Edneia Fernandes Silva, de 31 anos, estava sentada no banco de uma praça em Santos (SP), quando o tiro acertou a parte de trás da cabeça dela, durante a Operação Verão, em março deste ano. Coronel da PM afirma que bala perdida que matou mãe de seis foi disparada por PM
Edneia Fernandes Silva, de 31 anos, que morreu após ser atingida por uma bala perdida na cabeça em uma praça, durante a Operação Verão, em Santos (SP), foi atingida por um disparo efetuado por um policial militar, de acordo com o laudo expedido pela Polícia Técnico-Científica. Agora, o Inquérito Policial Militar (IPM) será encaminhado à Justiça Militar, que dará continuidade ao processo na esfera judicial.
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Em entrevista ao repórter Gianvitor Dias, da TV Globo, o chefe da Comunicação Social da Polícia Militar, o Coronel Emerson Massera, disse que a ocorrência começou com a perseguição de criminosos em atitude suspeita, sendo que, em determinado momento, eles dispararam cinco vezes contra os PMs.
“Um dos policiais, para se defender, efetuou apenas um disparo. Só esse policial efetuou o disparo e a perícia identificou que justamente esse disparou atingiu a senhora Edneia, o qual nós lamentamos muito”, afirmou Massera.
Edneia deixou seis filhos, sendo a última gestação há pouco mais de 1 ano. Ela morreu em Santos após ser atingida por uma bala perdida
Arquivo pessoal
De acordo com o coronel, o policial militar que efetuou o disparo foi afastado e transferido para outro batalhão, também no litoral paulista. Ele informou, ainda, que não vê elementos para pedir a prisão preventiva do autor do disparo.
“Nós tínhamos até então a materialidade de um homicídio. Agora nós temos a materialidade e a autoria. O policial evidentemente não quis causar esse homicídio, por isso nós estamos trabalhando com homicídio culposo [quando não há a intenção de matar]”, disse.
Na última semana, em entrevista ao repórter Walace Lara, da TV Globo, o marido de Edneia, o vigia Givaldo Manoel da Silva Júnior, cobrou a conclusão da investigação sobre a morte da companheira, que estava sem desfecho mesmo após 3 meses do homicídio.
“Não é só para mim, é para os meus filhos também. Não estou aqui pedindo nada, só quero o inquérito policial da minha esposa. […] Só quero deixar meus filhos aliviados pelo o que aconteceu e que a Justiça que seja feita”, disse ele.
Famílias cobram agilidade em investigações de mortes na baixada santista
Relembre o caso
A prima de Edneia, Thayna Santos, disse à época que a mulher ficou internada em estado grave, desde que foi baleada, por volta das 18h de 27 de março na Praça José Lamacchia, no bairro Bom Retiro. A morte foi confirmada na noite de 28 de março.
De acordo com o boletim de ocorrência, Edneia estava sentada no banco da praça conversando com uma amiga. Segundo a prima, ela havia acabado de deixar um dos seis filhos no barbeiro quando foi baleada.
Thayna criticou a postura da PM quando a vítima levou o tiro, pois, segundo ela, não teve operação para resultar no disparo. “Não houve operação, só três motos da Rocam que passaram […]. Um único tiro vindo do policial foi o que atingiu ela”
Edneia Fernandes Silva, de 31 anos, foi atingida por bala perdida na cabeça no bairro Bom Retiro, em Santos
Reprodução/Redes Sociais
De acordo com o BO, após o tiro, testemunhas socorreram a vítima e a levaram à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Zona Noroeste. Em seguida, ela foi transferida à Santa Casa de Santos.
Thayna disse que os moradores das comunidades querem viver em paz e criar os filhos com dignidade. “Precisamos de amparo real, afinal, a polícia deveria proteger a população e não destruir a vida de inocentes. […] não é justo tratarem as famílias da comunidade como lixo, como se fôssemos bichos”.
Versão do BO
Tiroteio ocorreu na Praça José Lamacchia, no bairro Bom Retiro, em Santos (SP)
Thais Rozo/g1
Policiais militares da Rocam faziam patrulhamento em motos pela Avenida Hugo Maia, sentido Jovino de Melo, quando viram uma motocicleta em alta velocidade entrando na avenida. Eles pediram para o motociclista parar, mas o piloto não obedeceu, fugiu e entrou na praça.
