As fake-news são repugnáveis, pois difamam as pessoas e situações, e desinformam a população, havendo a necessidade de seu impedimento e de legislação forte, que criminalize os autores, no Brasil e no mundo. Mas as sociedades, embora haja certamente a necessidade da criminalização, já se habituaram a criar critérios de avaliação e antídotos para a preservação do meio político, econômico e social. Com o evento da internet, as sociedades se tornaram rápidas, assim como as suas respostas.
Quando se inventa uma nova mídia, boa parte das pessoas tende a superestimar o seu valor, e a considerar ser a nova mídia substituta da anterior. Assim foi com o cinema, que para muitos poderia vir a eliminar o teatro, o que não ocorreu. O mesmo ocorreu com a criação da TV em relação à Rádio. E agora, com a internet, como se ela pudesse vir a ser a substituta de todas as mídias. Ela é muito importante, mas somente parte de nossas sociedades atuais.
Interessante observar que, já na Pesquisa Nacional da Sensus nas Eleições Presidenciais de 2018, constatou-se que a importância das redes sociais na definição do voto, naquele momento, estava superdimensionada. A pesquisa indicou, à época, que somente 14% do eleitorado escolheu o seu candidato através das redes sociais. Desses 14%, 2/3 eram Bolsonaro e 1/3 Haddad, em voto já consolidado. Em verdade, os participantes das redes sociais ficam auto replicando suas ideologias sem a geração de novos votos, com posições pré-definidas, redundantes do que já se pensa. E assim tem sido ao longo das pesquisas verificadas pela Sensus.
Alguém pode indicar onde as fake-news foram determinantes nas eleições municipais deste ano? E na eleição de Lula em 2022? E na eleição de Bolsonaro em 2018? Bolsonaro costumava atribuir à internet o determinante de sua votação. Em verdade, Bolsonaro foi eleito como terceira via devido à então falência do PT e do PSDB. E Lula foi eleito devido ao baixo desempenho econômico do governo Bolsonaro e erros no Covid, Lula com o lastro de seu recall dos governos anteriores. E assim têm sido as eleições.
Os grupos que acreditam, obstinadamente, em fake-news, acreditam nelas mais pela sua já predisposição política a estes argumentos do que por outros motivos. Marçal ganhou de Boulos no 1º turno das eleições municipais de São Paulo deste ano por causa da, escabrosa, e repugnável, fake-news que lançou no ar?
A informação é, sem dúvidas, muito importante, não somente nas eleições como em nossas vidas. Mas a internet é parte do mundo, boa e ruim, como assim é o mundo, inserida em nosso mundo.
No final, sobra a avaliação das administrações, as expectativas, e a ideologia, como decisão política do voto.
Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus
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