Quem tem mais de 40 anos com certeza lembra dos áureos tempos de galã de Hugo Gross. Em 1983, ele estreou na TV Globo em Pão Pão, Beijo Beijo. E depois disso, foram dezenas de personagens. Sempre na TV Globo. Agora me responda: há quanto tempo você não vê o ator dar as caras em um grande papel na Vênus Platinada? Pois é…
O ator, hoje presidente do Sindicato dos Atores do Rio, resolveu travar uma batalha judicial contra a emissora querendo, somente, o direito de voltar a exercer sua profissão. E a ação, que ainda possui um longo caminho a ser percorrido, ganhou uma importante decisão. Ele havia pedido uma tutela antecipada, ou seja, uma ordem imediata capaz de garantir um pedido que não poderia esperar o desenrolar da história no tribunal.
A Coluna Fábia Oliveira descobriu, com exclusividade, que a Justiça determinou que a Rede Globo de Televisão, voltasse a garantir trabalhos para Hugo Gross. Com a determinação, a emissora deveria oferecer participações artísticas em suas novelas para o ator.
O retorno às produções da emissora seguiria os termos de antigamente. Isso significa que o artista daria vida a personagens principais de tramas televisivas ou que integrasse o núcleo familiar central das produções.
Além de definir os papéis a serem oferecidos a Hugo Gross, a decisão garantia que o ator teria o mesmo tempo de tela de tempos passados. Por fim, a ordem ainda afirmava que o artista deveria fazer uma telenovela por ano ou alguma produção similar.
Na ação, o autor alega estar sendo perseguido justamente por brigar pelos direitos dos artistas enquanto presidente do sindicato. Por exercer uma função que fiscaliza a TV Globo, ele estaria sendo impedido de trabalhar. Apesar da decisão favorável que a coluna contou, um mandado de segurança surgiu no caso, impetrado pela Rede Globo, com o objetivo de contornar a ordem da Justiça favorável a Hugo.
A emissora afirmou no documento que a liminar foi concedida sem atender ao contraditório. Em letras miúdas, a Justiça não teria ouvido o outro lado antes de bater o martelo. Somado a isso, alegou que sua liberdade artística foi violada pela decisão que ordena o retorno de Hugo às produções da gigante da televisão.
No dia 29 de outubro, o mandado de segurança apresentado pela Rede Globo foi deferido, mudando o rumo do caso. A decisão que concedeu a tutela para Hugo foi derrubada. A desembargadora disse entender que a ordem não poderia ser dada sem a TV Globo apresentar sua defesa.
Apesar do balde de água fria, o ator afirma não estar disposto a desistir da ação ou recuar. Será que finalmente vamos ter o grande ator Hugo Gross de volta às telinhas? Ou será que a TV Globo vai mesmo se preocupar com o número de seguidores no Instagram de seus contratados? A coluna, como sempre, vai estar de olho…
Entre as novelas das quais Hugo Gross fez parte estão Bambolê, O Salvador da Pátria, De Corpo e Alma, Quatro por Quatro, Uga Uga, O Profeta e Paraíso. A última atuação dele na emissora dos Marinho foi em Aquele Beijo, em 2011.
Entenda o caso
Hugo Gross, presidente do Sindicato dos Artistas do Rio de Janeiro, se pronunciou à coluna Fábia Oliveira, no fim do mês passado, sobre uma ação judicial que ajuizou contra a TV Globo. No processo, que tramita na 68ª Vara do Trabalho do Rio, o ator alega perseguição por causa de sua atuação sindical.
“Eu entrei com uma ação pedindo pra trabalhar. Me preparei a vida toda pra isso. Desde 1975 faço parte do meio, quando apareci no TV num programa do Silvio Santos, que era da TV Globo, onde fiz parte do mini júri. Então, meu propósito é trabalho. Atendendo ao registro profissional”, declarou ele à coluna.
A ação é movida por Hugo Gross como pessoa física, nada tendo a ver com a sua atuação como presidente do Sated-RJ. Mas, segundo ele, é essa atuação na organização que faz com que ele tenha sido colocado na geladeira pela emissora.
“Eu venho defendendo o direito do artista, venho defendendo o trabalhador da arte. E aí eu me senti colocado na geladeira e o meu direito é trabalhar, que a única coisa que eu sei fazer é atuar. Então, isso me deixa muito triste, muito deprimido”, disse ele.
Hugo Gross continuou: “O que eu estou pleiteando é a volta ao trabalho. Não é porque eu defendo uma categoria, defendo uma classe, que eu tenho que ser colocado na geladeira. As pessoas têm que ser diferenciadas, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Então, o fato de eu estar defendendo o trabalhador, eu vejo que é uma maneira deles enfraquecerem o sindicato e, automaticamente me enfraquecendo, vai enfraquecer a instituição. Instituição essa que defende o trabalhador”.
Hugo Gross reforçou que seu objetivo com o processo judicial é, única e exclusivamente, a luta pela volta ao trabalho como ator. Seu último papel na TV foi em Aquele Beijo, novela de Miguel Falabella, exibida em 2011.
“A única coisa que eu estou fazendo é pedindo pra retomar ao trabalho, que me preparei a vida inteira, que é a única coisa que eu sei fazer. Eu gosto de interpretar, é só ver pelo meu currículo… Eu trabalhei com todos os diretores da TV Globo e, de um momento pra cá, que eu estou defendendo quem tem DRT, que eu estou dizendo que influencers com seguidores não podem trabalhar, ex-BBBs, pessoas sem registro, aí eles estão querendo, de uma certa maneira, me colocar na geladeira. Está tudo errado isso”, disparou.
Ele encerrou: “Eu vejo que é um movimento antisindical. A gente está aqui pra que se cumpra a lei. Só isso. Eu realmente fico muito triste, muito deprimido de ser polido de trabalhar. Nós temos grandes atores com registro, prontos pra trabalhar, mas eles [Globo] dão valor a quem não tem registro ou tem seguidores, isso é notório. E é isso que eu estou lutando. Porque eu sou da casa, sou funcionário e eu quero voltar a trabalhar. Eu quero sorrir com o que eu mais gosto de fazer, a única coisa que eu sei fazer, que é trabalhar”.