Mãe de bebê sequestrado em hospital de Goiânia há quase 27 anos luta por indenização milionária: ‘Naquele dia morri por dentro’

Menino nunca foi encontrado e sequestradora não foi identificada. Santa Casa de Misericórdia foi condenada por danos morais e materiais em 2007, mas alegou que não tem recursos para o pagamento. Mãe de bebê sequestrado em hospital de Goiânia há quase 27 anos luta por indenização
“Naquele dia, eu morri por dentro”, assim descreveu Kênia Almeida sobre o momento em que uma mulher sequestrou seu filho recém-nascido em 1997, no Hospital Santa Casa de Misericórdia de Goiânia. Vestida de enfermeira, a mulher pediu para levar o bebê ao berçário para trocar a roupa. Desde então, a mãe não teve nenhuma notícia do filho e agora luta por uma indenização milionária que a unidade foi condenada a pagar.
“Lembro dela desaparecendo na porta e, daquele dia para cá, eu não tive uma notícia sequer. Tentei continuar, mas não consegui. Tentei viver. O fato de não ter nenhuma notícia e de nada acontecer [com o hospital] me destrói por dentro”, desabafou Kênia, emocionada.
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O pequeno Matheus Almeida foi sequestrado em 30 de agosto de 1997, quando Kênia tinha 17 anos. Desde então, a família acumula angústias, afinal, a polícia encerrou o inquérito por falta de indícios de autoria do crime. O processo criminal foi arquivado em 2002 por falta de provas, e nunca surgiram pistas sobre o menino ou a sequestradora.
“Tentei continuar. Tive outra filha, tive um relacionamento, mas dentro de mim nada muda. Desenvolvi problemas, transtornos e vício em remédios tarja preta porque eu não queria viver, não queria sentir a dor, não queria lembrar porque me dói. Me machuca o fato de não ter feito justiça”, lamentou.
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Em conversa ao lado da família, o g1 ouviu Kênia, hoje com 44 anos, para entender o caso. Emocionada, durante a entrevista, ela teve o apoio da tia, Maria Luzanilde, e da irmã, Kelly de Almeida. Confira abaixo detalhes do caso e reportagens que a TV Anhanguera e o jornal O Popular produziram na época do crime.
Gravidez
Kênia Almeida teve o filho recém-nascido sequestrado no Hospital Santa Casa Misericórdia Goiânia, em Goiás
Arquivo/Grupo Jaime Câmara
O primeiro depoimento de Kênia à Polícia Civil foi em 2 de setembro de 1997, após o sequestro, quando ela detalhou o caso desde a gravidez. Ela contou que, em 1995, conheceu seu professor, que também era policial civil, e ministrava aulas de física e química. Na época, ele mantinha um relacionamento com outra aluna. Ocasionalmente, os três saíam juntos, e, depois de um tempo, Kênia percebeu que o professor estaria interessado nela, alegando que ele terminou com a outra moça, segundo o relato.
Eles tiveram uma breve relação, segundo Kênia, e a colega afastou-se dele. Na época, o homem era separado da esposa e morava com três filhas, além de ter duas filhas fora do casamento. Em meio ao caso, Kênia descobriu a gravidez com cerca de três meses de gestação.
“Minha mãe foi a pessoa que mais me apoiou. Ela cuidou bastante de mim, e eu tive uma gravidez tranquila”, relatou Kênia.
Kênia Almeida teve o filho recém-nascido sequestrado no Hospital Santa Casa Misericórdia de Goiânia, em Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
No entanto, a reação do professor foi diferente. Após contar para ele que estava grávida, o homem disse que tinha um exame que comprovava que ele não poderia ter filhos. A ficha médica mostrava que o procedimento tinha sido realizado em 15 de julho de 1996. Em 29 de agosto de 1996, ele fez um exame que mostrou que ainda era fértil. Somente em 2 de janeiro de 1997 um novo exame mostrou que ele era infértil. Por isso, a esterilidade do professor só pôde ser comprovada nesta data, conforme o laudo.
