A Polícia Federal investiga o deputado distrital Rogério Morro da Cruz (PRD) por supostos crimes eleitorais. O parlamentar é alvo de um inquérito policial que apura se houve fraude na prestação de contas da campanha das eleições de 2022. Naquele ano, Rogério Morro da Cruz foi eleito pela primeira vez para ocupar um assento na Câmara Legislativa do DF (CDFL), com 18.207 votos.
A suspeita de irregularidades recai sobre a destinação de recursos públicos, oriundos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha. O parlamentar recebeu R$ 100 mil e distribuiu R$ 75 mil para apenas cinco pessoas: R$ 20 mil para Fernando Fernandes, que tinha 20 anos à época das eleições de 2022; R$ 20 mil para João José Fernandes, pai do primeiro beneficiado; R$ 20 mil para a cozinheira Jacqueline Medeiros Rosa; R$ 10 mil para a cabeleireira Ângela Maria Alves dos Santos; e R$ 5 mil para o bombeiro civil Paulo Henrique Barbosa.
A PF intimou Rogério Morro da Cruz e ao menos três assessores dele para depor sobre o caso, em agosto de 2024. Antes, foram ouvidas pela polícia outras pessoas que trabalharam na campanha eleitoral do então candidato.
No depoimento ao qual a coluna Grande Angular teve acesso, o bombeiro civil Paulo Henrique disse à PF que trabalhou de forma voluntária na campanha eleitoral de Rogério Morro da Cruz e foi orientado a repassar os R$ 5 mil recebidos do fundo público para uma terceira pessoa, identificada como Klebson Francisco dos Santos, atual assessor do deputado. O bombeiro afirmou que repassou R$ 4,8 mil porque reteve R$ 200 para compensar gastos com combustível.
Paulo Henrique aparece na prestação de contas eleitoral do deputado distrital como coordenador regional da campanha, função que negou à PF ter desempenhado.
No depoimento, o bombeiro disse que assinou o contrato de prestação de serviço na campanha após a imprensa publicar dados sobre inconsistências na prestação de contas do então candidato.
O bombeiro civil também informou que tem recebido recados “em tom ameaçador” de Klebson, assessor do parlamentar, a suposto mando de João José Fernandes. As mensagens seriam no sentido de que Paulo Henrique estaria “falando demais” e pedindo para que ele “cale a boca”.
Veja trechos do inquérito da PF:
A pedagoga aposentada e cozinheira Jacqueline Rosa disse, durante a oitiva policial, que trabalhou por 23 dias durante a campanha, mas não se recordava de quanto recebeu pelo serviço que incluía a organização de agenda, a entrega de material e o controle das receitas e despesas. Ao ser informada pela PF de que foram transferidos R$ 20 mil a ela, conforme os dados fornecidos à Justiça Eleitoral, a mulher mudou o posicionamento, confirmou que recebeu o valor e contou que sacou todo o dinheiro.
Em despacho no dia 25 de julho de 2024, o delegado Manoel Vieira da Paz Filho afirmou entender que as informações coletadas são correspondentes à denúncia de falsidade na prestação de contas eleitorais. No mesmo documento, o delegado da PF determinou a intimação de Rogério Morro da Cruz e dos assessores Klebson Francisco dos Santos, Fernando Fernandes, Emerson William da Silva Souza e João José Fernandes para conclusão da investigação.
Julgamento no TRE-DF
Os gastos da campanha eleitoral de Rogério Morro da Cruz foram alvos, também, da Justiça Eleitoral. A Procuradoria Regional Eleitoral do Distrito Federal se posicionou contra a aprovação das contas do então candidato. Segundo a avaliação do órgão, o parlamentar usou verbas do fundo eleitoral para completar despesas com militância, porém, há discrepância nos valores pagos.
O procurador regional eleitoral Zilmar Drummond destacou, no parecer, que as especificações dos contratos com os supostos coordenadores de campanha, que receberam um total de R$ 75 mil, são “genéricas” e “incapazes de justificar a aludida discrepância no estabelecimento dos valores da hora trabalhada”. Além disso, segundo o procurador, os valores pagos extrapolam o praticado no mercado.
Ao analisar o caso, o TRE-DF aprovou, com ressalvas, as contas eleitorais de Rogério Morro da Cruz.
O outro lado
Sobre o inquérito policial da PF, o deputado distrital disse à coluna que “trata-se de uma investigação em fase preliminar e apuratória, oriunda de uma denúncia anônima, cujo teor encontra-se em segredo de Justiça”.
Bruno Martins, advogado de Rogério Morro da Cruz, afirmou que “é natural e faz parte do respeitoso trabalho das autoridades a apuração de qualquer denúncia anônima”. “Os esclarecimentos devidos foram prestados e estamos seguros de que a licitude dos atos praticados será confirmada. Considerando o sigilo decretado, não é possível apresentar maiores detalhes”, afirmou.
A coluna não conseguiu contato com os demais citados. O espaço permanece aberto para eventuais manifestações.