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Como a inteligência artificial pode viciar

Pesquisadores alertam que as pessoas estão criando laços afetivos com artefatos tecnológicos. Na semana passada, o jornal norte-americano “The New York Times” abordou a questão da preocupação crescente dos países de ficarem para trás (e se tornarem reféns) da inteligência artificial. O senso de urgência se justifica. A IA deve remodelar a economia, automatizando atividades hoje realizadas por trabalhadores; acelerar pesquisas científicas; e até mudar estratégias de guerra. Sem falar nos golpes que pode criar, como os vídeos falsos de Elon Musk e outros bilionários que rodam por aí convidando os incautos a investir em negócios que não existem.
Pesquisadores alertam: as pessoas vêm criando laços afetivos com sistemas de inteligência artificial
Karolina Grabowska para Pixabay
Em 2022, quando o Chat GPT foi lançado, a proposta original era de que as ferramentas de IA aumentariam a produtividade e os ganhos econômicos. Dois anos depois, o cenário idealizado não se materializou, mas as pessoas têm utilizado a inteligência artificial com um propósito um tanto inesperado: elas vêm se relacionando com a tecnologia como se aquele artefato fosse amigo, mentor, terapeuta, professor – inclusive namorado, com direito a envolvimento afetivo!
Em artigo publicado no começo do mês na revista “MIT Technolgy Review”, Robert Mahari e Pat Pataranutporn, pesquisadores do Laboratório de Mídia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT Media Lab), afirmam que a análise de um milhão de interações de logs com o ChatCPT mostra que o segundo uso mais frequente da IA é para fins sexuais. Em primeiro lugar, disparado, é utilizada para escrever textos.
Para os dois, devemos nos preparar para o que chamam de “inteligência viciante”. Laços afetivos com máquinas deixaram de ser mera hipótese. Em maio, escrevi coluna sobre a criação de avatares de pessoas mortas, que podem dialogar com seus parentes em luto. Durante um teste realizado na empresa OpenAI, criadora do ChatGPT, foi observado que os usuários tinham estabelecido uma ligação com os modelos de IA, dizendo frases como: “hoje é nosso último dia juntos”.
Mahari e Pataranutporn alertam para a falta de interesse dos legisladores sobre o assunto, talvez por não terem a dimensão do que virá por aí. Lembram que, enquanto redes como o TikTok ainda demandam humanos, a inteligência artificial generativa tem a capacidade de produzir conteúdo ininterruptamente – e sob medida para nossas preferências. Com companhia tão envolvente e acolhedora, será cada vez mais difícil querer interagir com nossos semelhantes, já que, em relacionamentos com gente de carne e osso, nem sempre nossos desejos são atendidos.
Veja também:
Inteligência artificial: entenda o que está por vir com as novas interações com as máquinas
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