O depoimento de um dos médicos da Santa Casa apontou que Kênia teve o filho em agosto de 1997, com 41 semanas de gestação. Com isso, a estimativa é de que a gestação teria iniciado-se no final de 1996, ou seja, quando o homem ainda era fértil.
Em depoimento, uma tia de Kênia contou que o professor pediu para a sobrinha abortar. Os pais da jovem o chamaram em casa e ele disse que ia esperar a criança nascer para comprovar se era filho dele ou não. Se fosse, ele se comprometeu a assumir a criança e cortou relações, conforme argumentou à polícia.
Os documentos mostram que o professor confirmou à polícia que se relacionou com Kênia e com a outra moça, mas negou que tenha pedido para ela abortar. Segundo o homem, ele não sabia sequer onde ela daria à luz e não acompanhou a gravidez.
O g1 não localizou o professor para saber se ele comentaria o caso. No Portal da Trânsparência de Goiás, consta que ele se aposentou no cargo de agente de polícia.
O dia do parto
Foto do leito do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Goiânia na época que o filho de Kênia Almeida foi sequestrado na unidade, em Goiás
Reprodução/Inquérito Policial
Na tarde de 29 de agosto de 1997, Kênia foi com a mãe, a avó e duas tias para o hospital, esperando o nascimento do filho. Ela contou que foi atendida por um médico diferente do que havia feito o pré-natal, foi internada e seguiu para a sala de cirurgia às 15h35. A cesariana foi realizada, Kênia viu o filho e foi levada para a enfermaria sonolenta devido à anestesia.
“Eu estava sentindo muita dor quando a anestesia passou. Então, subi para o quarto. Eles me levaram de maca e colocaram o bebê perto de mim. Fiquei com ele até umas 5 da manhã, não me recordo bem”, disse Kênia.
Na enfermaria, havia mais mulheres internadas. Uma enfermeira levou o filho para ela amamentar e a ajudou a fazer o menino “pegar o peito”. A enfermeira saiu e deixou o filho com ela.
“Lembro que eu não estava conseguindo amamentar. Eu tentei, mas não conseguia porque estava sozinha após a cesariana. É difícil se mexer e minha cesariana doeu muito depois que a anestesia passou”, relembrou Kênia.
Berçário do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Goiânia na época que o filho de Kênia Almeida foi sequestrado na unidade, em Goiás
Reprodução/Inquérito Policial
Por volta das 4h, o bebê começou a chorar e Kênia tentou amamentá-lo, mas ele não pegava o peito. Pouco depois, a sequestradora entrou no quarto e disse que queria levá-lo ao berçário para trocá-lo. A mãe disse que a agulha do soro havia saído e pediu à suposta enfermeira para trocá-la, mas a mulher disse que mandaria outro profissional para trocar o soro, pois levaria o bebê ao berçário.
Depois, outra enfermeira entrou na enfermaria e Kênia pediu a troca do soro e para ir ao banheiro. A profissional perguntou onde estava o bebê e Kênia contou que outra enfermeira o havia levado.
“A enfermeira perguntou: ‘cadê seu bebê?’, e eu falei que o levaram para o berçário. Ela disse que não. Aí começou o desespero”, descreveu Kênia. Nesse momento, a enfermeira percebeu que a criança não estava no berçário e detectou que se tratava de um sequestro.
“Quando falaram que tinham levado o bebê, eu fiquei sem chão. Eu me sinto culpada por ter entregue. Desapareceu em um segundo; quando ela pegou, eu ainda olhei, sabe? Por um minuto pensei em não entregar. Pensei em chamá-la de volta”, desabafou Kênia.
No depoimento, o homem apontado como pai do menino contou que um delegado ligou para ele no dia 30 contando do sequestro e, mesmo “sabendo que não era o pai”, se preocupou e foi ao hospital com a amiga de Kênia com quem ele se relacionava. À polícia, a moça confirmou as mesmas informações ditas pelo professor.
