Após ser absolvida pela Justiça, a empreendedora Quezia Pimentel Alves dos Santos investiu em moda penitenciária e na venda de kits para mulheres que fazem visitas nas prisões do Espírito Santo. Quézia Pimentel, 23 anos, investiu em moda penitenciária e vende “kits visitas” para facilitar a entrada de mulheres em presídios
Reprodução/Redes sociais
Aos 23 anos, a empreendedora Quezia Pimentel Alves dos Santos não imaginava que sua vida seria transformada após passar nove meses no sistema prisional do Espírito Santo. Quando foi absolvida pela Justiça, em abril de 2021, a jovem viu uma oportunidade de negócio. Ela investiu na produção e venda de looks para mulheres que fazem visitas em presídios, tornando a moda penitenciária a sua principal fonte de renda.
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“Quando fiquei presa, minha mãe me visitava toda semana e usava sempre a mesma roupa, uma blusa rosa e uma legging preta. Inclusive, a blusa era do meu padrasto, para ficar mais soltinha. Eu brincava que era o uniforme dela. E ela dizia que comprar legging era muito caro”, contou a empreendedora.
Quézia, que antes de ser presa atuava como designer de unhas, passou a trabalhar com a venda de lingeries na cidade onde mora, em Guarapari. No entanto, ao ver vídeos em redes sociais sobre moda penitenciária, decidiu investir no novo negócio. E percebeu um nicho de mercado.
“Eu comecei com seis leggings, seis blusas e um sonho”, disse ao g1, aos risos.
Kit visita básico para visitar penitenciárias.
Reprodução/Redes sociais
Como não tinha experiência na área, os preços dos kits iniciais eram altos, o que limitava as vendas. Foi neste momento que a jovem foi atrás de fornecedores para conseguir comercializar mercadorias com valores mais em conta.
“Hoje, eu vendo o kit básico por R$ 65, que vem uma legging e uma blusa de algodão. Também há outros kits, que variam entre R$ 90 e R$ 110. O kit mais caro, por exemplo, foi apelidado pelas clientes de kit girls e tem uma legging mais arrumada e uma blusa estampada”, explicou a jovem.
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Além da legging e da blusa, os kits podem conter outros itens, como chinelos, calcinha e sutiã (sem aro), além de sabonetes íntimos. Também há versões para o inverno, quando são vendidos moletons.
Kits visitas penitenciárias são comercializados para mulheres no Espírito Santo
Reprodução
As vendas são feitas exclusivamente on-line e a empreendedora explicou que comercializa entre 70 e 100 kits por mês. O sucesso, segundo a jovem, é devido a alguns motivos, como a quantidade de regras a serem cumpridas pelos familiares para terem acesso às unidades prisionais do Espírito Santo, com restrições que vão de cores e modelos de roupas próprias para isso e até acessórios.
”As meninas ficam mais tranquilas por saber que vão ter facilidade para entrar. Eu oriento acerca do tamanho, tudo. Não é porque elas estão indo em uma penitenciária que elas querem ir largadas não. As mulheres querem ir bonitas, arrumadas. Tenho clientes que compram toda semana”, disse.
O kit, no entanto, não impede que a revista para entrar no sistema prisional seja feita. Mas as roupas atendem às regras impostas pela Secretaria de Justiça do Espírito Santo (Sejus), que administras os presídios, conciliando conforto e beleza.
Quais as exigências para uma visita penitenciária
Segundo a Sejus, as mulheres representam 70% das mais de 63 mil pessoas que vão aos centros de detenção do estado para visitas.
As exigências para realizar uma visita penitenciária estão descritas em três portarias (142-S, 1.578-S e 19-R) da Secretaria de Estado da Justiça (Sejus), conforme explicou a jornalista Vilmara Fernandes, de A Gazeta.
Penitenciária de Vila Velha, ES
Reprodução/TV Gazeta
São proibidos, em geral:
Roupas curtas (saia acima do joelho, como minissaias; bermuda, camisa/blusa que deixe a barriga à mostra, como tops, miniblusas);
Camisas sem manga, roupas de campanha de partidos políticos, times de futebol ou com imagens de familiares;
Calças jeans (por causa do zíper);
Peças com transparência;
Objetos metálicos nas roupas: botões e fechos (calça jeans), cinto, fivelas e arame em sutiãs ou calcinhas, grampos de cabelos, entre outros, detectados na inspeção eletrônica;
Vestes nas cores do uniforme da equipe do estabelecimento penal e/ou das pessoas presas ou similares;
Calçados fechados;
Bonés, gorros, boinas ou similares;
Chinelo na cor preta;
Trajes com apologia ao crime;
Maquiagem, peruca, mega hair e/ou outros complementos que possam dificultar a identificação, a revista ou comprometer a segurança do estabelecimento penal;
Eletrônicos, como celulares.
Há restrições ainda ao uso de algumas cores, para não coincidirem com os uniformes dos presos ou dos servidores, e que variam de acordo com a unidade prisional. São elas:
Azul
Vermelho
Branco
Laranja
Rosa
Amarelo
Azul-claro
Verde
Camuflado
Cinza
Preto
Segurança
Em entrevista para A Gazeta, Diego Florêncio, chefe de Núcleo da Região Metropolitana do Espírito Santo, ligado à Gerência de Administração do Sistema Penitenciário (Gasp), da Sejus, explicou que as regras têm o objetivo de garantir a segurança e controle do ambiente prisional e isto inclui as restrições impostas aos visitantes.
Neste caso, os policiais penais realizam um rígido controle para coibir a entrada de materiais proibidos nas penitenciárias do estado.
“Para isso, as unidades contam com equipe operacional treinada e a utilização de equipamentos eletrônicos, tais como os scanners corporais, portas com detector de metais, entre outros, que auxiliam na identificação de drogas e demais objetos”, explicou.
Parte do rigor inclui as regras de vestimentas. “As visitas sociais são feitas em um ambiente prisional, onde o controle precisa ser maior. Prendemos pessoas que tentam se aproveitar do momento para entrar com material ilícito”, ponderou.
Penitenciária de Segurança Máxima I em Viana, Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
Em relação ao tamanho das vestimentas, Florêncio relatou as penitenciárias seguem as regras para órgãos públicos. Já em relação às cores, o objetivo é não coincidir com os diversos uniformes utilizados no sistema, não só dos presos — diferenciados por regime de prisão —, mas também dos servidores.
Sobre os acessórios, a orientação que sejam retirados e deixados no carro ou em algum armário.
De acordo com dados da Sejus, foram cancelados 443 cadastros para visita familiar por ocorrência disciplinar envolvendo prisão, proibição judicial, ocorrência de tentativa de entrada com drogas ou materiais ilícitos.
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