Em seu último mês de governo, o então presidente Jair Bolsonaro negou um pedido para substituir o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, que se mostrava contra um golpe de Estado. A solicitação foi feita pelo secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, general Mario Fernandes, preso nesta terça-feira (19/11) no âmbito da Operação Contragolpe, da Polícia Federal (PF).
O diálogo aconteceu no dia 8 de dezembro de 2022. No dia 10, em conversa com Marcelo Câmara, assessor especial de Bolsonaro, o general relatou o pedido demonstrando insatisfação com a resistência de Nogueira em avançar com o plano para impedir a posse de Lula.
“Cara, eu tô aloprando por aqui. E eu queria que tu reforçasse também, pô, eu falei com o [capitão Sérgio Rocha] Cordeiro [assessor de Bolsonaro] ontem, falei com o presidente. Porra, cara, eu tava pensando aqui, sugeri o presidente até, porra, ele pensar em mudar de novo o MD [ministro da Defesa], porra. Bota de novo o general Braga Netto lá. General Braga Netto tá indignado, porra, ele vai ter um apoio mais efetivo. Reestrutura de novo, porra”, contou Fernandes.
O general, então, relata a resposta de Bolsonaro: “Ah, não, porra, aí vão alegar que eu tô mudando isso pra dar um golpe”. Fernandes prossegue o diálogo com Marcelo Câmara: “Porra, negão. Qualquer solução, Caveira [apelido de Marcelo Câmara], tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, né? Sem quebrar cristais. Então, meu amigo, parti pra cima, apoio popular é o que não falta”.
As mensagens foram encontradas pela PF nos equipamentos eletrônicos apreendidos com Mario Fernandes em fevereiro deste ano, durante a operação Tempus Veritatis, que investigou aliados de Bolsonaro envolvidos no planejamento do golpe de Estado. Na conversa, o oficial fala sobre a alternativa de provar uma suposta fraude nas urnas eletrônicas.
“Nós fomos com o [general Rodrigo] Vergara [então assessor do Ministério da Defesa], fizemos aquela entrevista com o garoto [hacker que supostamente teria conhecimento para invadir as urnas], tá? O Vergara, a posição dele foi que foram importantes dados passados por ali que finalmente alguém mostrou uma porta de entrada, né? É o jeito do Vergara. Não tem aquela empolgação toda. Foi semana passada. Tava em cima do fechamento do relatório, né? Então a gente sabia que não ia refletir diretamente no relatório”, disse Fernandes.
“Eu forcei a barra e aí nós pedimos pro garoto, e ele prometeu fazer até o final dessa semana um protótipo do código que ele teria feito lá atrás, quando ele foi demandado pelos representantes dos partidos políticos, né? Que diz ele que ele colocou na nuvem quando os caras baixaram o código dele, certo? O código malicioso, ele teria deletado.”
“Ele disse que até o final da semana ia preparar um, pra que o MD, com o seu pessoal técnico, pudesse preparar um bot, ou seja, uma ferramenta de busca. Com o código dele, é uma ferramenta de busca por semelhança, né? E aí faz um bot, faz uma varredura no código-fonte do sistema eleitoral, pra ver se encontra alguma linha, dentre aquelas milhões de linhas, semelhante às linhas do código dele. E aí nós estamos nessa”, contou.
Além de Mario Fernandes, a Operação Contragolpe prendeu o tenente-coronel Helio Ferreira Lima, o major Rodrigo Bezerra Azevedo, o major Rafael Martins de Oliveira e o policial federal Wladimir Matos Soares. Os mandados de prisão e busca e apreensão foram cumpridos no Rio de Janeiro, Goiás, Amazonas e Distrito Federal.
Os militares presos fazem parte dos chamados “kids pretos”, termo utilizado como apelido para se referir aos militares da ativa ou não que se especializam em operações especiais do Exército, com foco nas ações de sabotagem e incentivo em revoltas populares ou “insurgência popular”. Eles são acusados de planejar os assassinatos do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes (STF).
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