Oficialmente, pelo menos, o carnaval acabou na última quarta-feira, embora aqui e ali foliões inconformados insistam em demonstrar que não acabou. Hoje, desfilam na Sapucaí as escolas de samba campeãs do carnaval do Rio de Janeiro.
O “Bloco do Pijama Sem Tropa” fez com atraso sua estreia na avenida. Os clubes Militar, Naval e de Aeronáutica, em nota divulgada ontem, saíram em defesa dos militares investigados por sua participação no golpe tramado por Bolsonaro.
A nota diz que os militares da reserva, exímios jogadores de dominó, damas e cartas, observam com “apreensão a exposição de distintos chefes militares, associados a atos que supostamente atentaram ao Estado Democrático de Direito”.
Consideradas as trajetórias de vida dos distintos, diz a nota, “avaliamos ser pouco sustentável” o que a Polícia Federal atribui a eles. E o bloco recomenda:
“É imprescindível que os processos em andamento sejam conduzidos com responsabilidade e imparcialidade, respeitando os limites legais, o devido processo legal, a igualdade perante a lei, o contraditório e a ampla defesa. A acuidade dessa abordagem é vital para que se evite a deterioração das relações no âmbito militar”.
Atos que supostamente atentaram contra a democracia… A reserva põe em dúvida se tais atos puseram a democracia em risco. E que atos foram esses? Basta revisitar a reunião ministerial de 5 de julho de 2022 presidida por Bolsonaro.
Distintos chefes militares participaram dela, como o general Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa, o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, e o general Walter Braga Netto, candidato a vice de Bolsonaro.
Na ocasião, ministros civis perguntaram se a reunião estava sendo gravada – Bolsonaro e Braga Netto responderam que não, mas o vídeo está no YouTube. Heleno falou em “virar a mesa” e em infiltrar espiões na campanha de Lula.
Na verdade, nas duas campanhas – a de Lula e a de Bolsonaro. Com a diferença que a de Bolsonaro saberia da infiltração. Paulo Sérgio falou que todas as providências em discussão tinham um só objetivo: reeleger Bolsonaro.
São fartas as provas e evidências coletadas pela Polícia Federal que implicam pelo menos quatro oficiais-generais de quatro estrelas e um almirante, a saber:
* Walter Braga Netto;
* Augusto Heleno;
* Estevam Teophilo (ex-chefe do Comando de Operações Terrestres);
* Paulo Sérgio Nogueira;
* e o almirante Almir Garnier (à época, comandante da Marinha).
Assinam a nota do “Bloco do Pijama Sem Tropa” o general Sérgio Tavares Carneiro, presidente do Clube Militar, o almirante João Afonso Prado Maia, presidente do Clube Naval, e o brigadeiro Marco Antonio Carballo Perez, presidente do Clube de Aeronáutica.
O general Sérgio Tavares Carneiro é pai de Victor Carneiro, que sucedeu o delegado Alexandre Ramagem na direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Victor foi citado por Heleno no plano para espionar a campanha de Lula.
A nota termina com a reafirmação dos bons propósitos dos militares da reserva:
“Àqueles que nos demandam posições extremadas, reiteramos que não promoveremos o dissenso no seio das Forças Armadas, objetivo permanente daqueles que não comungam de nossos ideais, valores e amor à Pátria, ignorando o nosso juramento de defendê-la, se necessário, com o sacrifício de nossas próprias vidas”.
Que bonito!