São Paulo — O personal trainer que sofreu ataques racistas por meio de transferências de Pix de R$ 0,01 afirmou ao Metrópoles que chegou a receber, em um único dia, 200 mensagens feitas a partir das transações bancárias pela empresária Lilian Mohamad Etiê, de 35 anos.
Além das injúrias raciais, como “macaco”, “orangotango” e “gorila”, a investigada também chamou o personal de pessoa de “baixa renda” e “pobre”. Dona de uma loja de acessórios de celulares na capital paulista, Lilian foi procurada pelo Metrópoles nos últimos dois dias, mas não se manifestou. O espaço segue aberto.
“Já teve dia de eu ganhar R$ 2,00 e ser R$ 0,01 cada depósito. Ela mandou 200 mensagens falando diversas coisas”, afirma o personal.
O Metrópoles apurou que Lilian, após a repercussão do caso, foi impedida de entrar na academia onde o personal trabalha, nessa terça-feira (18/6), no centro de São Paulo. Ela frequentou o local até segunda-feira (17/6), quando ainda enviou uma mensagem de teor racista ao professor, segundo ele.
O profissional registrou um boletim de ocorrência de racismo, na semana passada, e o caso é investigado pela Polícia Civil da capital paulista. A motivação para o registro do caso surgiu após o personal assistir à séria “Bebê Rena“, da Netflix, que conta a história real de um comediante que vive uma experiência angustiante com uma stalker.
Tudo começou quando o personal e Lilian marcaram um encontro pela internet no início do ano. Ela é aluna na academia onde ele dá aula. Ambos, porém, frequentavam o local em horários diferentes. “Nós nos encontramos, ficamos, trocamos contato, conversamos por mensagens, e começamos e nos ver, sem compromisso, aos fins de semana”, relatou ele.
O personal afirmou que o “rolo” entre eles durou cerca de dois meses. Após esse período, Lilian teria comentado ter sido internada duas vezes em clínicas de reabilitação. Uma delas, de acordo com o professor, teria sido motivada por suposta perseguição. “Eu nem sabia que existia internação por causa de comportamento desse jeito. Fiquei surpreso”.
A revelação deixou o rapaz inseguro e ele decidiu encerrar os encontros esporádicos com a empresária, “para evitar problemas futuros”.
“Ela conversava numa boa, não mostrava essa psicopatia toda”. Após interromper os encontros esporádicos, o professor afirmou que sua vida “virou um caos“.
A série Bebê Rena, que encorajou o personal a procurar a polícia, conta a história do comediante Richard Gadd, que vive uma experiência angustiante com uma stalker. Na vida real, durante seis anos, ele recebeu mais de 41 mil e-mails, 350 horas de mensagens de voz, além de 744 tweets, da pessoa que o perseguia.
De origem inglesa, a palavra stalker foi usada por séculos para designar o caçador que persegue sua presa, ou seja, um animal selvagem. O termo mudou de uso na década de 1990, quando tabloides nos Estados Unidos começaram a usá-lo para designar fãs obcecados por celebridades.
O comportamento virou tema de estudo, também na década de 1990, para classificar, na esfera criminal, homens que perseguem suas ex-companheiras de forma obsessiva, após o término de relacionamentos.
Desde 2021, “stalkear” uma pessoa passou a ser considerado crime no Brasil, por meio da Lei 14.132, que alterou o Código Penal.
A lei afirma ser crime perseguir reiteradamente alguém, por qualquer meio, ameaçando a vítima, a integridade física e psicológica dela, restringindo-lhe a capacidade de locomoção e invadindo ou perturbando sua liberdade ou privacidade.
Antes de 2021, perseguir alguém era considerado uma contravenção penal, com pena de 15 dias a dois meses de prisão e multa.
Ao se tornar crime, quem pratica stalking pode ser condenado de seis meses a dois anos de prisão. A pena pode dobrar quando a vítima é criança, adolescente, idoso ou mulher.
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