Muita gente acreditou, e ainda faz questão de acreditar, que Pablo Marçal (PRTB) poderá vir a ser um bom prefeito para a mais populosa cidade da América Latina. Por que não? São Paulo pede um prefeito antissistema, que seja contra tudo “o que está aí”, adepto de inovações e ousado o suficiente para implantá-las.
Quem disse que São Paulo pede um prefeito com tal perfil? Quem disse que Marçal é antissistema? E quem disse que ele é adepto de inovações e ousado o suficiente para pô-las em prática? Ora, é Marçal quem diz tudo isso, embora só da boca para fora. E como ele diz muito bem, de novo: muita gente faz questão de acreditar.
No debate promovido pelo SBT, ontem, o que se viu em cena foi outro Marçal, um Marçal manso, que não insultou seus adversários, que não defendeu ideias inexequíveis e que se comportou de modo civilizado; a coisa mais próxima do que seria um Marçal quase paz e amor. Irreconhecível, pois.
Reapresentou-se dessa vez como “um chefe de família” que “ama as pessoas”, e fez questão de pedir desculpas a quem tenha ofendido. Justificou-se:
“As pessoas querem saber a sua pior versão e a sua melhor. A minha pior eu já mostrei nos debates. A partir de agora, você vai ver alguém que tem postura de governante”.
É verdade que aproveitou a ocasião para mencionar que recebeu uma carta de Donald Trump a propósito da cadeirada que ele levou de José Luiz Datena, o candidato do inexpressivo PSDB, partido que ainda insiste em respirar por meio de aparelhos. Negou-se, porém, a divulgar a carta – certamente mais uma fake news.
Mal seis horas haviam se passado desde o fim do debate, começou a circular um vídeo, gravado durante um jantar dele com apoiadores, onde Marçal admite que o uso da ambulância que o transportou para o Hospital Sírio-Libanês após a cadeirada não foi por necessidade e teve como objetivo único “fazer uma cena”:
“Não precisava daquela ambulância. Eles queriam fazer uma cena. Dava para ir correndo para o hospital, tranquilo. Dava, não era insuportável. Só que aqui está o segredo: cadeirada é o de menos para o que a gente está sofrendo com esses caras. Eu tomo mais dez dessa por semana se for o caso, mas não arrego”.
Na ambulância, com a sirene ligada para dar a impressão de que era um caso de urgência, Marçal usou uma máscara de oxigênio que ele mesmo segurava. Os exames realizados no hospital indicaram “traumatismo na região do tórax à direita e em punho direito, sem maiores complicações associadas”.
Quanto à cadeirada propriamente dita, Marçal comenta no vídeo:
“Para quem não é bobo aqui, eu dava conta de segurar aquela cadeira, dava conta de agredir aquele cara. Dava conta de tudo. Mas eu fiz questão de levar, para sentir mesmo, de verdade. Esse período não é período de proposta. Aprenda a jogar. Esse é um período para mostrar quem as pessoas são”.
Datena mostrou que é capaz de ser violento quando se descontrola; Marçal, que é um farsante, mentiroso, e que apela a qualquer recurso quando seus interesses estão em jogo. O que agora está em jogo é estancar a sangria de votos que ele aparentemente sofreu e que foi detectada pelas mais recentes pesquisas eleitorais.
A pesquisa Datafolha fechada na última quinta-feira (19) registra que a rejeição a Marçal é a maior de todos os candidatos a prefeito de São Paulo (47%), e que a taxa cresceu com mais intensidade entre as mulheres e os mais pobres. As chances de Marçal ir para o segundo turno só fazem decair. Daí o Marçal bonzinho do SBT.