A parceria entre a Universidade de Brasília e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que envolve a negociação de terrenos vazios, ficará para próxima gestão da UnB. O acordo foi firmado em 2023, e tem tramitado internamente. Em entrevista no último dia como reitora, Márcia Abrahão detalhou ao Metrópoles o projeto e disse que espera que seja licitado a partir desta segunda-feira (25/11).
“O BNDES estruturou o projeto e entregou pronto para a gente, e nós agora só vamos licitar. Provavelmente, semana que vem a próxima gestão já pode licitar, porque foi para a Procuradoria Jurídica hoje [quinta-feira (21/11)], e agora o próprio BNDES está buscando parceiros no Brasil inteiro”, disse.
Abrahão explicou que a parceria é uma permuta. A UnB entrega terrenos vazios na 207 da Asa Norte e no Setor Hoteleiro Norte e recebe em troca 11 prédios que ainda serão construídos. Esses imóveis servirão como fonte de renda para a universidade, já que têm o objetivo de serem alugados em apartamentos residenciais.
“A UnB é uma grande ‘imobiliária’ aqui no DF. Quase mais de 40% do que nós gastamos mensalmente vem de arrecadação com os imóveis da universidade”. O Metrópoles teve acesso ao estudo feito pelo BNDES e apresentado pela Universidade de Brasília. Pelo levantamento, a previsão é de R$ 104 milhões em benefício estimado.
O documento aponta que a universidade teria pavimentos de 600 e 800 metros quadrados e apartamentos de 1 a 4 dormitórios.
O estudo também indica que a carteira de imóveis pertencentes à UnB chega a R$ 2,1 bilhões, e a instituição arrecada R$ 100 milhões com recursos próprios anuais devido aos aluguéis em prédios comerciais e residenciais espalhados por Brasília.
“Hoje, esses terrenos estão parados, não rendem nada para a universidade”, disse a ex-reitora. “E ainda dependendo do governo ou do próprio Congresso Nacional, há movimentos para tirar essa área porque nós estamos com terrenos parados, sem render recursos para o governo, para a universidade, e deixando-os lá, parados, abandonados. Então eles, agora, vão ser construídos. A universidade pega apartamentos, e a construtora também tem a oportunidade de fazer o seu financiamento e vender. Isso aconteceu na 212 Norte, que era da UnB, na 214 Norte”, detalhou.
Segundo a reitora, o BNDES é apenas um mediador que vai colocar os terrenos para leilão. A partir disso, uma construtora compra, constrói e passa uma parte da construção à UnB enquanto fica com o restante. Ao todo, a universidade troca 27 lotes vazios e fica com 11 prédios inteiros para alugar.
De acordo com o banco, um projeto semelhante já foi realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro. ” A UFRJ realizou concessão para a construção e exploração de um equipamento cultural (antigo Canecão) em troca de um prédio de salas de aulas e um refeitório para seus estudantes”, declarou em nota.
O andamento do projeto vai ficar a cargo da nova gestão. A cerimônia de transição para a ocorreu na quinta-feira (21/11). Em outubro, a reitora eleita Rozana Naves participou de reunião com Márcia sobre o tema.
Ao Metrópoles, Rozana disse que vai analisar o projeto com calma e, como se trata de matéria que envolve um grande patrimônio da universidade, montará um grupo de trabalho para se debruçar sobre o tema nos primeiros meses de gestão. Leia a resposta da nova reitora, abaixo, na íntegra:
“Nosso primeiro contato formal com o projeto se deu em reunião por videoconferência com o BNDES, realizada no dia 23 de outubro de 2024. Na véspera, havia sido disponibilizado o processo de contratação do Banco, em que as atividades das empresas participantes do consórcio e as atribuições do próprio BNDES, líder do projeto.
Entretanto, durante a campanha, tomamos conhecimento de que a comissão nomeada para o acompanhamento do processo, mesmo tendo caráter consultivo, fez vários apontamentos à proposta. Porém, não há, nos documentos disponibilizados, quaisquer informações sobre as considerações da comissão. Também não consta um relatório circunstanciado do processo de elaboração do projeto pela equipe do BNDES e empresas do consórcio, ou mesmo pelos então gestores da UnB.
Agora que assumimos a Reitoria, vamos nomear um grupo de trabalho para avaliar as propostas de alienação das projeções, elaboradas pelo consórcio liderado pelo BNDES, bem como as questões referentes à gestão do patrimônio imobiliário e seus impactos para o cumprimento da missão da universidade“.
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