Em agosto, nos vemos (Por Bruno Fabricio)

Uma década após a morte de Gabriel García Márquez, e vinte anos depois do lançamento de seu último romance, o mundo literário foi presenteado com uma nova e surpreendente história intitulada Em agosto nos vemos (2024), uma obra póstuma que imediatamente cativou os leitores e críticos. Traduzido para o português por Eric Nepomuceno, amigo próximo e colaborador de García Márquez, este livro oferece uma narrativa rica e complexa, fiel ao estilo inconfundível do autor colombiano.

Nepomuceno, que traduziu muitas obras de García Márquez (Gabo) ao longo de sua vida, descreve em uma entrevista ao Canal Arte1 a experiência de traduzir este derradeiro romance como uma tarefa extenuante, mas profundamente gratificante. Ele traduziu o livro em apenas 27 dias, um período durante o qual se dedicou exclusivamente a essa atividade, seguido de três meses de revisões meticulosas. A ausência de García Márquez foi sentida intensamente por Nepomuceno, mesmo não consultando o autor sobre as nuances de suas traduções, sempre telefonava para o vencedor do Nobel para rir e contar piadas. A partida de Gabo deixou um vazio profundo em sua alma e em todos nós, amantes e admiradores da boa literatura.

Em agosto nos vemos gira em torno de uma mulher de quarenta e seis anos, conhecida inicialmente apenas como AMB, que anualmente pega uma barca para uma pequena ilha para visitar o túmulo de sua mãe. Este ritual é tanto um ato de amor quanto uma busca por compreensão e paz interior. A protagonista, depois revelada como Ana Magdalena Bach — nome que ecoa o da segunda esposa de Johann Sebastian Bach, mas com uma variação na ortografia — é uma personagem fascinante e multifacetada.

O vínculo que o leitor desenvolve com Ana Magdalena se constrói lentamente, baseado em suas ações e interações, seja na casa onde vive ou nos hotéis onde se hospeda durante suas visitas anuais à pequena ilha. Ela personifica uma visão feminista inédita na obra de García Márquez, que, embora narrada por um homem, é contada do ponto de vista de uma mulher. Esse enfoque feminista destaca a evolução do estilo do autor colombiano, adicionando uma nova dimensão à sua obra. Segundo Nepomuceno: “as personagens femininas dele sempre foram absolutamente marcantes, porém circunstanciais. Apareciam, definiam a história, reapareciam, mudavam o rumo da história. Sempre fundamentais. Neste livro, essa mulher marcante deixa de ser marcante para passar a ser a personagem central”.

A protagonista de Em agosto nos vemos, é uma figura fascinante, imbuída de uma profunda erudição e um amor intenso pela literatura. Desde jovem, Ana sempre foi uma ávida leitora. Estudou Artes e Letras, quase concluindo o curso, e dedicou-se com rigor aos clássicos. Sua paixão, no entanto, estava nos romances, especialmente os longos e trágicos, que lia com voracidade. Desprezava os livros da moda, preferindo mergulhar em obras como Frankenstein de Mary Shelley e O Estrangeiro de Albert Camus, entre outros títulos clássicos que povoavam suas leituras.

A vida de Ana também é cercada por uma presença constante e inescapável: a música. Casada com um maestro e diretor do Conservatório Estadual, e mãe de uma jovem que está de namorico com um trompetista de jazz e de um filho que ascende a solista na Orquestra Filarmônica, a família toda demonstra-se musicalmente talentosa. Ana, apesar de seu amor pela música tentou, sem êxito, aprender a tocar trompete.

Durante suas visitas à ilha, a música e a literatura se entrelaçam na vida da protagonista. Seus encontros amorosos são embalados por boleros e valsas, criando uma atmosfera de romance e melancolia. A erudição de Ana permeia a narrativa, refletindo sua busca por sentido e beleza em meio aos altos e baixos da vida.

Sua personagem encarna a profundidade emocional e a riqueza intelectual que Gabriel García Márquez infunde em suas obras, tornando Em agosto nos vemos uma leitura inesquecível.

Além disso, a narrativa explora a complexidade do matrimônio e da individualidade dentro das convenções sociais. Ana Magdalena, com seus “olhos dourados, a virtude das poucas palavras e a inteligência para controlar seu temperamento”, herda essas características de sua mãe, influenciando suas ações e decisões ao longo do livro. As visitas anuais à ilha não são apenas um tributo à mãe, mas também momentos de introspecção profunda, onde Ana reflete sobre sua vida, seu casamento e suas escolhas.

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