade entre os jurados”, relatou a miss.
“Por que agora tantos ataques de ódio me difamando, como se eu não fosse merecedora? Por que tanto incômodo? É tão difícil aceitar?”, completou.
Repúdio e punição
Gerson Antonelli, presidente do Miss Universe Brasil, afirmou que os autores de comentários racistas serão punidos de acordo com a Lei do Racismo.
“Venho, por meio desta, expressar minha indignação e repúdio contra certos indivíduos que usam as redes sociais para cometer crimes, incluindo racismo, pensando que ficarão ilesos de punição. Estou ciente sobre o assédio e bullying cometidos contra a Miss Universe São Paulo, Milla Vieira, através de comentários racistas que podem ser enquadrados na Lei 7.716/89”, disse ele.
Mila registrou um boletim de ocorrência e um inquérito foi aberto para apurar o caso. Responsável pelo Instagram, a Meta disse ao g1, em nota, que não vai comentar o caso.
A advogada Shirley Candido Claudino, membro da Comissão de Igualdade Racial e da Mulher Advogada da OAB-SP, Subseção Santo Amaro, disse que o caso de Milla “ilustra claramente as consequências do racismo estrutural e da hipocrisia social que permeiam nossa sociedade”.
“Isso não vai me derrubar. Me dá mais força para eu lutar pelos meus objetivos”, afirmou. “A gente não pode se calar diante da injustiça e da maldade. Essa mensagem que eu quero deixar: que nada possa parar os nossos sonhos”, finalizou Milla Vieira, recém-eleita Miss Universe São Paulo
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