São Paulo — Indiciado pela Polícia Federal (PF), o padre José Eduardo de Oliveira e Silva, de 43 anos, nega ter participado de reunião em 2022 para tratar de um golpe de Estado. Procurado pelo Metrópoles, por meio de representante jurídico, o religioso garante que não conhece “quase ninguém” dos envolvidos no episódio de 8 de janeiro de 2023.
O clérigo foi uma das 37 pessoas listadas, com Jair Bolsonaro (PL) incluso, no inquérito que apura uma para evitar a posse do presidente Lula no atual mandato. Em fevereiro deste ano, o pároco de Osasco, na Grande São Paulo, foi alvo de operação deflagrada para cumprir mandados de busca e apreensão.
Representante de José Eduardo, o advogado Miguel Vidigal disse que o padre vai a Brasília periodicamente, desde 2013, para prestar “atendimentos espirituais” a diversas pessoas que o chamam. “Já fez para políticos de várias colorações políticas”, assegura.
“Nunca foi a qualquer acampamento, não conhece quase ninguém dos envolvidos neste inquérito. É tudo muito surreal”, reclama Vidigal. “É um absurdo que, dentro de um Estado de Direito, o sigilo processual seja rompido de forma tão escancarada e todo mundo ache normal.”
Neste mês, José Eduardo lamentou a intimação da Polícia Federal para prestar depoimento. Em relação ao inquérito, o investigado vê a divulgação da lista de indiciados como um “abuso”. “São os mesmos investigadores que não se furtaram em romper a Lei e tratado internacional ao vasculhar conversas e direções espirituais realizadas pelo padre que possuem garantia de sigilo”, alega a equipe de defesa.
Atualmente, José Eduardo está proibido de manter contato com os demais investigados e de deixar o país. Influenciador digital, o religioso tem cerca de 425 mil seguidores no Instagram. Nas eleições presidenciais, ele posicionou uma bandeira do Brasil no altar da Paróquia São Domingos, em Osasco. Além disso, o pároco fez publicações antifeministas, fundou a escola Maria Mater e vende cursos.
Nas redes sociais, o religioso publicou uma imagem de uma bandeira do Brasil cobrindo o altar da paróquia, em 2 de outubro de 2022, dia da votação do primeiro turno das eleições presidenciais. Já em 8 de janeiro, dia da tentativa de golpe em Brasília, ele contou nas redes sociais a história bíblica de Absalão, filho do rei Davi que morreu em uma rebelião contra o próprio pai.
Na decisão que autorizou a operação de busca e apreensão, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse que o clérigo integrava o “núcleo jurídico” do suposto grupo golpista.
“Como apontado pela autoridade policial, José Eduardo possui um site com seu nome no qual foi possível verificar diversos vínculos com pessoas e empresas já investigados em inquéritos correlacionados à produção e divulgação de notícias falsas’”, diz a decisão de Moraes.
De acordo com a PF, o padre integrou uma reunião no dia 19 de novembro de 2022, no Palácio do Planalto, para tratar do plano golpista. Ao Metrópoles, nesta quinta-feira (21/11), a defesa de José Eduardo negou a participação do cliente.
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