Sobre o cantor Gusttavo Lima: em qual país do mundo um sujeito que aparece no noticiário como investigado por lavagem de dinheiro em um esquema de apostas eletrônicas vai parar nos jornais pouco tempo depois como eventual candidato a presidente da República?
No mesmo país em que o atual presidente da República foi condenado por lavagem de dinheiro — e corrupção — depois de ter a sua sentença anulada.
Eleger suspeito ou mesmo culpado de crime no Brasil nunca foi um problema para milhões dos nossos concidadãos. É natural, assim, que gente enrolada com a polícia busque refúgio no Palácio do Planalto. É o que Jair Bolsonaro também tenta fazer, apesar de inelegível no presente instante — o futuro, ao Olimpo do STF pertence.
Não estou dizendo que Gusttavo Lima seja culpado de nada, além do tê a mais incluído no seu nome artístico (o verdadeiro é Nivaldo).
Parêntese. A julgar pelo que o cantor declarou, contudo, há atenuante para o t a mais. Não é crença em numerologia. “Já existia um cantor chamado Gustavo Lima na Argentina, se não me engano. Aí não daria para fazer algumas questões comerciais, além de, claro, as redes sociais. Aí colocamos um tê a mais e deu tudo certo”, disse ele. Fecha parêntese.
Foi à jornalista Lilian Tahan que Gusttavo Lima disse que pretende se candidatar à presidência da República. Vejamos as razões nas suas próprias palavras:
“O Brasil precisa de alternativas. Estou cansado de ver o povo passar necessidade sem poder fazer muito para ajudar. Eu mesmo enfrentei muitas dificuldades na vida, mas aproveitei as oportunidades que recebi. Vim de uma condição bastante humilde, cheguei a perder três dentes, mas, claro, tive condições de me tratar, condição que muita gente não tem”, afirmou Gusttavo.
Achei peculiar a razão odontológica. Mas há mais:
“Chega dessa história de direita e de esquerda. Não é sobre isso, é sobre fazer um gesto para o país, no sentido de colocar o meu conhecimento em benefício de um projeto para unir a população.”
Gusttavo Lima não tinha três dentes e tem conhecimento. Conhecimento sobre o quê, exatamente?
“Conheço muita gente e, embora eu nunca tenha ocupado nenhum posto político, eu sou um empreendedor. Montei muitas empresas e sei como fazer para a roda girar. A gente tem que desburocratizar para o país funcionar melhor. Os pobres estão sem poder de compra, e o setor do agronegócio não aguenta mais pagar impostos e não ter benfeitorias para investir em seus próprios negócios. Eu acho que posso ajudar, talvez mude de ideia até 2026, mas hoje a minha disposição está muito inclinada para me tornar um candidato à Presidência da República em 2026.”
Gustavo Lima não tinha três dentes, tem conhecimento por conhecer muita gente, é tão empreendedor que está metido com apostas eletrônicas. Nada disso o faz capaz de ser presidente da República. É um candidato, portanto, em pé de igualdade com Lula e Jair Bolsonaro.
Jair Bolsonaro, aliás, ficou magoado com o que considera uma traição do cantor que sempre esteve associado ideologicamente a ele. Mas o ex-presidente não precisa levar o cantor a sério. Gusttavo Lima não será candidato a nada. É cascata, tanto é que ele afirmou que talvez mude de ideia até 2026. Gusttavo Lima é só um Luciano Huck da direita.