Seca e fumaça atrasam atendimentos de Saúde em meio à greve de médicos

Com a seca mais severa dos últimos 44 anos, o Distrito Federal esteve coberto por fumaça e névoa seca nessa segunda-feira (16/9). Ao longo do dia, a qualidade do ar registrou níveis de “perigoso”, “péssima” e “muito ruim”, o que causou problemas na saúde dos brasilienses. A situação ainda se agravou mais em meio à greve dos médicos, que já dura 14 dias. Nesse cenário, a população do Distrito Federal passa horas à espera de ser atendida nos hospitais da capital.

No Hospital Materno-Infantil (HMIB), pais e mães têm como última opção de acesso à saúde. Mãe de Henrique, de 6 meses, Shirley Teixeira, 28 anos, contou que chegou ao HMIB após passar pela unidade básica de saúde na Estrutural. “Lá não tinha médico nenhum atendendo e nos falaram para vir para cá”, disse.

Essa não foi a única vez que a falta de efetivo prejudicou o atendimento do filho. “Eu fui no postinho umas quatro vezes na semana passada, e em todas falavam que não tinha médico”, completou.

Shirley foi atendida por volta das 19 horas, após ter chegado às 10 horas do mesmo dia. A espera de nove horas para atender o filho que estava com febre e náusea.

Assim como Henrique, Maitê dos Santos, de 4 anos, queixou-se de diarreia, dores na barriga e vomitou ao longo do dia. A mãe Kátia Maria dos Santos, 37 anos, chegou às 12 horas no hospital, mas até as 19h só tinha passado pela triagem, que classificou como urgente, com a cor amarela.

A urgência, contudo, foi demorada. “Não sei nem que horas vamos ser chamadas aqui”, disse a mãe. “A gente não tem ideia do que pode ser, virose ou secura. Tá queimando tudo. O ar é só fumaça”, destacou.

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Após peregrinar na rede, Kátia passa mais de 9 horas à espera de atendimento da filha

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Pais aguardam atendimento de filhos no HMIB

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No HRAN pacientes são despachados para outras unidades após triagem não considerar tão grave

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Crianças doentes lotam o HMIB

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Crianças com pulseira amarela se amontoam no aguardo de atendimento

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Denilson Sousa aguarda por hoaras para ser atendido após picada de escorpião

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Com a pulseira laranja, ou seja, muito urgente, Enzo Gabriel, de 8 meses, conseguiu ser atendido em 2h30. Tempo considerado “rápido” para a mãe Gislene Silva, 23 anos, que viu tantas pessoas esperarem por mais tempo. “Ele estava com bronquite, estava bem mal, mas conseguimos o atendimento”, explicou.

No Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), a situação não foi nada melhor. O técnico de manutenção predial Denilson Sousa, 36, foi picado por um escorpião por volta das 14 horas dessa segunda. Ele estava em Águas Claras quando correu para tentar um atendimento no Hospital de Base. Lá, teria sido informado que só conseguiria no HRAN.

Com a pulseira laranja, das 15 horas até as 18h30, ele não havia sido atendido na unidade hospitalar. A reportagem teve acesso a vídeos gravados no momento da triagem em que o profissional de saúde informa que só há um médico no hospital.

Com seca e incêndios, atendimentos por náuseas aumentam 99% no DF

Uma pessoa que preferiu não se identificar apresentando náusea e dor de cabeça passou pela classificação. Nesse momento, o responsável informa que só estão atendendo pulseira vermelha e laranja e que, pelos sintomas, receberia amarela, sem garantia de atendimento. O profissional recomendou procurar uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA).

A mesma situação se repetiu no Hospital do Guará, quando o profissional de saúde também alertou que só havia um médico para atender aos pacientes e só atenderia nos casos vermelhos (emergência). Os demais estavam sendo orientados a buscar outros acessos à saúde, como UPA e unidade básica de saúde no dia seguinte.

A UBS 13, na 115 Norte – local que ficou imerso por fumaça pela manhã – também não havia o que fazer. Com fotos de médicos em greve em todas as portas do consultório, a reportagem foi avisada logo na entrada da unidade que por conta da greve não haveria médicos.

Em peregrinações e demoras, a população do DF amarga em plena à maior seca já registrada nos últimos anos e sem profissionais de saúde disponíveis à população.

Greve dos médicos

Na sexta-feira (13/9), os médicos da rede pública de saúde do Distrito Federal se reuniram em assembleia para definir os novos rumos da paralisação. A categoria, que possui um dos maiores salários do país, quer um novo reajuste.

Em julho, os médicos e todo o funcionalismo público local receberam a segunda de três parcelas do aumento de 18% concedido pelo GDF. Com isso, o salário inicial desses profissionais de saúde na capital chegará a quase R$ 16 mil em 2025.

Na última ação, o Sindicato dos Médicos do DF (SindMédico-DF) definiu um calendário para a continuidade do movimento, incluindo nova manifestação em frente ao Palácio do Buriti. Mais cedo, o governador Ibaneis Rocha (MDB) comentou a situação da greve e classificou os pedidos como absurdos.

Os médicos descumpriram uma decisão judicial e entraram em greve em 3 de setembro. No último dia 27, o desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) Fernando Habibe havia proibido o movimento paredista. Três dias depois, o magistrado chegou a aumentar a multa diária em caso de descumprimento da determinação, de R$ 50 mil para R$ 200 mil. Todas as decisões foram descumpridas.

Na ação judicial protocolada contra a greve desses profissionais, o Governo do Distrito Federal (GDF) alegou que a manutenção de 100% do corpo médico “é essencial para a apropriada prestação de serviço público à população”.

Além disso, o governo destacou que todos os servidores distritais receberam, em julho de 2024, a segunda parcela do aumento de 18%. E, em relação à reivindicação por mais concursos e pela preferência na escolha da lotação, “há certame vigente que teve a formação de cadastro de reserva sem limitação de candidatos, sendo nítidos os esforços para nomeação contínua dos aprovados”.

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