Foto do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Goiânia na época que o filho de Kênia Almeida foi sequestrado na unidade, em Goiás
Reprodução/Inquérito Policial
Veja reportagem feita pela TV Anhanguera após o sequestro:
Veja reportagem da TV Anhanguera sobre bebê sequestrado em hospital de Goiânia em 1997
A sequestradora
Relatos dos funcionários e da própria Kênia, feitos na época, apontaram que a mulher que sequestrou o menino tinha, em média, 1,65 metro de altura, era morena e tinha olhos castanhos. No momento do crime, ela usava trajes brancos e óculos.
A perícia fez diversos retratos falados, mas a mulher nunca foi identificada. Veja fotos retiradas do inquérito policial:
Retratos falados de sequestradora do filho de Kênia Almeida, raptado no Hospital Santa Casa de Misericórdia de Goiânia, Goiás
Reprodução/Inquérito Policial
Traumas
Tomada por um sentimento de vazio, Kênia lembra que sofreu quando saiu do hospital sem o filho, após cerca de dois dias de internação. Para ela, é uma ferida que sangra, mesmo após mais de duas décadas.
“Eu deixei o enxoval guardado durante muito tempo porque eu não queria me desfazer dele de jeito nenhum, mas eu não podia ficar com ele, ia desgastar, então eu dei para a minha filha em 2006”, disse Kênia.
Kênia Almeida teve o filho recém-nascido sequestrado em no Hospital Santa Casa Misericórdia Goiânia, em Goiás
Arquivo/Grupo Jaime Câmara
Sem rumo após o sequestro, Kênia se viu viciada em remédios, com transtornos psicológicos, e precisou ser internada em clínicas psiquiátricas várias vezes. “Ela não consegue ficar sem remédio hoje, já chegou a tomar mais de 40 comprimidos. Ela não consegue nem trabalhar”, contou Kelly Almeida, irmã de Kênia.
Por anos, ela não conseguiu sequer falar sobre o assunto com a família, até que teve depressão profunda em 2016. Ao g1, Kênia contou que não saía do quarto e sequer conseguia comer.
“De 1997 até 2016, eu passei por tudo sozinha. Eu chorava todos os dias quando minha família ia trabalhar. Lembro que eu chorava a tarde inteira. Quando eles estavam chegando, eu limpava minhas lágrimas. Não queria que eles vissem que eu estava sofrendo tanto”, relatou Kênia.
No ano em que a situação de Kênia se agravou, sua filha tinha 12 anos. Segundo Kênia, até a filha sofre ao vê-la triste. “Imagine você passar uma vida inteira se perguntando onde está, com quem está, se está bem, se está mal, se come… Sangra. E vou à psicóloga, psiquiatra, tomo remédios, troco para outros remédios e assim vou vivendo”, pontuou.
“Até assistir novelas que têm essa temática eu não consigo porque me faz relembrar. E quando eu revivo tudo aquilo, me machuca muito. Reviver tudo aquilo e saber que eu não pude fazer nada. Você se sente impotente, porque eu não tenho como fazer nada, só a Justiça”, finalizou.
Como começou a investigação?
Kênia Almeida teve o filho recém-nascido sequestrado em no Hospital Santa Casa Misericórdia de Goiânia, em Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
O g1 obteve, com exclusividade, a íntegra do inquérito policial que destacou um detalhe que chamou atenção na época. Cerca de quatro anos antes do sequestro de Matheus, um caso parecido foi registrado na mesma unidade. Um bebê foi sequestrado na mesma enfermaria e no mesmo leito onde o filho de Kênia estava. Segundo o processo, a mulher que cometeu o crime trabalhava na unidade.
Era madrugada do dia 30 de agosto de 1997 quando o então presidente da Santa Casa de Misericórdia, Antônio Afonso Ferreira, recebeu uma ligação informando que o bebê de Kênia havia sido sequestrado na unidade. Neste momento, ele procurou a polícia para denunciar o crime.
A partir disso, a vida de Kênia e de sua família passou a ser investigada pela imprensa e pela polícia. A primeira suspeita levantada pela família foi a do professor, que negou a autoria o tempo todo.
