São Paulo — Após uma jornalista negra ser acusada de furtar um restaurante em uma unidade da Drogasil em Santos, no litoral de São Paulo, a rede de farmácias teria orientado seus funcionários a não acusar clientes suspeitos de furtar o estabelecimento, mesmo que durante um flagrante. Fontes que trabalham na empresa revelaram as novas orientações ao Metrópoles.
Uma funcionária de uma Drogasil do interior de São Paulo disse à reportagem que o gerente da unidade onde trabalha realizou uma reunião com a equipe nesta semana.
O principal assunto da reunião, segundo a mulher, foi a abordagem diante de suspeitas de furto. A principal indicação era não fazer acusações, mesmo que flagrasse a pessoa pegando algum produto.
“As justificativas para adoção desse comportamento, segundo meu gerente, envolviam a reação da pessoa ao constrangimento, pois diante de uma intimidação, ela pode comprar o produto que foi acusada de furtar e processar a empresa pelo dano moral, causando um prejuízo maior”, disse.
A funcionária disse ainda que reconhece que essas abordagens por vezes envolvem casos de racismo. No entanto, a palavra racismo não foi citada em nenhum momento na reunião. “Mas foi destacada a possível revolta do cliente diante do constrangimento”, acrescentou.
Ela revelou ainda que os funcionários da rede receberam orientações sobre como fazer declarações à imprensa em relação a eventuais ocorrências que pudessem envolver a loja e a imagem da Drogasil.
As orientações foram dadas depois que um funcionário do estado da Bahia surtou no horário de trabalho e o vídeo viralizou nas redes sociais.
Outra funcionária da rede, dessa vez de uma unidade na capital paulista, confirmou ter ocorrido uma reunião para debater a abordagem de clientes suspeitos de furto. O caso de Santos teria sido citado. “Caso achar [alguém furtando], não parar ninguém, deixar levar”, disse.
Segundo ela, todos os valores de saída (subtraídos em razão dos furtos) são descontados da participação de lucro dos funcionários. Apesar disso, a nova orientação seria chamar a polícia e não intervir em casos suspeitos.
“Chamamos [a polícia], mesmo não adiantando nada”, contou a funcionária ao Metrópoles.
A rede de farmácias Drogasil, por meio de assessoria de imprensa, não negou as novas orientações.
“A RD Saúde realiza constantes treinamentos para seu pessoal de atendimento de farmácia e informa que seus procedimentos refletem o compromisso do grupo com um ambiente de zero discriminação. A companhia desligou os funcionários envolvidos no episódio ocorrido nesta semana em uma farmácia Drogasil em Santos (SP)”, diz a nota.
Uma jornalista negra de 47 anos denunciou a rede de farmácias Drogasil por racismo após ser acusada de furto em uma unidade em Santos, no litoral de São Paulo, na última segunda-feira (21/10).
A mulher contou que foi até a farmácia procurar um desodorante específico para uma ação de marketing que está trabalhando.
Ao sair do estabelecimento, quando já estava na rua, a jornalista disse que foi abordada de forma truculenta por um segurança e pelo supervisor da loja. O segurança a acusou de furto, afirmando que ela roubou o desodorante em questão.
A jornalista detalhou que estava com roupa de academia, pois voltava de um treino, e uma pequena pochete onde cabe apenas o celular e o fone de ouvido. Apesar disso, os funcionários da Drogasil insistiram que ela estava com o produto.
O Procon-SP notificou a rede de farmácias para explicar o caso e a jornalista registrou um boletim de ocorrência. O caso foi registrado no 7º DP de Santos como preconceito de raça ou de cor. A mulher informou ao Metrópoles que pretende acionar a Justiça.
A Drogasil lamentou o ocorrido, se solidarizou com a cliente e demitiu os funcionários envolvidos.
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