‘Cada vez que olho o caderno dela ou vejo ela debruçada sobre a mesa refazendo cada página dói na alma’, diz Samara. Em comunicado às famílias, a escola Vera Cruz admite a violência racial e diz que aplicou sanções contra as estudantes. A atriz Samara Felippo
Carla Meneghini/G1
A filha mais velha da atriz Samara Felippo foi vítima de racismo na escola de alto padrão Vera Cruz, na Zona Oeste de São Paulo, na segunda-feira (22).
Segundo Samara e o colégio, duas alunas do 9° ano pegaram o caderno de estudos do meio da filha da atriz, que é negra, arrancaram as folhas, e escreveram uma ofensa de cunho racial em uma das páginas. Na sequência, o caderno foi devolvido aos achados e perdidos.
“Todas as páginas, de um trabalho de pesquisa, elaborado, caprichado, valendo nota, feito por ela, foram arrancadas violentamente e dentro do caderno havia a frase racista. O caderno já está em minhas mãos e um novo caderno já foi dado a minha filha”, relatou Samara em uma carta a um grupo de pais da escola.
O g1 procurou o Colégio Vera Cruz por e-mail neste sábado (27), mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem. A atriz diz ter registrado boletim de ocorrência.
“Ainda estou digerindo tudo e talvez nunca consiga, cada vez que olho o caderno dela ou vejo ela debruçada sobre a mesa refazendo cada página dói na alma. Choro. É um choro muito doído. Mas agora estou chorando de indignação também”, completa.
De acordo com comunicado da escola enviado às famílias e obtido pelo g1, ao recuperar o caderno e se deparar com o que tinham feito com ele, a aluna procurou a professora e a orientadora da série.
“Imediatamente foram realizadas ações de acolhimento à aluna, de comunicação a todos os alunos da série, bem como a suas famílias. Desde o primeiro momento, mantivemos contato constante com a família da aluna vítima dessa agressão racista, assim como permanecemos atentos para que ela não fique demasiadamente exposta e seja vítima de novas agressões. Na circular enviada a todas as famílias no mesmo dia, solicitamos que todos conversassem com seus filhos sobre o ocorrido, e na terça-feira, dia 23 de abril, duas alunas do 9º ano e suas famílias compareceram à Escola, responsabilizando-se pelos atos”, diz carta do colégio.
Em todo o comunicado, a escola trata o caso como “violência racista” ou “agressão racista”.
“Nos dias seguintes, outras ações foram empreendidas, sempre no sentido de acolher a aluna que foi vítima dessa agressão, bem como no sentido de garantir que as alunas agressoras entendessem a dimensão do que haviam feito. Comunicamo-nos permanentemente com todos eles – alunas e seus familiares -, informando o passo-a-passo da apuração, das sanções e suas repercussões. Na última quarta-feira, depois de amplo e intenso processo de apuração, foi possível promover um encontro entre as três alunas com mediação da Escola”, diz o comunicado.
Segundo o Vera Cruz, as alunas foram convocadas para devolver as folhas arrancadas do caderno e para serem informadas oficialmente sobre as sanções que seriam aplicadas.
“As sanções envolvem a proibição da participação delas na viagem de Estudo do Meio na Serra da Canastra e uma suspensão por tempo indeterminado, iniciada na própria quinta-feira. A suspensão se encerrará quando entendermos que concluímos nossas reflexões sobre sanções e reparações, que ainda seguimos fazendo – fato também comunicado a todas as famílias diretamente envolvidas. Ressaltamos que outras medidas punitivas poderão ser tomadas, se assim julgarmos necessárias após nosso intenso debate educacional, considerando também o combate inequívoco ao racismo”, diz o comunicado.
Samara diz na carta encaminhada aos outros pais e ao g1 que pediu a expulsão das duas alunas e que considerou a escola “omissa”.
“Sim, pedi expulsão das alunas acusadas pois não vejo outra alternativa para um crime previsto em lei e que a escola insiste relativizar. Fora segurança e saúde mental da minha filha e de outros alunos negros e atípicos se elas continuarem frequentando escola. Não é um caso isolado, que isso fique claro.”
“Depois de três reuniões feitas com a escola, vejo uma escola que se diz antirracista, comprometida com políticas afirmativas, que visam trazer urgência e ensinamento sobre o tema em questão para os nossos filhos, OMISSA. E quem vai acabar sendo expulsa será a vítima. Isso é certo? Fico pensando. Aqui, como a maioria é branca, muitas vezes não estamos aptos a reconhecer as violências que o racismo propaga na vida das pessoas”, desabafou.
Ao g1, a atriz conta que a raiva passou, mas que ainda quer a expulsão das adolescentes porque não sente segurança da filha ocupar o mesmo espaço.
“Eu passei semana inteira digerindo, como eu disse ali no texto exatamente. Agora, já passou, né? Com raiva, eu não tô com ódio de ninguém. Eu sinceramente quero que as pessoas envolvidas, agressoras, né, que são meninas de 15, idade da minha filha, se reabilitem mesmo. Eu quero bem delas, eu não quero mal de ninguém. Eu só quero que não convivam no mesmo espaço, onde poderão futuramente humilhar novamente e ofender e cometer outros atos de racismo contra ela. Eu não sinto segurança. Você entende? Por isso que eu peço a expulsão.”
Samara diz que o racismo se “materializou” na frente da filha, de seu relacionamento com o ex-jogador de basquete Leandrinho Barbosa, que já passou por situações anteriores, mas antes não queria enxergar.
“Doía ver, só queria fazer parte de uma turma e era excluída de trabalhos, grupos, passeios, aceitava qualquer migalha e deboche feito pelas mesmas garotas, e seu nome sempre era jogado em fofocas, ‘disse me disse” e culpada por atos que não cometia. Lembrando do caso do carregador que sumiu numa festa e a única acusada foi ela. [Não atribuo aqui esse caso às atuais agressoras.]
A atriz diz que ainda não definiu se vai tirar as filhas da escola.
“Não decidi se eu vou tirar, se eu vou deixar, eu estava com muito medo de isso vazar, eu não botei, inclusive, na mídia, porque eu não queria expor a escola das meninas, porque eu ainda não tinha decidido se elas saíam ou não. Estou esperando ter a esperança ainda, se a escola se reposiciona, que outras medidas que eles vão tomar, além dessa suspensão, que elas vão voltar como se nada tivesse acontecido e uma proibição de viagem”.
A atriz quer propor uma reflexão do que realmente é uma escola antirracista de qualidade.
“Tudo fica muito na teoria, no discurso, na palestra, entende? O que realmente é, o que é 50 a 50? Porque assim, tem algumas coisas na escola que eu não concordo, inclusive eu expus tudo que é uma política de cotas que eles adotam que é só até o quinto ano, então um adolescente negro que vá pra uma escola no sétimo, no oitavo, no nono ano, não vai se sentir representado, vai ser um ambiente hostil, majoritariamente branco, o que que é, pagar o transporte das pessoas, dos bolsistas, entende? Eu quero levantar um debate do tipo assim, o que que é a qualidade de uma escola antirracista? Porque essas meninas estudam desde sempre, no Vera, e cometem um tipo de ato como esse, então não tá fazendo efeito, você não tá fazendo efeito que tá sendo, como é que se fala, ai meu Deus, aplicado na escola como políticas antirracistas, tem que refazer, tem que repensar, tem que fazer mais”, disse.
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