Iniciativa inédita do “Censo Vacinal Quilombola” tem a intenção de mapear a situação vacinação de grupo vulnerável e levar acesso à saúde. Projeto começou em setembro no Norte do Espírito Santo. Censo Vacinal Quilombola mapeia saúde de crianças e adolescente do Norte do ES
O trabalho dos agentes de saúde do Norte do Espírito Santo ultrapassou os muros das unidades de saúde e desembarcou, esta semana, no território do Sapê do Norte, área quilombola que abrange os municípios de Conceição da Barra e São Mateus e concentra o maior número de moradores quilombolas do estado. A localidade fica a quase 10 quilômetros da unidade de saúde mais próxima.
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O objetivo é fazer um levantamento da situação vacinal de crianças e adolescentes menores de 15 anos, atualizar as vacinas em falta e digitalizar as carteiras deste grupo. A intenção do projeto é certificar que esse grupo vulnerável tenha direito e acesso à saúde.
Chamado de “Censo Vacinal Quilombola”, a iniciativa é inédita no estado. Ações de capacitação de agentes de saúde começaram no final de setembro e a primeira visita a um território quilombola aconteceu no sábado (19), com um mutirão de vacinação na região de São Domingos/Paraíso.
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O projeto é de responsabilidade do Programa Regional de Imunizações (PRI) e da Atenção Primária à Saúde (APS) da Secretaria da Saúde do Espírito Santo (Sesa), em parceria com as secretarias municipais de Saúde e a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Projeto leva vacinação para crianças e adolescentes em territórios quilombolas no Norte do Espírito Santo.
Sesa/ES
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 23,7% da população quilombola brasileira têm entre 0 e 14 anos. No Sapê do Norte, esse público representa mais de 700 crianças e adolescentes.
Para a coordenadora do PRI, Verônica Tomaz, as comunidades quilombolas são formadas por uma população com histórico de exclusão e desigualdade social, o que impacta diretamente na relação das pessoas com a saúde e no acesso a serviços. Por isso, a importância de levar o atendimento ao território.
“Essa situação de vulnerabilidade e o racismo estrutural têm efeitos na saúde e na qualidade de vida dessa população, fazendo com que os quilombolas sejam considerados um grupo prioritário para ações de saúde pública. Escolhemos esse território para verificar se essas situações se refletem nos índices de cobertura vacinal. A finalidade é melhorar o acesso e as estratégias de imunização”, explicou Verônica.
Vacinas contra gripe, difteria e tétano em atraso
Projeto leva vacinação para crianças e adolescentes em territórios quilombolas no Norte do Espírito Santo.
Sesa/ES
No primeiro mutirão de vacinação, foram aplicadas doses de rotina e promovidas atividades educativas para as crianças, com material lúdico sobre imunização.
A equipe de saúde que esteve no quilombo foi composta por cerca de dez pessoas, entre vacinadoras, agente de saúde, coordenadora de imunização e voluntários da Ufes.
A moradora da comunidade de São Domingos, Tayna Dias Martins, avaliou a iniciativa como positiva, uma vez que não existe unidade de saúde no território quilombola. Em caso de necessidade é preciso fazer a pé um percurso de 9 km até o distrito de Sayonara, onde fica a unidade de saúde de referência para o território.
“Para mim foi ótimo, porque eles vieram aqui e foi no sábado. A gente que tem filho na escola não pode deixar eles faltarem aula para ir vacinar. Não tem posto de saúde aqui na comunidade. Se a gente precisa de alguma coisa é, no mínimo, 40 minutos, 1 hora. Às vezes, a gente tenta ir no ônibus que leva a minha filha pra escola”, contou.
As quatro filhas da Tayna tiveram as carteiras de vacinação revisadas e todas estavam em dia. Já os sobrinhos de 5 e 6 anos, que ela cuida diariamente, e a cunhada tomaram a vacina contra a gripe.
“Eu creio que para muitas mães seria melhor ter mais ações assim. Vai ser bom ir para as outras comunidades também”, avaliou Tayna.
A ideia da Sesa é realizar ações semelhantes em todas as 33 comunidades quilombolas do Sapê do Norte, nos próximos meses.
Projeto leva vacinação para crianças e adolescentes em territórios quilombolas no Norte do Espírito Santo.
Sesa/ES
Entre as vacinas mais aplicadas no primeiro mutirão, estão a da gripe (anual) e a de difteria e tétano – DT (aplicada de dez em dez anos).
“Tudo que a gente encontrou foi anotado para fazermos análises. As crianças estavam com o cartão muito completo, acima da expectativa. Mas, aproveitando que o serviço estava disponível, adultos e familiares, mesmo fora do censo, foram vacinados também”, explicou Verônica.
A coordenadora reforçou que a vacina contra a influenza está em campanha desde março, aberta para o público geral desde maio, já a DT está diariamente nas salas de vacinação.
Coleta de dados e carteira digital
Projeto leva vacinação para crianças e adolescentes em territórios quilombolas no Norte do Espírito Santo.
Sesa/ES
A primeira etapa do censo foi realizada em Conceição da Barra, onde agentes comunitários de saúde (ACS) foram capacitados para verificar os cartões de vacinação durante visitas domiciliares.
Os dados coletados são enviados para os profissionais responsáveis pela vacinação nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e também registrados pelos alunos de enfermagem do projeto “Imuniza Norte” no sistema de informação “Vacina e Confia ES”.
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Segundo a coordenadora, o objetivo é que, a médio prazo, o sistema de imunização do estado migre totalmente para a plataforma digital, que registra os dados de forma digital, evitando que as informações sejam perdidas caso o cartão vacinal físico seja extraviado.
Grupo de risco
Projeto leva vacinação para crianças e adolescentes em territórios quilombolas no Norte do Espírito Santo.
Sesa/ES
Desde 2022, o Ministério da Saúde incluiu a população quilombola como prioridade na vacinação contra a Covid-19. A partir desse marco, as vacinas contra a gripe também passaram a ser ofertadas anualmente como prioridade para essa população, e a mudança acendeu o alerta sobre a vacinação de rotina.
“Quando a vacina da Covid-19 chegou, foi preciso elencar grupos prioritários, um deles, foram as comunidades quilombolas. Todo ano depois disso a vacina influenza também veio como grupo prioritário. Mas a rotina e a do dia a dia? Essa população que é vulnerável está vacinada? Eles têm a cultura da vacinação? Isso começou a incomodar. Aí criamos essa estratégia e a ideia do censo foi desenvolvida”.
Próximos passos
Na próxima fase, o censo será estendido para outras comunidades quilombolas de São Mateus e de outras cidades. De acordo com o Censo Demográfico de 2022 do IBGE, o Espírito Santo possui 15.659 quilombolas distribuídos em 26 municípios, sendo que São Mateus e Conceição da Barra concentram as maiores populações quilombolas do estado.
Projeto leva vacinação para crianças e adolescentes em territórios quilombolas no Norte do Espírito Santo.
Sesa/ES
A maior concentração dessa população está em São Mateus, com 6.292 pessoas, e Conceição da Barra, com 4.047.
Os municípios também têm o maior número de comunidades reconhecidas e em processo de certificação pela Fundação Cultural Palmares, são 31 no Sapê do Norte, das 46 em todo o Espírito Santo.
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