No Espírito Santo, mais de 1.100 pessoas precisam de um transplante de rim. Amanda Almeida Carvalho recebeu o órgão do pai e realizou a cirurgia em julho. Universitária com insuficiência renal recebe doação de rim do próprio pai
Durante mais de 10 anos, a psicóloga Amanda Almeida Carvalho, 27 anos, conviveu com problemas renais descobertos ainda na infância, que levaram à necessidade de um transplante de rim. Toda a preocupação e medo da fila de espera deram lugar à surpresa e à alegria de descobrir que a pessoa compatível estava mais perto do que imaginava, dentro de casa: Jobe Fernandes Carvalho, seu pai.
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O transplante aconteceu em julho, em um hospital filantrópico de Vila Velha, na Grande Vitória. Amanda e Jobe ainda seguem no processo de recuperação, sendo acompanhados de perto pela equipe médica, e, de maneira geral, o quadro dos dois é considerado “excelente”.
Jobe Fernandes Carvalho doa rim para filha, Amanda Almeida Carvalho, no Espírito Santo.
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O problema renal de Amanda é devido à doença de Berger e o diagnóstico veio aos nove anos, após começar a investigação de um resfriado persistente.
“Aos nove anos, eu tive um resfriado e comecei a apresentar sangue na urina. Na época, todo médico falava que era uma virose, só que a minha mãe estranhou, ficou em cima para pesquisar o que era. A gente acabou chegando em um nefropediatra e foi levantada a hipótese de ser doença de Berger, que é uma inflamação na parte do rim”, contou Amanda.
O médico urologista Henrique Menezes explicou que a doença provoca uma inflamação no rim, que leva à insuficiência renal em casos avançados, como o da psicóloga.
“A Amanda tem uma doença chamada nefropatia de IGA ou doença de Berger. Uma doença em que há depósitos de imunoglobulina, nos glomérulos do rim. Isso acaba fazendo uma inflamação, uma lesão no rim, que acaba levando a uma insuficiência renal, necessitando de tratamento dialítico com hemodiálise, que foi o caso dela”, explicou o médico.
Amanda e Jobe, após a cirurgia, com a esposa Márcia e a filha mais nova, Alana.
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O pai Jobe comparou a alegria de poder ajudar a filha com a conquista de um campeonato mundial.
“Quando a gente foi avisado que o rim dela tinha parado, eu já tinha noção que a solução seria transplante e logo informaram que ela ficaria automaticamente na fila de espera. A mãe dela indagou no hospital qual seria a possibilidade de transplante, se a gente poderia se oferecer como doador. O médico disse que sim. […] O que aconteceu deve ser como marcar um gol aos 45 do segundo tempo, na Copa do Mundo, com oito jogadores em campo. Você chegar ali e resolver, conseguir trazer paz e alegria para a família não tem preço. Ela é outra pessoa”, contou o pai.
A mãe Márcia Carvalho também falou sobre a alegria pelo desfecho da situação e revelou que só conseguiu dormir melhor pela primeira vez após todos esses anos apenas depois do transplante realizado.
“A primeira noite dela depois do transplante foi na minha casa. Quando eu vi ela dormindo, eu só ajoelhei no chão e agradeci a Deus porque a minha filha estava bem. Ela estava dormindo, tranquila, como um anjo, então para mim é gratidão e uma felicidade que não cabe dentro do peito”, desabafou a mãe.
Mais de mil pessoas esperam por um rim no Espírito Santo
Amanda, Jobe e Márcia com a equipe médica do hospital.
Arquivo pessoal
De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, atualmente, mais de 1.100 pessoas precisam de um transplante de rim. É a segunda maior fila de espera, atrás apenas de pacientes que aguardam por uma córnea, com 1.200 pessoas.
Na avaliação do médico Henrique Menezes, a fila de espera por um rim é grande porque a insuficiência renal está relacionada a doenças comuns na sociedade.