“Quando nós chegamos ao hospital, ele já estava lá. Parece que foi uma coisa bem planejada”, disse a tia de Kênia, referindo-se ao professor.
Funcionários negaram ter visto algo
Foto do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Goiânia na época que o filho de Kênia Almeida foi sequestrado na unidade, em Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
Diversos funcionários do hospital, como enfermeiros, vigilantes e auxiliares de enfermagem, prestaram depoimento à polícia, e as informações ditas por eles seguiam a mesma linha. Eles afirmaram que não viram o crime acontecer e mencionaram detalhes da noite do fato. Os servidores detalharam que Kênia estava no leito 104, e a paciente do leito 106 informou a eles que viu a mulher pegar o bebê.
Um dos relatos descreve que Kênia recebeu visitas da equipe por vários momentos da noite e, às 4h40, o soro foi reinjetado e o bebê já não estava com a mãe, que, segundo os depoimentos, não disse nada. Os funcionários relataram que, para entrar na enfermaria, a pessoa deveria passar por um corredor de acesso e em frente ao posto dos servidores, sendo vista se os funcionários não estivessem sentados. No Inquérito Policial foi comprovado que as câmeras estavam com defeito
“Eles não viram nada, lá tem câmera, mas nesse dia a câmera tava estragada. Em qualquer hospital, você não entra sem identificação. Eu nem sei como essa pessoa entrou lá dentro”, desabafou a tia de Kênia.
“Eles falaram que não tinha câmera, que não tinha nada. E tinha. O que a equipe de segurança fazia?”, completou Kênia.
Veja galeria de fotos feitas pela perícia no hospital
Ajuda de detetive e pistas
Desesperada por notícias, a mãe de Kênia chegou a contratar um detetive para buscar informações sobre o paradeiro do menino. No entanto, o profissional não obteve informações relevantes sobre o crime.
Kelly contou que a família chegou a receber um fio de cabelo enviado de São Paulo, de uma pessoa dizendo que pertencia a uma mulher que apareceu com uma criança de forma suspeita. O contato foi feito com a família por e-mail.
“Não deu para fazer o DNA, porque o cabelo que foi mandado pra gente não teve como fazer o DNA na época”, relembrou Kelly.
Kênia Almeida teve o filho recém-nascido sequestrado em no Hospital Santa Casa Misericórdia Goiânia, em Goiás
Arquivo/Grupo Jaime Câmara
Demora na Justiça
O inquérito policial foi instaurado logo após o crime, em 1997, no 4º Distrito Policial. Em 1998, a investigação comprovou que o homem apontado como pai do bebê mentiu ao afirmar que não acompanhou a gravidez. A tia de Kênia desmentiu tal alegação e afirmou que ele foi visto perto do hospital na época do pré-natal.
O delegado responsável pelo caso detalhou que foi comprovado que, na véspera da internação de Kênia, o homem a seguiu de perto, acompanhado por duas mulheres no banco do passageiro do seu carro. O inquérito policial foi encerrado sem informações sobre a autoria do crime e o paradeiro do menino.
A polícia argumentou que o sequestro estaria restrito a Kênia ou ao professor, com maior possibilidade de ser o homem. O delegado pontuou que o Ministério Público iria propor uma ação pelo sequestro e, em razão do professor ser agente de polícia, deixou de indiciá-lo e sugeriu que o caso fosse investigado pela corregedoria da instituição. Então, a investigação continuou.
Hospital “deixou a desejar ” na segurança
Foto do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Goiânia na época que o filho de Kênia Almeida foi sequestrado na unidade, em Goiás
Reprodução/Inquérito Policial
Na época, o delegado de polícia corregedor solicitou uma perícia na Santa Casa, que foi realizada em setembro de 1998. Os peritos tiraram fotos, analisaram todo o prédio e concluíram que não era fácil acessar o local onde Kênia estava com o filho.
