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Cartinhas ao Papai Noel: mesmo com oferta de aplicativos e redes sociais, tradição se mantém viva há 200 anos

Para especialistas, prática é importante para desenvolver a escrita, e além disso, o mágico, o lúdico e o criativo devem ser estimulados, principalmente, nesta data. Luisa, de 6 anos, tem ajuda da mamãe Priscilla Freitas, para escrever cartas ao Papai Noel
Toda vez que o Natal se aproxima, Carolina Lorenti de Castro, de 10 anos, tira da gaveta as canetinhas mais coloridas que tem e coloca a cabeça para funcionar para escrever uma cartinha ainda melhor do que o ano anterior para o Papai Noel.
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Para chamar a atenção no meio de tantas outras que o bom velhinho deve receber, a menina faz até capa e enche o papel de desenhos e mensagens carinhosas.
“Pro Papai Noel, é um presente especial pra ele. Eu sempre faço uma capa pra minha cartinha, porque como ele recebe várias cartas, eu gosto de fazer algo diferente pra destacar”.
Carolina Lorenti de Castro, de Ribeirão Preto, gosta de decorar cartinhas de Natal
A tática, ela aprendeu com a mãe, a influenciadora Marina Lorenti de Castro, de Ribeirão Preto (SP).
“Na minha infância, eu sempre escrevi carta para o Papai Noel. Ficava imaginando como seria a entrega dos presentes, como ele viria, se era com as renas, onde ele morava. Sempre gostei de enfeitar as cartas, desenhava, fazia algo mágico mesmo, como se fosse meu presente pra ele. E é impressionante, porque eu vejo isso hoje nos meus filhos. Eles também fazem nesse formato, desenham”, diz Marina.
Carolina Lorenti de Castro, de 10 anos, caprichou na cartinha ao Papai Noel em Ribeirão Preto, SP
Marina Lorenti de Castro/Arquivo pessoal
A tradição que mãe e filha mantém todos os anos é comum na maioria dos lares mundo afora e é mais antiga do que muita gente imagina.
De acordo com o cronista Alexandre Azevedo, autor de livros infantis, a prática de enviar cartas com pedidos ao Papai Noel vem do século 19 e, muito provavelmente, começou na Alemanha.
“As crianças escreviam para os pais, pedindo presentes e agradecendo a eles pelo cuidado, carinho e educação. A tradição ficou conhecida por ‘Pai Natal’ e as cartas eram colocadas em agências de correio para dar mais veracidade ao evento. Logo após, as cartas passaram a ser endereçadas a Jesus Cristo e São Nicolau. Aos poucos, a tradição foi se espalhando pelos outros países europeus até chegar ao Brasil”.
Tradição de escrever cartinhas ao Papai Noel tem mais de 200 anos e, provavelmente, começou na Alemanha
Flávia Santucci/g1
Mais de 200 anos se passaram desde as primeiras cartinhas enviadas e o que chama a atenção aqui é que, apesar da grande oferta de aplicativos e acesso, muitas vezes irrestrito, às redes sociais nos dias de hoje, o Papai Noel continua recebendo mensagens e mais mensagens escritas à mão.
Priscilla de Fátima Freitas sabe de toda a tecnologia que a filha Luisa, de 6 anos, tem em mãos. Mas faz questão de incentivar a menina a pegar papel e caneta para a escrever cartinhas todo Natal.
“Eu sempre gostei muito de escrever cartinha. Escrevia para o Coelhinho da Páscoa, para o Papai Noel, e sempre incentivei minha filha, porque acho muito importante pra ela. Atiço bastante a criatividade dela”.
Como ainda está em fase de alfabetização, Luisa, que é apaixonada pelo Natal, costuma desenhar os presentes que deseja ganhar e neste ano não foi diferente. Ela quer uma boneca e contou com a ajuda da mãe para fazer o pedido.
Luisa e a mãe, Priscilla Fátima de Freitas, escrevem juntas cartinhas para o Papai Noel em Ribeirão Preto, SP
Flávia Santucci/g1
Na Casa do Papai Noel, localizada no Centro de Ribeirão Preto, pelo menos 30 novas cartas são recebidas todos os dias. E a Mamãe Noel, Ivani Pereira dos Santos, garante que uma a uma, todas são lidas.
“Se a criança desenhou, se a criança simplesmente deu ‘Feliz Natal pra você também, Papai Noel’, que é muito interessante quando elas escrevem isso, a gente lê tudo. A maioria dos pedidos vem do coração. Pra gente, receber e ler essas cartinhas é muito emocionante”.
Papai Noel e Mamãe Noel leem todas as cartinhas que chegam em Ribeirão Preto, SP
Para Vitor Azambuja, especialista em educação, a magia que envolve a data é o que faz com que a tradição não desapareça ao longo dos anos.
“É, mais do que tudo, um momento mágico e único na época do Natal. Por mais que a tecnologia esteja impregnada em nossa rotina, a criançada não deixa de lado uma brincadeira lúdica e mágica. A criança gosta de desenhar e isso é um passo importante para a escrita. Estimular isso fará toda a diferença, assim como estimular o mágico, o lúdico e o criativo nessa data”.
Casa do Papai Noel da Acirp, em Ribeirão Preto (SP), tem cartinhas recebidas nos últimos 25 anos
Flávia Santucci/g1
Incentivo à escrita é importante para o desenvolvimento
Para a psicopedagoga Gabriela Kogachi, a escrita estimula não só a imaginação, como também a capacidade de criar narrativas. Ter ao alcance materiais que despertem a vontade de escrever, como papel, lápis e canetas coloridas, mostra à criança um mundo de possibilidades.
“A escrita permite que a criança expresse sentimentos e pensamentos, ajudando no desenvolvimento emocional e social, e promove a ampliação do vocabulário e a consolidação de regras gramaticais e ortográficas”.
Segundo Gabriela, com tanta tecnologia disponível atualmente, pais e responsáveis precisam incentivar ainda mais as crianças a pegarem no papel.
“A tecnologia como ferramenta de consumo, é a maior vilã na aprendizagem das crianças, pois suprime de seu desenvolvimento cognitivo e social inúmeras possibilidades de aprendizagem, com o uso da língua materna. A exposição constante a conteúdos rápidos e dinâmicos pode diminuir a capacidade de concentração, reduz o tempo de leitura e escrita, significa menos tempo para atividades que desenvolvem habilidades linguísticas”.
Em um shopping na zona Sul de Ribeirão Preto, uma oficina ajuda meninos e meninas a desenvolver a criatividade, personalizando cada cartinha. A ação recebe mais de 100 crianças por dia e vai até o dia 24 de dezembro.
Shopping Iguatemi, em Ribeirão Preto (SP), tem oficina de cartinhas para o Papai Noel
Divulgação
Para a professora Márcia Neves, especialista em alfabetização e letramento, independentemente dos aplicativos e tantas outras informações as quais as crianças têm acesso, a escrita deve ser a maior de todas as tecnologias.
“O desenvolvimento da escrita na criança começa muito antes do primeiro contato com a escola, pois os pais assumem papel crucial nesse processo e são os primeiros incentivadores. É necessário reconhecer a escrita, majoritariamente, como a maior de todas as tecnologias, sendo necessária para a relação com qualquer outra”.
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