Michaella Zukowski, de 26 anos, fez cinco cirurgias em menos de seis meses. Bloco de concreto foi jogado por homem em situação de rua. Após tratamento nos EUA, advogada diz ter perdido definitivamente visão de um dos olhos
A advogada Michaella Zukowski, de 26 anos, que sofreu um ataque com um paralelepípedo que provocou afundamento de crânio em 2023, contou que, aos poucos, está retomando a rotina de trabalho e que precisa de um tempo para cuidar de si mesma, após ter recebido a notícia da perda de visão permanente do olho esquerdo.
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O trauma foi causado por um ataque sofrido em julho de 2023, quando um homem em situação de rua arremessou o bloco de pedra contra o carro em que ela estava com a família, na Rodovia do Sol, em Vila Velha, na Grande Vitória.
Nesta reportagem, o g1 fez a reconstituição cronológica do ataque desde o acidente até o último diagnóstico recebido. Veja abaixo.
Carro onde estava advogada Michaella Zukowski Reis, de 25 anos, atingida por paralelepípedo em rodovia do ES.
Reprodução/TV Gazeta
8 de julho de 2023
Por volta das 5h da manhã, a advogada Michaella Zukowski saiu de Guarapari, de carro, com o pai e o irmão. Eles estavam a caminho do Aeroporto de Vitória onde embarcariam para Minas Gerais para o velório do avô.
Quando passavam pela Rodovia do Sol, em Vila Velha, na Grande Vitória, foram surpreendidos por um homem que atirou um paralelepípedo, um bloco de concreto usado em calçamentos, contra o carro. Michaella estava sentada no banco do carona.
Segundo a advogada, depois de passar por três hospitais, o primeiro atendimento médico aconteceu cerca de 16 horas depois do ataque.
A cirurgia para fechar o ferimento aconteceu somente às 23h.
11 de julho de 2023
Gelson Aparecido dos Santos foi preso. Foi ele quem atacou o carro da família. Aos policiais, o homem confessou o feito e disse à polícia que andava em zigue-zague pela pista quando o pai de Michaella buzinou. Nesse momento, ele decidiu jogar a pedra e alegou que estava sob efeito de álcool e drogas.
Após ser detido, o homem teve a prisão preventiva decretada pela Segunda Vara Criminal de Vila Velha, por destruir a tornozeleira eletrônica que usava. O homem usava o equipamento a mando da Justiça em consequência de ações penais que ele responde por crimes como de trânsito, estupro, desacato, roubo e porte ilegal de arma de fogo.
De acordo com a Secretaria de Justiça, Gelson segue preso, desde o dia 11 de julho de 2023, no Centro de Detenção Provisória de Viana 2, na Região Metropolitana de Vitória.
Michaella Zukowski Reis, advogada atingida por paralelepípedo em rodovia do ES, após cirurgia de reconstrução do rosto.
Reprodução/TV Gazeta
14 de julho de 2023
Michaella fez uma cirurgia de reconstrução facial. O procedimento durou oito horas. “Eu tenho uma cicatriz de orelha a orelha. Ele tirou o meu rosto até metade, mais ou menos, para fazer toda a reconstrução com placas de titânio, tipo parafusinhos. Tive que reconstruir todo o meu nariz. Meu nariz é todo de titânio e minha testa e minha órbita ocular também. Eu perdi a órbita”, disse Michaella.
13 de setembro de 2023
Terceira cirurgia de reconstrução facial.
18 de outubro de 2023
Quarta cirurgia de reconstrução facial.
11 de dezembro de 2023
Quinta cirurgia de reconstrução facial.
Exames apontaram afundamento de crânio em advogada atingida por paralelepípedo dentro de carro em rodovia do ES.
Reprodução/Arquivo pessoal
Janeiro de 2024
Michaella começou a perceber algo diferente em sua visão. “Como o olho esquerdo ficou muito inchado por causa das cirurgias, pensei que fosse isso. Quando o inchaço melhorou, a visão seguiu estranha, meio torta, embaçada. Procurei um oftalmologista, que pediu alguns exames, e veio o resultado. Eu perdi a visão inferior e a lateral do olho esquerdo, e a parte central é a que está com edema”, contou.