“No dia do rapto, a enfermaria estava lotada, oferecendo certa dificuldade ao indiciado para localizar o menor. Para evitar erros, o indiciado deveria conhecer bem a mãe, o local ou ter sido instruído por pessoas que ali trabalham”, detalhou a perícia.
A perícia concluiu que não houve arrombamentos de portões e que a pessoa que sequestrou o bebê deveria conhecer bem o local, ou ser conduzida e acompanhada por pessoas que frequentam a unidade. O laudo apontou também que o hospital “muito deixou a desejar” no quesito segurança, pois é um local muito grande para ser vigiado apenas por dois vigilantes, um na portaria central e outro na parte dos fundos.
Falta de provas e arquivamento
Kênia Almeida teve o filho recém-nascido sequestrado em no Hospital Santa Casa Misericórdia de Goiânia, em Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
Em junho de 1999, a corregedoria da Polícia Civil argumentou que ainda não havia indícios da autoria do crime e sugeriu que o caso fosse encaminhado à Justiça. O Ministério Público de Goiás (MP-GO) pediu que os envolvidos fossem ouvidos novamente.
Kênia, o professor, funcionários do hospital e outras testemunhas foram ouvidos. O caso seguia na Justiça e, em algumas ocasiões, o MP-GO determinou novos esforços para solucioná-lo. Em abril de 2001, a delegada se afastou do caso para integrar a comissão de processo disciplinar, e outro delegado assumiu a investigação.
Em outubro de 2001, a polícia informou que, apesar das diligências, não foi possível obter informações sobre o paradeiro do bebê e a autoria do crime. O delegado narrou que todos os esforços foram feitos, mas nenhum elemento ajudou na elucidação do caso.
O inquérito aponta também que o MP-GO não vislumbrou nenhuma diligência adicional que pudesse ser feita para resolver o caso e pediu o arquivamento em 7 de novembro de 2001. A Justiça acatou o pedido e arquivou o caso em 14 de dezembro de 2001. No ano seguinte, um dos advogados de Kênia pediu vistas e, por fim, o processo foi remetido ao arquivo judicial em 23 de dezembro de 2002.
Veja reportagem do Jornal O Popular feita sobre o caso em 1998:
Reportagem do jornal O Popular sobre o sequestro do filho de Kênia Almeida na Hospital Santa Casa Misericórdia de Goiânia, em Goiás
Arquivo/Grupo Jaime Câmara
Indenização
Em 2007, a Santa Casa de Misericórdia de Goiânia foi condenada a pagar R$ 50 mil por danos materiais e morais, com juros de 6% ao ano, desde a data do crime, em 29/08/1997. A decisão foi assinada pela juíza Denise Gondim de Mendonça, da 7ª Vara de Família, Sucessões e Cível.
Com a correção monetária, atualizada em 25/06/2024, a dívida da unidade é de R$ 2.389.808,54. O processo está suspenso pelo prazo de um ano, a fim de averiguar a existência de novos saldos e bens.
“A Santa Casa, em nenhum momento, buscou algum tipo de composição ou acordo. Nunca forneceu uma resposta conclusiva a Kênia e, durante o processo, sempre alegou que suas verbas são destinadas à saúde e não poderiam ser usadas para liquidar a dívida com Kênia, em razão da condenação já imposta”, explicou o advogado Hebert Valentim.
Hospital Santa Casa de Misericórdia de Goiânia em Goiás
Reprodução/Google Maps
A Santa Casa de Misericórdia de Goiânia apresenta alguns fundamentos em sua contestação. A unidade argumenta que os pedidos de indenização por danos morais são indevidos e pede que sejam julgados improcedentes devido à falta de sintonia entre os motivos que sustentam a reparação moral e a conduta da autora desde a época dos fatos.
“Eu me sinto impotente, injustiçada. Eu espero que as pessoas possam saber o que aconteceu comigo e, de alguma forma, a Justiça seja feita. Eu quero que a Santa Casa pague pelo que me fizeram. Foi lá que eu ganhei meu filho, e eles tinham a responsabilidade”, desabafou Kênia.
