Fábricas gaúchas se mobilizam para retomar a produção

A terceira reportagem da série especial do Jornal Nacional sobre a reconstrução do Rio Grande do Sul mostra, também, que alguns produtos estão recebendo um selo para identificar a origem gaúcha. Inundações afetaram 9 de cada 10 fábricas gaúchas
As inundações afetaram nove de cada dez fábricas gaúchas. Nesta quarta-feira (3), na terceira reportagem da série especial sobre a reconstrução do Rio Grande do Sul, o Jornal Nacional mostra a mobilização dessas empresas para retomar a produção.
Um sapato bonito na vitrine da loja. Na verdade, é mais um símbolo da reconstrução do Rio Grande do Sul. A jornada chega ao Vale do Paranhana, na cidade de Três Coroas, a 90 km de Porto Alegre. A região é um polo na produção de calçados. O sapato que estava na loja saiu da linha de produção de uma fábrica voltou a funcionar depois de quase um mês sem fazer nenhum par de sapato.
O Rio Paranhana subiu, atingiu a fábrica e destruiu mais de 100 mil pares que estavam prontinhos para serem enviados às lojas. Era véspera do Dia das Mães. Mas a força para recomeçar é receita de casa.
“Todo mundo fez um trabalho de otimismo e, principalmente, os funcionários meteram mão, varreram a fábrica, tiraram lodo, limparam, organizar as máquinas e voltar o quanto antes a produzir”, diz Analdo Slovinski Moraes, proprietário da fábrica.
A Adriana Ruphental Zimmer, funcionária da fábrica, puxou a frente; chamou todos os colegas para o mutirão de limpeza.
“A galera veio em peso. Todo mundo ajudou, foi uma união muito grande”, conta.
Em menos de um mês, o cenário mudou. E é preciso correr para atender à demanda. O ritmo de trabalho na fábrica está superando a expectativa. É porque 98% dos pedidos que não puderam ser entregues porque a mercadoria estragou foram refeitos e, agora, o produto já está saindo para as lojas de todo Brasil.
“Todo cliente que compra um produto do Rio Grande do Sul, ele vai lembrar de um momento de dificuldade, mas também de superação que o Rio Grande do Sul está tendo, de ver esse retorno tão rápido, essa energia positiva”, diz Analdo Slovinski Moraes, proprietário da fábrica.
Alguns produtos estão recebendo até um selo para identificar a origem gaúcha.
“Resolvi hoje vir na loja direto comprar produtos. Até para ajudar, para que o Rio Grande siga crescendo. E movimenta todo o comércio, além dos impostos que são recolhidos e são deixados aqui também”, diz o psicólogo Elias da Silva.
O imposto estadual, o ICMS, é uma das principais fontes de recursos que o estado e as prefeituras têm para investir na reconstrução. Em maio e em junho, a queda de arrecadação foi de 20% e 30%, respectivamente.
“O estado é muito forte na produção de alimentos, na produção de mobiliário, na produção de vinhos. Enfim, tem uma série de produtos que são icônicos. Naturalmente, o consumo de produtos gaúchos ajuda a nossa economia a se reerguer mais rápido. Porque é um estímulo adicional para a produção, para o emprego e, consequentemente, para esse reerguimento do estado o mais rápido possível”, afirma Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul.
No Vale do Taquari, a enxurrada de maio invadiu centenas de empresas.
“Quando eu entrei na empresa, já entrei com o telefone gravando. Desespero, tristeza de ver nossa matéria-prima, mercadorias prontas já, acabadas, mercadoria em processo… Estava tudo destruído. Maquinário em uma situação terrível. O que vem na sua cabeça naquela hora ali? Desistir, parar”, diz o empresário José Carlos Klock.
A fábrica funciona em um vilarejo, no interior de Estrela, colonizado por alemães. Tem receitas tradicionais de salsichas e embutidos de carne de porco. Foram 27 dias entre o momento em que a enchente atingiu a empresa até ela ser reaberta. No meio disso tudo, um pessoal trabalhou muito. Eles arregaçaram as mangas, limparam, recolocaram tudo no lugar. Vale a pena?
“Valeu, com certeza. Porque é satisfatório ver nossos clientes voltando. Passamos horas do dia aqui, muitas vezes até mais do que em casa”, diz Patrícia Link, funcionária da fábrica.
No rosto de cada funcionário dá para ver o alívio e a felicidade. A produção voltou ao patamar pré-enchente, e os pedidos aumentam dia após dia.
“Um dia após o outro, as coisas vão se retomar e nós vamos sair mais fortes. Pode ter certeza”, afirma o empresário Carlos Klock.
Mais fortes e gratos. Todo gaúcho compartilha do mesmo desejo de seguir em frente, sem esquecer que a principal força para continuar está ao lado.
Nesta quinta-feira (4), o Jornal Nacional vai mostrar a retomada das famílias que vivem da agricultura e da pesca, e como cidades gaúchas pretendem se proteger de eventos climáticos extremos.
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