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Fogo em savanas do Cerrado aumenta mais de 220% só no mês de agosto

De acordo com o Monitor do Fogo, iniciativa da rede MapBiomas, coordenada pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), as savanas do Cerrado registraram um aumento de 221% nas áreas queimadas em agosto de 2024. Os dados, que comparam o mesmo período do ano passado, foram divulgados nesta quinta-feira (18/9).

Somente no último mês de agosto, foram queimados 1.239.324 hectares, mais que o dobro do tamanho do Distrito Federal (DF), contra 386.404 hectares em agosto de 2023.

A vegetação destruída é típica e composta por árvores, arbustos e gramíneas, e ocupa 41,7% de tudo o que queimou no Cerrado nos primeiros oito meses do ano.

Conforme o levantamento, os municípios com maior área queimada no bioma foram Barra do Garças (MT), com 102.328 ha, Nova Nazaré (MT), com 93.043 ha, e Lagoa da Confusão (TO), com 90.263 ha.

Ainda de acordo com o relatório do Ipam, os estados de Mato Grosso e Tocantins foram os mais afetados pelas queimadas em agosto de 2024. Nos dois estados também se destacam os municípios de Campinápolis (83.364 ha), Formoso do Araguaia (86.439 ha) e Pium (62.116 ha).

Essas áreas estão localizadas próximas à transição com a Amazônia e fazem parte da fronteira agrícola do Matopiba, uma das regiões de expansão agropecuária no Brasil.

Além das queimadas nas savanas e florestas, os campos alagados do Cerrado também sofreram com o fogo. Essas áreas, que são sazonalmente alagadas durante a estação chuvosa, registraram um aumento de 68% na área queimada em agosto de 2024.

Embora naturalmente úmidas, essas regiões acumulam grande quantidade de material combustível durante o período de chuvas, o que, combinado com a seca de agosto, torna-as mais suscetíveis aos incêndios.

“Se não controlarmos os incêndios e o desmatamento do Cerrado, não vai ter mais água saindo da torneira na casa da maior parte dos brasileiros. É por isso que a campanha ‘Cerrado, Coração das Águas’, lançada em 11 de setembro, Dia Nacional do Cerrado, tem como foco a questão hídrica: para que todos saibam como o Cerrado é essencial para nossas vidas”, afirmou Yuri Salmona, diretor executivo do Instituto Cerrados, ao g1.

Berço das águas

O Cerrado é responsável por abrigar nascentes de oito das 12 principais bacias hidrográficas do país. Aquíferos importantes, como o Guarani, que se estende por várias regiões, também dependem da preservação do Cerrado para manter o equilíbrio hídrico.

O bioma é o segundo maior do país em extensão, superado apenas pela Floresta Amazônica. Sua área cobre estados como Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, sul do Mato Grosso, oeste de Minas Gerais, Distrito Federal, oeste da Bahia, sul do Maranhão, oeste do Piauí e partes de São Paulo, além de fragmentos no Paraná e na Amazônia.

Ainda segundo os dados do Monitor do Fogo, embora as savanas tenham sido as áreas mais atingidas até agora, o maior aumento percentual nas queimadas foi registrado nas formações florestais do Cerrado.

Em agosto de 2024, houve um crescimento de 410% nas áreas florestais atingidas pelo fogo, com 96.533 hectares queimados, em comparação com 18.910 hectares no mesmo mês de 2023.

“Ainda que a área queimada em florestas do Cerrado seja menor do que a área queimada em savanas, chama a atenção este número que foge à dinâmica comumente observada no bioma”, diz Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam.

“O aumento do fogo nas formações florestais é algo novo e que pode estar relacionado à intensificação das mudanças climáticas e ao desmatamento, que fragilizam estas áreas e aumentam sua vulnerabilidade ao fogo”, complementa.

Fogo mais frequente

O monitoramento do Ipam também mostra que o fogo no Cerrado está cada vez mais frequente e intenso, atingindo não apenas áreas naturais, mas também regiões agrícolas.

Em agosto de 2024, as áreas agropecuárias registraram um aumento de 219% nas queimadas, com 440.843 hectares destruídos pelo fogo, em comparação com 138.274 hectares no mesmo mês do ano anterior.

No mesmo mês, a área total queimada no Cerrado foi 95% maior do que a média na comparação com os últimos cinco anos, com 2.445.683 hectares destruídos.

Este foi o agosto com a maior área queimada desde o início do monitoramento do projeto (2.445.683 hectares), o que coincide com o auge da estação seca na região, quando as condições climáticas favorecem a propagação dos incêndios, principalmente os causados pela ação humana. Em agosto do último ano 881.899 hectares foram queimados.

“O Cerrado é um bioma que evoluiu com a ocorrência de fogo de forma natural, mas é importante lembrar que este fogo natural só ocorre na época chuvosa, por meio de raios, então é bastante raro. Na seca, o fator humano é o principal responsável pelos incêndios no bioma. É preciso criar mecanismos para que a gente possa manter este bioma vivo, seja com a redução do uso do fogo e o manejo desta ferramenta, seja com a criação de áreas protegidas”, pontua Alencar.

Dióxido de carbono

O desmatamento do Cerrado também resultou na emissão de mais de 135 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) entre janeiro de 2023 e julho de 2024, aponta um relatório divulgado nesta semana pelo SAD Cerrado, sistema de alerta desenvolvido pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

Esse volume de emissões é 1,5 vez maior que o total gerado anualmente pela indústria no Brasil.

Atualmente, ao todo, o Brasil emite cerca de 2,3 bilhões de toneladas de gases, sendo o sexto maior emissor global. Somente de junho a agosto de 2024, as queimadas recordes na Amazônia resultaram em 31 milhões de toneladas de CO2, como mostrou outro levantamento.

As savanas, que cobrem grande parte do Cerrado com árvores retorcidas e arbustos, foram responsáveis por 65% das emissões relacionadas ao desmatamento, somando 88 milhões de toneladas de CO2.

Esse tipo de vegetação é predominante no bioma, ocupando 62% da área remanescente, o que explica sua contribuição para as emissões.

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