A divulgação da carta pró-democracia na Venezuela, assinada por 30 ex-presidentes de 12 países da América Latina e da Espanha, na segunda-feira (05/08), foi recebida com indiferença pelo governo Lula (PT). Pior, o presidente sentiu-se “provocado” pela mensagem, que exigia uma postura mais firme em relação à contestada reeleição de Nicolás Maduro.
Segundo assessores próximos a Lula, o presidente tem demonstrado ao mundo desde 2003 seu compromisso com a democracia, e que sua dedicação a esses valores “já foi testada” em diversas ocasiões. A avaliação do governo brasileiro é que os ex-líderes não compreenderam corretamente a atuação do Brasil na crise venezuelana.
Lula, que está em visita ao Chile, só deve se pronunciar sobre o assunto após retornar ao Brasil, na quarta-feira (07). A estratégia do governo brasileiro envolve manter Maduro na “geladeira”, esperando que o presidente reeleito da Venezuela cumpra a promessa de divulgar todas as atas eleitorais que supostamente comprovariam sua vitória nas eleições presidenciais.
A carta dos 30 ex-presidentes de 13 países pede que Lula reafirme “seu inquestionável compromisso com a democracia e a liberdade” no Brasil e adote uma postura similar em relação à Venezuela. Entre os signatários, estão figuras de destaque na política latino-americana, como Iván Duque, ex-presidente da Colômbia, Carlos Mesa, ex-presidente da Bolívia, e Mauricio Macri, ex-presidente da Argentina.
Leia a íntegra da carta e os signatários:
“Os ex-Chefes de Estado e de Governo que subscrevem esta mensagem, membros da Iniciativa Democrática da Espanha e das Américas (IDEA), exortamos a Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República Federativa do Brasil, a reafirmar seu inquestionável compromisso com a democracia e a liberdade, as mesmas de que gozam seu povo, e a fazê-la prevalecer também na Venezuela. A evidente usurpação da soberania popular que Nicolás Maduro Moros realizou, em conluio com os poderes do Estado que estão a seu serviço e sob seu controle, é feita com desprezo pela verdade eleitoral para se perpetuar no exercício do poder e afirmá-lo por meio de uma política de Estado repressiva e de violação generalizada e sistemática dos direitos humanos dos venezuelanos. O que está acontecendo é um escândalo. Todos os governos americanos e europeus sabem disso. Admitir tal precedente ferirá mortalmente os esforços que continuam a ser feitos com tanto sacrifício nas Américas para defender a tríade da democracia, do Estado e dos direitos humanos. Não exigimos nada diferente do que o próprio presidente Lula da Silva preserva em seu país. Esta mensagem que estamos enviando, em essência, nos coloca como porta-vozes dos sentimentos da maioria decisiva dos venezuelanos que hoje veem seus compatriotas, que lutaram ao seu lado, sofrendo prisões, torturas, desaparecimentos e até mesmo a perda da vida. Eles estão protestando em defesa de seu voto, estão resistindo pacificamente, guiados por María Corina Machado e por quem, como demonstram os relatórios eleitorais que são de conhecimento público e foram coletados pelas testemunhas na seção eleitoral, foi eleito presidente, Edmundo González Urrutia. A Venezuela tem o direito de fazer uma transição para a democracia.”
Mario Abdo, Paraguai
Óscar Arias S., Costa Rica
José María Aznar, Espanha
Nicolás Ardito Barletta, Panamá
Felipe Calderón, México
Rafael Ángel Calderón, Costa Rica
Laura Chinchilla, Costa Rica
Alfredo Cristiani, El Salvador
Iván Duque M., Colômbia
José María Figueres, Costa Rica
Vicente Fox, México
Federico Franco, Paraguai
Eduardo Frei Ruiz-Tagle, Chile
Osvaldo Hurtado, Equador
Luis Alberto Lacalle H., Uruguai
Guillermo Lasso, Equador
Mauricio Macri, Argentina
Jamil Mahuad, Equador
Hipólito Mejía, República Dominicana
Carlos Mesa G., Bolívia
Lenin Moreno, Equador
Mireya Moscoso, Panamá
Andrés Pastrana, Colômbia
Ernesto Pérez Balladares, Panamá
Jorge Tuto Quiroga, Bolívia
Mariano Rajoy, Espanha
Miguel Ángel Rodríguez, Costa Rica
Luis Guillermo Solís R., Costa Rica
Álvaro Uribe V., Colômbia
Juan Carlos Wasmosy, Paraguai.
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