São Paulo — Em novembro de 2021, o criminoso Marcelo Carames, conhecido como “Mau”, assumiu a administração da “rede hoteleira” do Primeiro Comando da Capital (PCC) usada como depósito temporário e escoadouro das drogas vendidas na Cracolândia, no centro de São Paulo.
Ele é dono de ao menos quatro hotéis na região, segundo investigações da Polícia Civil. “Mau” tem como braço direito Adilson Gomes da Silva, o “Deco”, também dono de uma hospedaria e apontado como o principal “disciplina” da facção na região. Ambos estão foragidos.
A dupla ocupa por ora o topo da hierarquia do crime organizado na Cracolândia, de acordo com organograma da Polícia Civil, desenvolvido a partir de investigações do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc). Eles são ajudados pelas esposas, que também não foram presas na megaoperação deflagrada nessa quinta-feira (13/6). A defesa dos casais não foi localizada. O espaço segue aberto para manifestações.
Os hotéis e pensões ligados ao PCC, e controlados pela dupla, foram alvos de 140 mandados de busca e apreensão cumpridos na capital paulista nessa quinta. Ao todo, 20 suspeitos foram presos, dos quais 15 em flagrante.
Antes de “Mau”, as hospedarias da facção foram administradas por Fabiana Regina de Souza, de 49 anos, entre 2016 e 2017.
O fluxo de dependentes químicos do centro, na ocasião, ficava concentrada em uma região específica do centro da capital paulista, conhecido como “quadrilátero da Cracolândia” cujo epicentro ficava no cruzamento da Rua Helvetia com a Alameda Dino Bueno.
Fabiana perdeu o cargo em decorrência de sua prisão. Ela é investigada em oito inquéritos policiais por tráfico de drogas na região.
Seu posto foi ocupado pela irmã, Selma Aparecida de Souza, presa também pelos mesmos motivos que Fabiana. Ela foi sucedida por Mau. Selma é investigada em dez inquéritos por tráfico da drogas, ainda na Cracolândia.
As investigações do Denarc mostram que Mau teria coordenado a migração do fluxo de usuários de drogas, em março de 2022, ou seja, cerca de dois meses após assumir a liderança da Cracolândia, para a Praça Princesa Isabel.
Nas proximidades da praça ele comprou novas hospedarias, pelo fato de os hotéis herdados de Selma, na Alameda Dino Bueno e Largo Coração de Jesus, ainda no quadrilátero da Cracolândia, terem sido lacrados em uma ação conjunta entre a polícia e a Prefeitura de São Paulo. O criminoso estava sempre acompanhado da esposa, Marilene Borges Coelho.
Mau foi escolhido como novo chefão da área, pela facção, por conhecer o fluxo e deter todo o “know how” para operar os empreendimentos da organização criminosa.
Adilson Gomes da Silva, o “Deco”, é apontado pela Polícia Civil como o número dois do PCC na administração da Cracolândia, atuando como homem de confiança de Mau.
Ele é dono de uma hospedaria, na Alameda Barão de Piracicaba, conhecido por usuários de droga como “hotel do PCC”. Ele é casado com Paula Pereira Rocha, que também ajudaria, segundo a polícia, na administração dos imóveis usados pela facção.
Deco dividia as atribuições de “disciplina” na região juntamente com Sidney “Zen”, até que este foi preso. Os disciplinas do PCC são responsáveis por dirimir conflitos e aplicar punições a membros da facção, ou ainda contra quem descumpra as regras de conduta impostas pelo crime organizado.
As punições são deliberadas nos “tribunais do crime“, realizados nas dependências do hotel de Deco, ou em um estacionamento ao lado da hospedaria dele, que é administrado pela esposa, segundo as investigações do Denarc.
Como mostrado pelo Metrópoles, em um desses “julgamentos”, um usuário de crack foi condenado a morte por um furto, mas teve a “sentença” convertida para internação compulsória por intervenção de Paula, a mulher de Deco.
O alto escalão do PCC na região segue foragido, longe da estrutura da qual é responsável e usada para abastecer o tráfico de drogas na Cracolândia.
A Polícia Civil deflagrou, na manhã desta quinta-feira (13/6), uma megaoperação na região da Cracolândia com o objetivo de desmantelar hotéis e pensões usados pelo PCC para operar o tráfico de drogas local. Os estabelecimentos também são usados para a realização dos “tribunais do crime”.
Investigações do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) mostram que a Cracolândia se mantém, apesar de um longo histórico de investidas policiais e de outros órgãos do poder público, em decorrência dessa “rede hoteleira”, chamada de hospedarias pela polícia, que são usadas como depósito de drogas da facção.
Do total de 140 mandados de busca e apreensão expedidos pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), a pedido da Polícia Civil, 90 miram os hotéis e pensões que ficam no entorno do fluxo de usuários de drogas.
As cargas de entorpecentes, segundo a investigação, são escondidas de forma fragmentada em quartos de difícil localização e, em alguns casos, clandestinos.
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