Nunca é tarde para aprender. Ontem mesmo, no meu último dia como diretor do SINESP no Ministério da Justiça, meu colega Fred Monteiro Rosa surpreendeu-me com um spoiler de um artigo que ele está escrevendo em parceria com Jurema Arabyan sobre a insignificância da vida no imaginário cultural brasileiro. Deu ao texto o título inquietante de “A Microfísica da Morte”.
Para quem assistiu ao filme Zona de Interesse, vai ser fácil compreender a tese de Fred e Jurema. Na película premiada do Oscar 2024, a família do comandante nazista de um campo de extermínio reside com naturalidade em uma bela casa ao lado dos fornos de cremação de judeus em escala industrial.
Enquanto as crianças tomavam banho de piscina e os pais curtiam um churrasco com cervejinha, era possível ouvir tiros e ver a fumaça das chaminés de Auschwitz ao fundo. Uma normalidade em relação aos assassinatos que deixaria a Família Corleone constrangida.
No nosso país, onde mais de 40 mil pessoas são assassinadas anualmente (fonte: SINESP, Mapa da Segurança Pública 2024), chama a atenção o fato de o Brasil, apesar de representar pouco mais de 2% da população mundial, concentrar cerca de 20% dos homicídios do planeta. Uma discrepância de proporcionalidade em torno de 10 vezes.
Curioso é que as análises de Fred e Jurema levaram à constatação de que a maioria dos assassinatos aqui na Ilha da Vera Cruz são cometidos por ‘cidadãos de bem’, considerando-se que são executados por pessoas sem registro de relação anterior com o mundo do crime.
Ou seja, é possível que, por algum fator constituinte da formação cultural, econômica e política do Brasil, sejamos um povo com um sentimento de naturalidade em relação a atitudes violentas. Uma sociedade que acata com certa banalidade a violência intencional que vitimiza dezenas de milhares de brasileiros e brasileiras, em todas as modalidades criminais domésticas ou públicas.
Citando outros especialistas, Fred e Jurema nos deixam uma hipótese provocativa importante: “O modelo predatório de colonização moldou uma sociedade exploradora, egoísta e violenta, que formou seu alicerce em camadas, com estratos que historicamente se estabeleceram em posição de superioridade, seja por questão de gênero, raça ou classe social, criando rótulos, estigmatizando e subjugando determinados grupos como inferiores e diferentes, criando um solo fértil para a violência”.
Se estiverem certos, os remédios para a nossa patologia social parecem ser velhos conhecidos nossos, fartamente aplicados com sucesso em outros países: democracia de fato, redução de desigualdades, educação, eficiência estatal e responsabilidade política.
Felipe Sampaio: cofundador do Centro Soberania e Clima; chefiou a assessoria dos ministros da Defesa e da Segurança Pública; foi secretário-executivo de Segurança Urbana do Recife; ex-diretor do SINESP no ministério da Justiça.
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