“O que minha mãe mais queria era que fosse feita Justiça. Enquanto ela esteve aqui, ela fez o que pôde. Até o fim. Ver a Kênia nessa situação machucava muito minha mãe. Eu acho que a indenização é o mínimo. Não vai reparar, mas vai dar uma qualidade de vida melhor para ela”, completou Kelly de Almeida, irmã de Kênia.
“Ela ficou tão doente e depressiva, isso acabou com a vida dela, uma menina jovem como ela. Ela perdeu a esperança na vida. Não quis mais nada. Dinheiro não traz felicidade para ninguém, não traz nada de volta, mas, pelo menos, pode suprir o que ela precisa. A Justiça tem que entender que ela precisa disso”, disse Maria Luzanilde, tia de Kênia.
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O que diz a Santa Casa?
Ao g1, o Hospital Santa Casa de Misericórdia Goiânia argumentou que usou todos os recursos disponíveis na época para identificar a autoria do crime, avaliado como “gravíssimo”, e afirmou que colaborou com o inquérito policial.
O hospital pontuou que, “concomitante ao trâmite do inquérito”, Kênia pediu uma indenização reparatória em razão de “sua perda inestimável”. A unidade reforçou que foi condenada em 2007 por danos morais, mas alegou que não tem recursos para o pagamento.
“O hospital enfrenta sérias dificuldades financeiras que não lhe permitem dispor de recursos além dos que são empregados nas suas relevantes atividades de prestação de serviços de saúde à população. Eis a razão, portanto, de esta instituição filantrópica, até a presente data, não ter reunido as condições necessárias para reparar o dano experimentado pela vítima deste fato grave.”, detalha um trecho da nota (leia o posicionamento completo no fim da reportagem).
Futuro
Kênia Almeida teve o filho recém-nascido sequestrado em no Hospital Santa Casa Misericórdia de Goiânia, em Goiás
Michel Gomes/g1 Goiás
Kênia chorou ao falar que não tem esperança de obter informações sobre o filho desaparecido há quase 27 anos. A mulher contou que nunca conseguiu trabalhar desde então. Recentemente, ela pediu ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) um benefício previdenciário para ajudar nos custos básicos de sua vida.
“A gente espera um retorno conclusivo do INSS, mas se já houve a perícia médica, ela constatou, sim, a necessidade de auxílio em decorrência de todos os traumas que ela viveu ao longo da vida”, explicou o advogado Hebert Valentim.
Na contramão do que pensa Kênia, a tia Maria Luzanilde ainda tem esperança. “Nesse mundo, nada é encoberto por muito tempo. Pode passar anos, mas uma hora será descoberto”, finalizou.
Nota da Santa Casa na íntegra
O Hospital Santa Casa de Misericórdia de Goiânia vem a público esclarecer o episódio relacionado a um caso de rapto de recém-nascido ocorrido nas dependências do hospital ano de 1997. O hospital utilizou de todos os recursos cabíveis à época para identificar a pessoa que praticou este crime gravíssimo, inclusive colaborando com o inquérito policial instaurado pelo 4º Distrito Policial desta capital. Concomitante ao trâmite do inquérito, a mãe do menor subtraído e também vítima do crime, ingressou em juízo em busca de uma indenização reparatória em razão de sua perda inestimável.
No ano de 2007, sobreveio sentença condenatória impondo à Santa Casa a obrigação de pensionar a mãe do menor e, também, uma indenização por dano moral, no valor de R$ 50.000 (CINQUENTA MIL REAIS). Ocorre que, o hospital convive com sérias dificuldades financeiras que não lhe permitem dispor de recursos para além dos que são empregados nas suas relevantes atividades de prestação de serviços de saúde a população.
Eis a razão, portanto, de esta instituição filantrópico, até a presente data, não ter reunido as condições necessárias para compor o dano experimentada pela vitima desse fato grave. Vale destacar que, a atual gestão vem trabalhando desde o final de 2017 para que a população receba toda a assistência de qualidade e necessária ao pleno restabelecimento das condições de saúde e segurança.
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