O presidente Lula abriu uma nova crise diplomática com Taiwan ao declarar apoio ao plano “Uma só China”, durante a visita do presidente chinês Xi Jinping ao Brasil nessa quarta-feira (20/11). A ideia é rechaçada pela representação taiwanesa porque vai de encontro à independência do arquipélago, contestada pelo governo chinês, que deseja anexá-lo ao seu território.
Chefe do Escritório de Representação de Taiwan no Brasil, Benito Liao pediu esclarecimentos ao que considera um “equívoco jurídico e histórico” do Brasil. A relação entre os dois países está abalada desde janeiro, quando o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, acenou apoio ao plano “uma só China”.
“Afirmar que Taiwan é parte inalienável da China não reflete a realidade histórica e jurídica. A República da China (Taiwan) foi estabelecida em 1911, muito antes da fundação da República Popular da China em 1949. Desde então, o governo da República Popular da China nunca exerceu um dia sequer de soberania sobre Taiwan. Essa é uma verdade incontestável”, declarou Liao à coluna.
Na declaração conjunta assinada por Lula e Xi Jinping no Alvorada, lê-se: “A parte brasileira reiterou que adere firmemente ao princípio de Uma Só China, reconheceu que só existe uma China no mundo e que Taiwan é uma parte inseparável do território chinês, enquanto o Governo da República Popular da China é o único governo legal que representa toda a China. A parte brasileira apoia os esforços da China para realizar a reunificação nacional pacífica. A parte chinesa manifestou grande apreço a esse respeito.”
O representante argumentou que a Resolução 2758 da Assembleia Geral da ONU não autoriza a China a anexar Taiwan, mas apenas permite que a República Popular da China seja a única representante do território no Conselho. Recentemente, a marinha chinesa fez exercícios militares próximos à ilha, aumentando a tensão sobre um eventual conflito militar na região.
“Taiwan é um país de fato, com todos os atributos de soberania. Os cidadãos brasileiros que visitam Taiwan precisam de vistos emitidos pelo nosso escritório, e não por consulados da China continental. Somos dois governos distintos”, afirmou Benito Lao.
O representante alegou que a postura diplomática de Lula impede o desenvolvimento dos negócios entre os dois países: “Isso explica o porquê de o comércio bilateral entre Taiwan e Brasil se manter em torno de apenas US$ 5 bilhões. Apesar de Taiwan possuir a tecnologia mais avançada do mundo na fabricação de chips semicondutores, o principal motivo para a falta de progresso na cooperação bilateral reside na ausência de um diálogo aberto e de mecanismos formais para explorar plenamente o potencial dessa parceria”.
A China é a maior parceira comercial do Brasil e, segundo interlocutores que acompanham a diplomacia brasileira, o Itamaraty não pode correr o risco de abalar essa relação. Quando se tornaram uma superpotência mundial, os chineses passaram a aplicar sanções econômicas e diplomáticas aos países que não reconhecem a sua soberania sobre a ilha ou a quem amplia suas relações com Taiwan.
Por fim, Liao disse que respeita as relações diplomáticas e econômicas entre Brasil e China e apelou por uma postura mais flexível. “Taiwan está comprometido em manter a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan, mas não podemos aceitar que nossa existência seja negada ou distorcida por narrativas políticas alheias à realidade”.