Na época, Michaella disse que a médica apontou que ela precisava de injeções oculares para controlar o problema, pedido que foi negado três vezes pelo plano de saúde e não foi respondido ainda pela Justiça. Cada injeção custa cerca de R$ 6 mil e não é possível saber quantas ela precisaria.
1° de março de 2024
A Justiça tornou o homem réu no processo por tentativa de homicídio, e, no mesmo dia, a juíza Ana Amelia Bezerra Rego, da 4ª Vara Criminal de Vila Velha, negou um pedido da defesa de liberdade provisória a Gelson.
12 de julho de 2024
Michaella foi para os Estados Unidos buscar um tratamento especializado para um edema ocular. A opção de tratamento com a aplicação de injeções na membrana ocular foi negada pelo plano de saúde.
Para ajudar com os custos da viagem, uma “vaquinha” foi feita e mais de R$ 115 mil foram arrecadados. Na época, ela não sabia qual seria o custo da viagem.
Advogada durante tratamento feito nos EUA
Acervo pessoal
31 de outubro de 2024
Volta dos Estados Unidos. De acordo com a advogada, os médicos nos Estados Unidos pediram para ela refazer todos os exames e retornar à clínica americana em seis meses, além de ficar atenta ao surgimento de novos sinais. “O edema pode crescer ainda mais. Eles pediram para eu ficar sempre atenta a sinais diferentes dos habituais, e se sentir alguma coisa comunicá-los imediatamente”.
15 de dezembro de 2024
Publicação do vídeo nas redes sociais falando sobre o diagnóstico de perda definitiva da visão do olho esquerdo. “Fica tudo torto e embaçado, como se fosse um C invertido. As laterais e a parte inferior são pretas. Já não enxergava desde o acidente. A visão central era a que me restava, mas está com o edema. Sou considerada hoje uma pessoa monocular, pois a deformidade que o edema causa na visão central, não deixa eu fazer os afazeres do dia a dia, como ler, dirigir. Só tenho o olho direito bom agora”, contou.
Entrevista exclusiva: advogada atingida por pedra em rodovia fala sobre ataque
Trabalho e vida pessoal
Michaella é diretora de marketing em uma marmoraria. Ela retomou parte das atividades oito meses depois do acidente. Era também a advogada quem gravava vídeos institucionais da empresa antes do acidente.
“Estou bem, na medida do possível.. processando ainda as informações. […] Voltei e foquei no trabalho para pensar em outra coisa. Foi bem difícil pra mim, principalmente porque sei que tinha muita gente torcendo por notícias boas”, relatou.
Michaella teve múltiplas fraturas no crânio e teve o rosto reconstruído com placas de titânio. Ao todo, cinco cirurgias foram feitas em menos de seis meses, e novos procedimentos não estão descartados.
Um ano após sofrer um ataque com um paralelepípedo que provocou um afundamento de crânio, a advogada Michaella Zukowski, de 26 anos, corre o risco de perder a visão. Espírito Santo
Arquivo pessoal
Em um vídeo publicado no domingo (15), a advogada lamentou o diagnóstico da perda de visão e disse que pretende passar um tempo afastada para cuidar de si mesma.
“Eu queria trazer a alegria que eu sempre trago aqui para vocês. Sempre fui uma pessoa muito otimista e vou continuar sendo, mas isso não quer dizer que, nesse momento, eu não posso ficar um pouco ‘off’ e poder cuidar de mim”.
Em suas entrevistas, a advogada aponta que houve demora no atendimento médico em mais de uma ocasião, negligência e a negativa da realização de tratamentos.
Procurada, a Unimed Vitória informou que o procedimento não foi autorizado, pois a indicação feita para o uso da medicação pela paciente não se enquadra na DUT – Diretriz de Utilização, que trata dos critérios estabelecidos pela Agência Nacional de Saúde (ANS).
A cooperativa reafirma seu compromisso em seguir todas as normas para garantir um atendimento justo e de qualidade a seus clientes.
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