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CNI faz alerta sobre crise no crédito e o fim da deflação chinesa

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) publicou nesta quinta-feira (12/9) uma nota alertando para os efeitos da crise de crédito no Brasil e o impacto do fim da deflação chinesa. Segundo a nota, “esse cenário impede o avanço de projetos cruciais para o desenvolvimento econômico do país, afetando especialmente o setor industrial, onde cadeias produtivas mais longas sofrem com o acúmulo de custos financeiros ao longo das etapas produtivas”. 

Considerando a inflação acumulada nos últimos 12 meses, a CNI estima que a taxa básica de juros de equilíbrio deveria estar em 7,95% ao ano, o que colocaria a Selic 2,55 pontos percentuais acima do nível necessário para conter a inflação e evitar prejuízo ao crescimento econômico.

Segundo o documento, se o cenário permanecer inalterado, o Brasil vai observar um encarecimento do produto final, comprometendo a competitividade brasileira. Para a instituição, o elevado custo do crédito no Brasil é, em grande parte, consequência de uma taxa básica de juros real muito alta, agravada por um spread bancário expressivo. 

Com a Selic fixada em 10,5% ao ano e a inflação esperada de 3,83% nos próximos 12 meses, a taxa de juros real brasileira alcança 6,42%, “significativamente superior à taxa de juros neutra estimada pelo Banco Central, de 4,75%. Isso demonstra que o país adota uma política monetária contracionista, que já se estende desde fevereiro de 2022, impactando o crescimento econômico. Cada ponto percentual a mais na Selic representa cerca de R$ 40 bilhões por ano em despesas com juros.

“Não há mais espaço para novos aumentos da Selic. Com os sinais de desaceleração da inflação e o cenário global de cortes nas taxas de juros, o Brasil deve aproveitar o momento para reduzir a Selic. A manutenção de uma política monetária tão conservadora coloca o país em uma posição desfavorável na competitividade global e penaliza o crescimento econômico”, destaca o presidente da CNI, Ricardo Alban. 

O Brasil ocupa a terceira posição mundial em termos de juros reais, atrás apenas de Turquia (12% a.a.) e Rússia (7,55% a.a.). Esse cenário contrasta fortemente com a realidade de outros países em desenvolvimento, como África do Sul, Índia e China, que possuem taxas de juros reais consideravelmente mais baixas (3,89% a.a., 2,16% a.a. e 1.15% a.a., respectivamente).

Deflação chinesa

Para 2024, a China estabeleceu uma meta de crescimento real de 5% para o Produto Interno Bruto (PIB). No entanto, pressões deflacionárias têm dificultado o crescimento nominal, que registrou 4% no segundo trimestre em comparação ao mesmo período do ano anterior. Essas pressões também estão afetando os lucros corporativos, resultando em cortes de salários e demissões.

O índice de preços ao produtor do país está em território deflacionário há 23 meses consecutivos, com uma queda anual de 1,8% em agosto, conforme divulgado na segunda-feira (9/9).

A nota da confederação reforça que o Brasil tem mantido sua taxa de juros elevada mesmo em um contexto global que se beneficia da deflação exportada pela China, impulsionada pelos baixos custos de produção e elevados subsídios governamentais.

Estimativas indicam que, em 2019, o governo chinês destinou 221,3 bilhões de euros (1,73% do PIB) em subsídios ao setor produtivo, o que manteve os preços das exportações chinesas baixos, pressionando a inflação mundial para baixo, inclusive no Brasil.

No entanto, essa dinâmica pode estar próxima de uma mudança. Com o aumento do protecionismo em várias economias e a possibilidade de a China enfrentar restrições fiscais, o efeito deflacionário dos produtos chineses pode diminuir ou até desaparecer. “Se isso ocorrer, o Brasil deverá estar preparado para enfrentar um cenário de inflação crescente, o que pode resultar em novas elevações na taxa de juros”, reforça a CNI.

Selic acima do necessário

Além de elevada em comparação com outros países, a Selic atual é considerada excessiva até mesmo para as condições internas. Mesmo ao considerar a expectativa de inflação, a taxa de juros de equilíbrio seria de 9,70% ao ano, ainda assim abaixo dos 10,5% praticados atualmente. 

Com a tendência global de redução das taxas de juros, o Brasil corre o risco de se distanciar ainda mais do cenário internacional se mantiver a Selic nos patamares atuais. Países como China, México, Reino Unido e Canadá reduziram suas taxas básicas. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve sinaliza uma possível redução na taxa de juros.

Na avaliação da CNI, essa é uma “oportunidade para o Brasil diminuir sua Selic sem reduzir o diferencial de juros em relação às economias mais avançadas. Esse movimento poderia aliviar a pressão sobre o câmbio e, consequentemente, sobre a inflação”.

A redução dos juros em economias desenvolvidas aumenta a liquidez global, com investidores buscando maior rentabilidade em mercados emergentes. Essa é uma janela de oportunidade que o Brasil deve aproveitar para atrair investimentos produtivos e modernizar seu parque industrial.

Esses investimentos serão cruciais para que o país esteja preparado para o fim da “exportação de deflação” pela China. Quando essa dinâmica terminar, o Brasil precisará de uma estrutura produtiva mais robusta para suprir a demanda atualmente atendida pelos produtos chineses, tanto no mercado interno quanto nas exportações.

“A sincronia entre a política fiscal, com os cortes de despesas anunciados pelo governo, e a política monetária pode criar as condições necessárias para uma redução mais acentuada dos juros no curto prazo, posicionando o Brasil de forma mais estratégica no cenário internacional e promovendo o crescimento sustentável”, conclui o presidente Alban.

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