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Como Bolsonaro conseguiu emplacar vice em SP que nenhum aliado queria

São Paulo — A indicação do coronel Ricardo Mello Araújo (PL) como vice na chapa do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), oficializada nessa sexta-feira (21/6), foi uma vitória pessoal do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) contra dirigentes de 12 partidos que formam o arco de aliança do emedebista, inclusive de sua própria legenda.

O ex-presidente indicou Mello para o posto ainda em janeiro deste ano ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), principal fiador da aliança entre Bolsonaro e Nunes. A indicação se deu um mês depois de uma negociação intermediada pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, na qual Bolsonaro disse que só apoiaria o prefeito se pudesse indicar o seu vice.

Mas o nome não foi bem recebido nem por Nunes, nem por Tarcísio nem por nenhum dos demais aliados paulistas,  que passaram a cogitar uma série de outros nomes na esperança de que poderiam fazer Bolsonaro mudar de ideia.

Mudanças de cenário

Há dois fins de semana, porém, depois de o coach e empresário Pablo Marçal (PRTB) se colocar na disputa, mirando os votos de bolsonaristas, o jogo mudou. Tarcísio jogou a toalha, cedeu ao ex-presidente e disse para Nunes aceitar Mello, mesmo com a evidente resistência de todos os aliados.

O nome favorito de Nunes, considerado sua escolha pessoal, era o ex-ministro Aldo Rebelo, que chegou a fazer uma foto com o ex-presidente. Mas Aldo recusou.

Tarcísio é considerado o mais provável herdeiro político de Bolsonaro para as eleições presidenciais de 2026, uma vez que o ex-presidente está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por abuso de poder na reunião em que tentou descreditar o processo eleitoral brasileiro para diplomatas estrangeiros, em 2022.

Caso queria entra na disputa, ele precisa manter o apoio do ex-presidente. Valdemar colocou para rodar nesta semana, em seu espaço publicitário partidário gratuito em rádio e TV, uma campanha em que diz que, caso Bolsonaro se mantenha inelegível, será ele quem indicará o candidato a presidente e o vice-presidente do partido na próxima disputa.

Tarcísio acata ordem

Tarcísio e Nunes jantaram juntos no dia 7, segundo o prefeito, e trataram do nome de Mello. O governador ainda tinha ressalvas na ocasião, segundo interlocutores do prefeito. No fim de semana, porém, Bolsonaro e Tarcísio conversaram e o ex-presidente reiterou sua opção e ainda citou as pesquisas que traziam Marçal bem colocado. Tarcísio entendeu a missão.

Na segunda-feira (10/6), o colunista do Metrópoles Igor Gadelha publicou que o governador seguiria o presidente e indicaria Mello a Nunes. Ao longo do dia, questionado por jornalistas, ele confirmou as informações.

Nunes, porém, só encontrou o governador novamente na noite de segunda. “Eu tenho um monte de jornalista me mandando mensagem, o que você falou?”, disse Nunes ao governador, segundo relato feito pelo prefeito.

O prefeito, até o momento, vinha dizendo que o assunto não era urgente e repetia que ele mesmo só foi indicado para vice de Bruno Covas (morto em 2021), para as eleições de 2020, na convenção do seu partido, em julho.

Por isso, ele tentou ensaiar um movimento de construção democrática nome de Mello. “Imposição, não aceitaria de ninguém”, disse, afirmando que o indicado seria resultado de uma construção entre os partidos.

Almoço para aceitar indicação

Diante da confirmação pública de que Tarcísio indicaria Mello, o prefeito chamou o governador para discutir ao tema em um almoço na Prefeitura, na sexta-feira seguinte (14/6). Tarcísio optou por levar o próprio Bolsonaro e o coronel Mello para o encontro. Àquela altura, aliados do prefeito diziam que já não havia como mudar a indicação.

Embora Mello seja um ex-comandante da Rota, Bolsonaro indicou na reunião o caminho que Nunes passou a seguir para tornar o nome mais palatável ao eleitorado: ressaltar seu trabalho à frente da Companha de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), que seus aliados afirma ter sido “moralizada” sob sua gestão. Bolsonaro saiu do almoço dizendo que o Nunes e Mello estavam em “noivado”.

Convencendo aliados

Depois desse acordo, coube a Nunes e Tarcísio aparar as arestas restantes, aí sem envolvimento de Bolsonaro. Enquanto  presidente do PP, Ciro Nogueira, deu aval ao coronel, o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União), que vinha buscando formas de emplacar um nome de sua preferência à vice, fez críticas públicas à indicação.

Tarcísio ofereceu um jantar para os aliados na quinta-feira (19/6), no Palácio dos Bandeirantes, com a expectativa de convencer a todos de que a decisão de Bolsonaro estava tomada e não haveria volta. Era seu aniversário de 49 anos. Mas Leite faltou à festa. No dia seguinte, Nunes estava na porta da casa do vereador antes das 8h para resolver o tema. O presidente nacional do União, Antonio Rueda, também foi ao café da manhã, convidado por Leite. O acordo foi enfim selado.

A resistência de Leite fez ele terminar o processo com uma garantia, do partido de Bolsonaro, de que o PL vai apoiar a candidatura um nome do União para a presidência da Câmara no mandato que vem. Leite vem dizendo que irá se aposentar. Ele comanda a Câmara há quatro anos.

Integrantes de alguns dos partidos da base de Nunes ouvidos pelo Metrópoles, contudo, torcem para que a vitória de Bolsonaro seja temporária, uma vez que há expectativa de que insatisfeitos com a indicação de Mello ainda tentem “fritá-lo” até 15 de agosto, prazo final para a oficialização da candidatura, e trocar o coronel por outro nome.

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