Para se resguardar, a equipe da PM parou de acompanhar o veículo e ficou parada no cruzamento da Avenida Hugo Maia com a Jovino de Melo. Neste momento, segundo o boletim de ocorrência, o motociclista e o garupa teriam atirado aproximadamente cinco vezes em direção aos agentes.
Um dos PMs reagiu e efetuou um tiro contra os suspeitos. Em seguida, os homens abandonaram a moto e correram em direção ao beco da praça, disparando mais cinco vezes. Os policiais fizeram o retorno pela Rua Washington de Almeida e acessaram a praça pelo lado oposto.
A moto foi encontrada sem a chave na ignição. Em pesquisa no sistema, a equipe constatou que não havia queixas de crimes envolvendo o veículo. Durante essa consulta, eles foram informados por testemunhas de que a mulher em questão havia sido baleada e socorrida.
No baú da moto, a PM encontrou um conjunto de capa de chuva preto, um boné vermelho e um carregador de celular. Também foi requisitada perícia para o local e exame residuográfico para as mãos do PM que fez o disparo. A pistola dele também foi apreendida.
O caso havia sido registrado como homicídio tentado e localização e apreensão de veículo na Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Santos. Os suspeitos não foram encontrados. O veículo abandonado foi encaminhado para as dependências do 7º Distrito Policial (DP).
Operação Escudo
PM da Rota morto era da capital de SP e estava em serviço quando foi atingido por criminosos
Arquivo Pessoal
A Operação Escudo foi deflagrada na região após a morte do PM da Rota Patrick Bastos Reis, em julho de 2023. Na ocasião, o agente foi baleado durante patrulhamento em Guarujá (SP).
Nos 40 dias de ação, segundo divulgado pelo secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, 958 pessoas foram presas e 28 suspeitos morreram em supostos confrontos com policiais. Desde o início da ação, instituições e autoridades que defendem os direitos humanos pediam o fim da operação.
Operação Verão
José Silveira dos Santos (à esq.) e Samuel Wesley Cosmo (à dir.)
Reprodução
A Operação Verão foi estabelecida na Baixada Santista desde dezembro de 2023. No entanto, as 2ª e 3ª fases, que contaram com reforço policial, foram decretadas logo após os assassinatos do soldado PM Samuel Wesley Cosmo, no último dia 2, e do cabo José Silveira dos Santos, no dia 7 de fevereiro.
A Defensoria Pública de São Paulo, em conjunto com a Conectas Direitos Humanos e o Instituto Vladimir Herzog, pediu à Organização das Nações Unidas (ONU) o fim da operação policial na região e a obrigatoriedade do uso de câmeras corporais pelos policiais militares.
Mortes de policiais
No dia 26 de janeiro, o policial militar Marcelo Augusto da Silva foi morto na rodovia dos Imigrantes, na altura de Cubatão. Ele foi baleado enquanto voltava para casa de moto. Uma grande quantidade de munições estava espalhada na rodovia. O armamento de Marcelo, no entanto, não foi encontrado.
Segundo a Polícia Civil, Marcelo foi atingido por um disparo na cabeça e dois no abdômen. Ele integrava o 38º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M) de São Paulo, mas fazia parte do reforço da Operação Verão em Praia Grande (SP).
Policiais militares Marcelo Augusto da Silva, Samuel Wesley Cosmo e José Silveira dos Santos, mortos na Baixada Santista (SP)
Reprodução/Redes Sociais e g1 Santos
No dia 2 de fevereiro, o policial das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Samuel Wesley Cosmo morreu durante patrulhamento de rotina na Praça José Lamacchia. O agente chegou a ser socorrido para a Santa Casa de Santos (SP), mas morreu na unidade.
Uma gravação de câmera corporal obtida pelo g1 mostra o momento em que o soldado da Rota foi baleado no rosto durante um patrulhamento no bairro Bom Retiro (assista abaixo).
Vídeo mostra o PM da Rota sendo baleado no rosto em viela no litoral de SP
Cinco dias depois, o cabo PM José Silveira dos Santos, do 2⁰ Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP), morreu ao ser baleado durante patrulhamento no bairro Jardim São Manoel, em Santos. Na ocasião, outro policial militar foi baleado e está internado.
VÍDEO: g1 em 1 Minuto Santos
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