“A fila é grande porque a incidência da insuficiência renal é alta, sua principal causa é pressão alta e diabetes, doenças muito comuns que, quando mal controladas, podem levar à condição. Como o transplante depende de doadores, quanto mais pessoas se candidatarem a doar, essa fila tende a diminuir”, disse o urologista.
A coordenadora do setor de Nefrologia e Transplante renal do Hospital Evangélico de Vila Velha, Luciana de Assis Borba, explicou que o tempo médio de espera na fila por um transplante de rim no Brasil é de 60 meses. No caso da Amanda, o processo foi agilizado devido à compatibilidade com o pai.
“Quanto maior a compatibilidade entre pacientes, maior é a chance de sucesso de um transplante. Sendo um familiar, a carga genética aumenta muito a compatibilidade e diminui a chance de rejeição. A média do nosso país é de 60 meses em fila, já entre familiares, após identificada a compatibilidade, o processo para que a dupla esteja pronto para a cirurgia dura, em média, de três a seis meses”, explicou Luciana.
Jobe Fernandes Carvalho doa rim para filha, Amanda Almeida Carvalho, no Espírito Santo.
Arquivo pessoal
A coordenadora lembrou que a taxa de sucesso de um transplante é superior a 70% e reforçou que, apesar dos bons resultados entre pacientes com vida e familiares, é importante trabalhar a sensibilização das pessoas para que elas manifestem o desejo de serem doadores de órgãos após a morte.
“A fila é longa porque temos pouco doadores falecidos. Às vezes, o risco da doença está na família e não é possível a doação entre pais ou irmãos, ou irmãos não podem doar porque têm a mesma doença, ou existe restrição por causa da idade, ou simplesmente não vai ter compatibilidade. Precisamos aumentar o número de doadores falecidos, para conseguir aumentar os transplantes”.
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Para a psicóloga, foi um conforto saber que teria o pai enfrentando esse momento com ela e dando suporte, pois, mesmo com a compatibilidade, existia o medo da rejeição.
“É um processo que mexe muito com o emocional da gente, a gente fica ali apreensivo, de alguma coisa dar errado, eu tinha muito receio de rejeição do órgão, mas os médicos sempre deram suporte e passaram muita segurança para gente”, lembrou Amanda.
Transplante em vida
Brasil é o terceiro maior transplantador de rim do mundo, segundo o Ministério da Saúde.
Ministério da Saúde
Os rins têm como função básica filtrar o sangue e auxiliar na eliminação de toxinas do organismo. Por serem um par, podem ser doados tanto em vida quanto após o falecimento, já que a função renal pode ser mantida por um único rim, sem que isso cause prejuízos à saúde do doador.
“O rim que fica se readapta para assumir a função do rim que foi retirado. O processo também é seguro, são feitos uma série de exames de imagens e laboratoriais, para descartar qualquer possibilidade de risco para esse doador”, reforçou a médica Luciana Borba.
Além do rim, parte do fígado, parte da medula ou parte dos pulmões também podem ser transplantados com doador vivo.
No Brasil, o transplante de rim representa cerca de 70% do total de transplantes de órgãos, sendo que 90% são financiados integralmente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Transplantes aumentaram em 2024
Jobe Fernandes Carvalho doa rim para filha, Amanda Almeida Carvalho, no Espírito Santo.
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Setembro é o mês de conscientização e incentivo para a doação de órgãos. Em 2024, com a campanha “Doe órgãos: uma atitude muda tudo”, a Secretaria de Saúde reforça ações que falem sobre a importância de a população declarar para a família a vontade de ser doador. No estado, os números deste ano já superam os de 2023.
Foram 119 transplantes de córnea no ano passado e 165 em 2024, além de 4 de esclera – a parte branca do olho – contra 8 este ano, totalizando um aumento de 40% no número de transplantes do que é considerado tecido.
Em se tratando de órgãos sólidos, foi um transplante de coração em 2023, e sete este ano. Transplantes de rim subiram de 36 para 50, de fígado de 28 para 40, aumento de 30% no total.
Somando todos os transplantes realizados de janeiro a setembro, incluindo os de medula óssea, foram 254 em 2023 e 332 em 2024.
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