Continuação desnecessária fica presa entre ritmo atrapalhado e boas novas canções. Avanço tecnológico e diretor premiado ajudam a superar estranheza do filme de 2019. Ao contar uma história original, “Mufasa: O Rei Leão” tem uma grande vantagem sobre a regravação com computação gráfica de 2019 do clássico animado de 1994.
Sem as inevitáveis comparações com um filme que marcou uma geração, a continuação (um tanto desnecessária) consegue provar que tem algo a dizer – em especial graças a boas novas canções e a um avanço tecnológico que diminui a estranheza das expressões faciais dos personagens, presente em seu antecessor.
A sequência, que conta na verdade a história do pai do protagonista de “O Rei Leão”, estreia nesta quinta-feira (19) nos cinemas brasileiros como uma inevitabilidade depois do sucesso estrondoso do anterior, que fez mais de US$ 1,6 bilhão nas bilheterias.
Infelizmente, até pelo óbvio objetivo comercial do projeto, nem mesmo o envolvimento do diretor ganhador do Oscar Barry Jenkins (“Moonlight”) consegue elevá-lo de verdade.
Na verdade, é difícil de encontrar a sensibilidade do cineasta, responsável por um dos melhores filmes dos últimos anos, preso em um roteiro atrapalhado, dividido entre a trama que deveria contar e os personagens que vão vender bonecos para a criançada.
É como se “Mufasa” fosse dois filmes em um, no qual o potencial claro do primeiro nunca é atingido por causa dos receios de executivos que exigem cenas a cada 15 minutos de Timão e de Pumba, dupla que aponta – ela mesma – sua total desconexão com a história.
Assista ao trailer de ‘Mufasa: O Rei Leão’
Ciclo da vida
Apesar de começar como uma sequência quase clássica, com a filha-herdeira dos protagonistas de “O Rei Leão”, “Mufasa” logo revela seu interesse pela história do pai de Simba, o antigo rei assassinado pelo próprio irmão.
Narrado pelo mandril xamânico Rafiki, o filme mostra a infância do personagem título, um filhote perdido que conhece um jovem príncipe e forma com ele um laço fraterno – até que um bando invasor ameaça sua nova família.
A trama é uma boa oportunidade para mostrar novos lados de heróis e vilões e aprofundar suas relações.
Ajudada pelas canções inspiradas e características de Lin-Manuel Miranda (o principal compositor de musicais dos últimos anos, de “Hamilton” a “Moana” e “Encanto”), a narrativa aos poucos mostra seu valor.
Cena de ‘Mufasa: O Rei Leão’
Divulgação
Esquecendo os problemas
Uma pena que a história seja constantemente interrompida pelas trapalhadas dos alívios cômicos na linha temporal do “presente”. Tudo bem, Timão e Pumba são favoritos da criançada, mas suas participações evitam um desenvolvimento coeso e castigam o ritmo.
Toda vez que a carismática dupla de jovens leões chega perto demais de explorar de fato um relacionamento minimamente complexo e – com o perdão da palavra – humano, suricato e javali correm para impedir.
As idas e vindas, apenas cansativas no começo, se transformam em uma espécie de tortura psicológica para um público que lá pela metade já aceitou sua inevitabilidade.
Cena de ‘Mufasa: O Rei Leão’
Divulgação
Lembre-se de quem você é
No fim, é até difícil determinar a extensão da participação de Jenkins. O diretor entrega alguns de seus closes e belos enquadramentos característicos.
Ajudado pelo avanço tecnológico desde 2019, aliás, ele dá aos protagonistas uma mistura muito mais aceitável entre expressões de sentimentos humanos e o realismo animal.
Seria interessante ver o que o cineasta poderia fazer sem as interrupções constantes e a falta de coragem – provavelmente – dos executivos da Disney.
Talvez alguém ainda tenha noção suficiente para convencê-lo a voltar para um terceiro capítulo – por mais que o público e o cinema tenham mais a ganhar com um novo projeto original de um dos diretores mais talentosos de sua geração.
Cartela resenha crítica g1
g1
Visão geral da privacidade
Este site utiliza cookies para que possamos lhe proporcionar a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas no seu navegador e desempenham funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.