‘Vidas na rua’: mais de 60 ONGs ajudam pessoas em situação de rua na capital da Argentina

Mais da metade da população do país está abaixo da linha da pobreza. A rua acaba sendo o destino de muitos argentinos que não conseguem mais pagar o aluguel, em alguns casos, mesmo tendo emprego. Série especial sobre população em situação de rua mostra a realidade de Buenos Aires, na Argentina
Segundo as Nações Unidas, são milhões de pessoas vivendo em situação de rua no mundo. O drama dessas populações foram o assunto de uma série especial que está sendo exibida nesta semana no Jornal Nacional. Como parte dessa programa, o Jornal da Globo exibiu nesta quinta-feira (11), a reportagem inédita da série que fala sobre a Argentina, país que viu o número de pessoas sem um teto para viver disparar nos últimos ano.
Mais da metade da população argentina está abaixo da linha da pobreza. Nos últimos 50 anos, o país enfrentou oito crises econômicas graves.
A inflação acumulada em 12 meses de 276,4% corrói a renda dos trabalhadores. A rua acaba sendo o destino de muitos argentinos que não conseguem mais pagar o aluguel, em alguns casos, mesmo tendo emprego. São mais de 9 mil, na capital Buenos Aires. Segundo o ministro de Desenvolvimento Humano de Buenos Aires, Gabriel Mraida, a quantidade de pessoas em situação de rua em 2023 foi 30% maior do que em 2022.
‘Vidas na rua’: mais de 9 mil pessoas vivem nas ruas da capital da Argentina, em Buenos Aires
Reprodução/TV Globo
A falta de um lugar para morar, por muitas vezes, vem acompanhada da fome. É o caso do Frederico, que está em situação de rua. Ele conta que não comeu durante todo o dia e que a ajuda que recebe significa muito para ele. A ajuda vem de organizações não governamentais.
Coco, Josefina e Tucu contam que os voluntários são como mães para eles. Toda quinta-feira, Meire, voluntária da ONG Amigos em Camino, ajuda na distribuição de comida. Ela fala que os voluntários também buscam dar carinho, que geralmente as pessoas em situação de rua são ignoradas durante todo o dia, que são maltratadas.
Mônica é a fundadora da ONG Amigos en Camino. Ela fala que as organizações de ajuda têm um lema – “A rua não é um lugar para se viver e nem para se morrer” – e que, lamentavelmente, viu muitos amigos morrerem nesta situação.
Na sede da ONG, voluntários recebem doações, preparam a refeição e à noite saem para distribuir. Durante a entrevista, Mônica pergunta se a câmera consegue mostrar que há uma fila de pessoas buscando comida, batendo na porta da ONG por uma refeição.
“E o que mais dói é que não são apenas pessoas em situação de rua, mas pessoas que têm casa, que vão com muita vergonha pedir ajuda”, diz.
‘Vidas na rua’: mais de 60 ONGs ajudam pessoas em situação de rua na capital da Argentina
Reprodução/TV Globo
Em Buenos Aires, mais de 60 organizações não governamentais ajudam quem está em situação de rua. Voluntários se dividem nas tarefas de coleta e distribuição de alimentos e roupas, na organização de refeitórios comunitários, dormitórios e locais onde se possa ao menos tomar um banho. Em outra frente, grupos oferecem cursos de capacitação profissional.
‘Vidas na rua’: mais de 60 ONGs ajudam pessoas em situação de rua na capital da Argentina
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Diego conta que após a oficina começou a ir melhor no trabalho. De não possuir nada, passou a ter um monte de coisas: uma casa para viver, uma relação estável. Por isso, ele diz que começou do zero.
Malena é a idealizadora da Fundação Multipolar. Ela diz que o mais difícil é despertar a confiança de que a ajuda é de verdade e conseguir levar essas pessoas até os cursos de capacitação. Malena completa afirmando que, muitas vezes, quem está em situação de rua se sente culpado pela sociedade por estar nesta condição, que foi parar na rua por não se esforçar o suficiente.
‘Vidas na rua’: mais de 60 ONGs ajudam pessoas em situação de rua na capital da Argentina
Reprodução/TV Globo
Tão importante quanto a capacitação é o acompanhamento psicológico. Marcela foi em busca de apoio. Ela diz que o fato de estar procurando emprego sozinha fazia com que entrasse em um círculo vicioso. Todos os dias, ia procurar e, se não ligavam para ela, era um “não”, algo frustrante, e que gerir a frustração não é fácil.
Saber que se pode contar com ajuda é fundamental para acabar com o isolamento e a sensação de invisibilidade. Paola, que está em situação de rua, disse que é preciso ser forte mentalmente, que há momentos bons e há momentos ruins, e pensar que este é o ruim, mas que vai passar e o bom chegará.
Com um sorriso no rosto, Coco completa dizendo que eles são velhinhos, mas que se mantêm jovens, que ele tem vontade de viver ainda e que só tem 69 anos.
Pessoas em situação de rua na capital da Argentina
Reprodução/TV Globo

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