Polícia afirma que um condomínio de 300 apartamentos foi construído com o dinheiro do tráfico. Bandidos da Maré usam associação de moradores para extorquir dinheiro de vendedores e lavar dinheiro do tráfico, diz polícia
Uma investigação da Polícia Civil aponta que a Associação de Moradores do Parque União, que fica no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, tem forte ligação com a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas. O local foi alvo de mandados nesta quarta (3) e uma das ligações com o crime seria um condomínio irregular de mais de 300 apartamentos.
A operação foi feita para cumprir 16 mandados de prisão e oito de busca e apreensão contra o Comando Vermelho, a maior facção do tráfico de drogas do estado. Um dos procurados é Jorge Luís Moura Barbosa, o Alvarenga, chefe do CV na comunidade e integrante da alta cúpula da facção.
Segundo as investigações da DRE, a associação de moradores e seus dirigentes servem como laranjas em diversos estabelecimentos no Parque União para lavar o capital acumulado com o comércio de drogas.
Um mini-bairro foi construído dentro da comunidade com 41 prédios e mais de 300 apartamentos, em um período de 1 ano e meio. Cerca de 200 pessoas já moram no local – o que não chega a 90% da capacidade.
A região, que está sendo chamada de Nova Canaã, é mais uma das formas do tráfico explorar o comércio, segundo a polícia. Nas paredes dos imóveis, os policiais encontraram cartazes da associação, incluindo um que dizia que o despejo irregular de lixo era passível de multa.
A investigação aponta ainda que um ex-presidente da associação usava contas bancárias para lavar o dinheiro do tráfico. Os agentes estiveram na sede da associação para recolher documentos e encontraram planilhas de cobranças feitas aos comerciantes e até ambulantes – prática comum entre milicianos.
Uma delas detalha alguns pagamentos feitos na praça local. Uma lanchonete chega a pagar R$ 300 por semana, enquanto ambulantes e vendedores de balas pagam R$ 25 por mês.
Planilha de cobrança da associação da Maré
Reprodução
O atual presidente da associação e os advogados negam que haja cobrança obrigatória.
“Não é obrigatório nem compulsório. Se associa quem quer, vem a solicitar, né? Quem não tem condição de se associar não deixa de ser atendido”, diz a advogada Valéria Desidério.
A Secretaria de Ordem Pública esteve na comunidade e notificou todos os imóveis. Os moradores têm três dias úteis para sair do local.
Ficha extensa
Alvarenga, chefe do tráfico no Parque União, é foragido da Justiça, tem 86 anotações criminais e figura como autor em 175 inquéritos policiais — por tráfico, homicídio e corrupção de menores, por exemplo.
Ele costuma promover bailes funks na comunidade, a fim de aumentar as vendas de drogas na região, mas quase não circula pela favela, para não ser visto.
Alvarenga está sempre acompanhado de seguranças fortemente armados e tem cuidado extra ao voltar para casa. Para manter o sigilo de onde mora, Alvarenga pede aos seguranças que o deixem a metros de distância e manda esvaziar a rua — nem nas janelas seus vizinhos podem ficar, tudo para que ninguém saiba onde entrou.
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