A engenharia criminosa integrada por laranjas, empresas de fachada e uma intensa lavagem de dinheiro, sempre liderada pelo empresário Ronaldo de Oliveira (foto em destaque), incluiu até o filho dele, de apenas 3 anos, na época dos crimes. A informação consta na investigação no âmbito da Operação Old West, deflagrada pela 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia).
Levantamentos feitos pela investigação mostraram que a criança tinha uma conta corrente em seu nome e movimentou, entre agosto e outubro de 2019, pouco mais de R$ 1,5 milhão. A movimentação da conta em nome do menor era composta por recebimentos e envios de valores, em rápido trânsito, por meio de depósitos em
dinheiro, transferências eletrônicas e pagamentos
Por se tratar de menor de idade, o nome do menino será preservado. O montante milionário creditado em nome do caçula do empresário ocorreu por meio de 20 transferências eletrônicas da conta da empresa Oliveira Transporte e Turismo. Outra parte do dinheiro teve como origem depósitos feitos por Paulo Victor Viegas de Oliveira, outro filho de Ronaldo.
Saques
A polícia também identificou sete saques em espécie realizados por Soraya Gomes da Cunha, companheira de Ronaldo, que somaram R$ 739 mil. A criança, que atualmente tem 8 anos, nasceu em 30 de junho de 2015, e a conta foi aberta em 26 de junho de 2018, ou seja, logo após a deflagração da Operação Trickster.
A investigação apontou que, após ser investigado e preso no âmbito da Operação Trickster, — que apurou um esquema criminoso no qual R$ 1 bilhão teria sido desviado por meio de fraudes no sistema de bilhetagem eletrônica do extinto Transporte Urbano do DF (DFTrans) — o empresário desenvolveu um esquema sofisticado para lavar mais de R$ 31 milhões.
Para tanto, o homem apontado como “dono de Brazlândia”, usou um supermercado funcionado sob outros CNPJs e contas poupança, sempre em nome de testas de ferro, para lavar centenas de milhares de reais. O estabelecimento, segundo a polícia, teria um dos filhos de Ronaldo de Oliveira figurando como proprietário.
O empresário teria usado empreendimento para ocultar a sua propriedade e dissimular valores faturados com estelionato contra a administração pública e de corrupção de agentes públicos. Segundo as investigações da 18ª DP, além de Ronaldo de Oliveira, a organização criminosa é integrada pela companheira do empresário, os filhos do casal, além de uma nora e uma cunhada de Oliveira.
Caminho do dinheiro
Antes da Operação Trickster, o bando comandado por Ronaldo de Oliveira mantinha os recursos financeiros nas contas de empresas geridas pelo grupo. Após a ação da PCDF, o caminho do dinheiro mudou e passou a “fazer curva” para driblar as autoridades.
Segundo as apurações, o fluxo do dinheiro inicia-se com o recebimento dos pagamentos nas contas empresariais, mas os valores são imediatamente lançados nas contas poupanças do grupo, via depósitos e transferências, muita vezes na boca do caixa.
Em seguida, ocorrem retiradas diárias de valores das contas poupanças abertas em nome dos filhos de Ronaldo e Soraya para repasse às contas das empresas, tudo visando evitar bloqueios judiciais. Algumas conta chegaram a receber depósitos superiores a R$ 1 milhão.
Foragido
Ronaldo de Oliveira chegou a ficar três anos foragido da Justiça do Distrito Federal e com mandado de prisão preventiva a ser cumprido, entre 2018 e 2021. Ele foi detido em 12 de abril de 2021 por policiais do Grupo de Patrulhamento Tático (GPT), na cidade goiana de Niquelândia.
Os policiais receberam informações de que o empresário circulava pelo povoado de Buriti Alto, próximo ao município de Mimoso, onde Oliveira seria dono de um posto de gasolina. O local, segundo os militares, era estratégico, pois facilitava uma possível fuga para diferentes unidades da Federação, como Bahia, Tocantins ou mesmo o DF.
Após uma série de buscas, os policiais localizaram uma caminhonete Hilux vermelha usada por Oliveira para circular pela região. Ele foi abordado pelos homens do GPT, que confirmaram o mandado de prisão em aberto por corrupção contra a administração pública e associação criminosa.
Pagamento de propina
Em abril de 2018, a prisão de Ronaldo e da companheira dele, Soraya, foi pedida pela polícia e concedida pela Justiça, após investigadores terem confirmado que o casal pagava propina para o então responsável pela unidade de controle de bilhetagem automática do DFTrans, Harumy Tomonori. Ele foi detido em 23 de março de 2018 em mais um desdobramento da Trickster.
Em depoimento, Harumy confessou que, mensalmente, recebia entre R$ 10 mil e R$ 15 mil a fim de agilizar processos, pagamentos e fazer vista grossa diante de irregularidades e fraudes cometidas pelas empresas de Ronaldo e Soraya.
Entre as falcatruas, estava o fato de as empresas descarregarem cartões estudantis de alunos do Entorno do DF como se fossem da rede pública de ensino do DF. Imagens flagraram Harumy deixando uma das empresas do casal com dinheiro pago em forma de propina. Durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, os agentes encontraram um envelope semelhante na casa de Harumy com cerca de R$ 12 mil.